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Letras

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DONA DE 7 COLINAS

Alceu Valença

Ela é dona de 7 colinas
Debruçadas na beira do mar
Transparente, solar, cristalina
Feminina, muito mais que linda

Caeté, lusitana, guerreira
Tem no peito o fogo da paixão
Preguiçosa, morena, faceira
Ela é dona do meu coração

Seu estilo discreto e elegante
Se transforma e no Carnaval
É cigana, boneca-gigante, sensual

Quantos becos, esquinas, ladeiras,
Quantas ruas a se percorrer
Nós brincamos até quarta

 

DEPOIS DO AMOR

Alceu Valença

Uma moça que se perdeu no mato
Sente o cheiro de um caçador no ar
Tão bonita, linda e nua no riacho
Um rapaz que não quer se mostrar

Um cavalo nervoso, insatisfeito,
Uma égua selvagem, um animal
Um mergulho de um corpo perfeito
Um aquário, um leito nupcial

E depois do amor nada restou
Não sobrou sequer uma palavra
Nada, nada, nada, nada, nada, nada

DE JANEIRO A JANEIRO

Alceu Valença

Pra começar
Eu vou te amar o ano inteiro
De Janeiro a Janeiro
Meu amor, sem atropelo
E seguiremos
Caminhando sobre os dias
Carnaval vem chegando
Vamos cair na folia

Apronte a sua fantasia
Que eu afino o meu pandeiro
Vamos brincar todo dia
Em Olinda no Bloco do Beijo
No recife na beira do cais
Nos entregar ao desejo
De Janeiro a Janeiro, sem atropelo.

DOLLY, DOLLY

Alceu Valença

Corra, ponha os pés nessa estrada
Que não vai dar em nada
Que adianta fingir
Seja tola, mal educada
Uma pessoa gelada
Ovelha Dolly, Dolly

Corra, ponha os pés nessa estrada
Que não vai dar em nada
Que adianta fingir
Seja tola, mal educada
Uma pessoa clonada
Ovelha Dolly, Dolly

Andar, andar, fugir assim
Andar, andar, volta pra mim

Seja boba, bem debochada
Diga que chegamos ao fim
Fale que vai bem, muito amada
E vive um conto de fadas
Nem se lembra mais de mim

Andar, andar, fugir assim
Andar, andar, volta pra mim

 

DANÇA DAS BORBOLETAS 

Alceu Valença/Zé Ramalho 

As borboletas estão voando 
A dança louca das borboletas 
As borboletas estão girando 
Estão virando sua cabeça 
As borboletas estão invadindo 
Os apartamentos, cinemas e bares 
Esgotos e rios e lagos e mares 
Em um rodopio de arrepiar 
Derrubam janelas e portas de vidro 
Escadas rolantes e das chaminés 
Mergulham e giram num véu de fumaça 
E é como um arco-íris no centro do céu 
 

DIA DE CÃO 

Vicente Barreto/Alceu Valença 

Quando eu me vi perdido 
Meu peito gemedor 
Bateu, gemeu ferido 
Sofrido, doído, desenganou 
Chorei na beira 
Do mais cruel precipício 
Olha, pelo visto 
Eu ia me acabar 
Mas você ia passando 
Estendeu a sua mão 
Pelas ruas de São Paulo 
Você foi meu agasalho 
Naquele dia de cão 

DESCIDA DA LADEIRA 

(Alceu Valença) 

Eu só acredito  
Em vento que 
Assanha cabeleira 
Quebra portas e vidraças 
E derruba prateleiras 
Se fizer um assobio esquisito 
Na descida da ladeira 

Eu só acredito em chuva 
Se molhar minha cadeira 
De palhinha na varanda 
Minha espreguiçadeira 
Se fizer poça na rua 
Acredito nessa chuva de peneira 

Eu só acredito em lama 
Se for escorregadeira 
Como casca de banana tobogã 
De fim de feira 

Alceu Valença já não acredita 
Na força do vento 
Que sopra e não uiva 
Na água da chuva 
Que cai e não molha 
Já perdeu o medo de 
Escorregar 


 


DE CORPO INTEIRO (UM BERRO D'ÁGUA) 

Alceu Valença/Rubem Valença 

Sonhamos água 
Sonhos de peixe 
Pra me deixar assim 
Pra te deixar assim 
Pra nos deixar assim 
Depois com sede 
De corpo inteiro 
Um berro d'água, tantas 

Ruas desertas 
Velhas paredes 
Desenho um verso 
E um coração vermelho 
De corpo inteiro 
Um berro d água, tantas vezes 
 

DIABO LOURO

J.Michiles

Um diabo louro faiscou na minha frente
Com cara de gente, bonita demais
Chegou de bobeira fazendo zoeira no meio da praça
Quebrando vidraças isso não se faz
Foi paranóico fantástico, mágico
Me fez sedento, atento, elástico,
Chegou rasgando pisando, chicletizando total
Que loura bonita fazendo o diabo no meu carnaval.

DENTE DE OCIDENTE 

Alceu Valença 

Essa espuma sobre a praia 
É um dente de ocidente 
É um dente, um osso, um dente 
Vomitado pelo mar 

Vem em ondas poluídas 
Vem em nome da moral 
Vem na crista dessa onda 
A cultura ocidental 

E a espuma branca se lança 
Na força da preamar 
Em ondas curtas, notícias 
Na hora do meu jantar 

Vem nos mistérios da noite 
Na clara essência do dia 
Nos anúncios luminosos 
No vestido de Maria 
 

DIA BRANCO (DEUSA DA NOITE)

Alceu Valença 

Deusa da noite 
Sangrenta e fria 
Irmã da lua 
Mulher da noite e do dia 
Eu vim de longe 
Atrás da brisa 
Com sete pedras 
Bordei a minha camisa 
Pra ver a doida das lantejoulas 
Dos lábios verdes de purpurina 
Dançar na noite nos Quatro Cantos 
Com seu vestido de bailarina 
Fazer o riso, tremer o medo 
Fazer o medo, virar sorriso 
Fazer da noite dos Quatro Cantos 
Um dia branco feito domingo 

DIA BRANCO

Geraldo Azevedo/RenatoRocha 

Se você vier 
Pro que der e vier comigo 
Eu te prometo o sol 
Se hoje o sol sair 
Que a chuva 
Se a chuva cair 
Se você vier até onde a gente chegar 
Numa praça na beira do mar 
Pedaço de qualquer lugar 
Nesse dia branco 
Se branco ele for 
Esse tanto 
Esse canto de amor 
Se você quiser e vier 
Pro que der e vier comigo 

Esse tanto 
Esse tonto 
Esse tão grande amor 
Se você quiser e vier 
Pro que der e vier 
Pro que der e vier comigo
 

DESEJO 

Alceu Valença 

Te desejo 
Morena, eu te desejo 

Quando a vida inventou o desejo 
O desejo, num outro desejo, se transformou 
O desejo não pára, o desejo não cansa 
É o moto contínuo que a vida inventou 

O amor é movido a desejo. 
Essa vida cigana, o caminhador 
O desejo não pára, o desejo não cansa 
É o moto contínuo que a vida inventou 

DESPREZO 

Alceu Valença 

A todo inimigo da fauna, da flora 
Aquele que promove a poluição 
Aos donos do dinheiro, a quem nos devora 
Aos ratos e gatunos de toda nação 

Sim, vai pra toda essa gente ruim 
Meu desprezo, e será sempre assim 
Já não temos nenhuma ilusão 

Aos donos da verdade, pobres criaturas 
Aos pulhas e covardes sem opinião 
A todo populista, traidor do povo 
A todo demagogo, todo mau patrão 

Aos sete justiceiros do planeta Terra 
Os mesmos agiotas desse mundo cão 
Aos grandes predadores dessa nova era 
Vetores da miséria, eu lhes digo não 
 
 

DE ONDE VEM? 

Alceu Valença 

Salve a Nação Elefante 
Estrela Brilhante 
Piaba de Ouro 
Deus Salve os Caboclinhos 
Da Tribo dos Canidés 
De onde vem o "caboclo" 
Será africano, será caeté? 
Ôôôô, de onde vem essa dor? 
Meu coração de tambor 
Não sabe de onde vem 
Salve a Nação Elefante 
Estrela Brilhante 
Piaba de Ouro 
Maracatu Dona Santa 
De onde é que ele é? 
Quem sabe é o som de Luanda 
No bairro de São José...