EMBOLADA DO TEMPO
(Alceu Valença)
Você quer parar o tempo
E o tempo não tem parada
Você quer parar o tempo
O tempo não tem parada
Eu marco o tempo
Na base da embolada
Da rima bem ritmada
Do pandeiro e do ganzá
Você quer parar o tempo
E o tempo não tem parada
Você quer parar o tempo
O tempo não tem parada
O tempo em si
Não tem fim
Não tem começo
Mesmo pensado ao avesso
Não se pode mensurar
Você quer parar o tempo
E o tempo não tem parada
Você quer parar o tempo
O tempo não tem parada
Buraco negro
A existência do nada
Noves fora, nada, nada
Por isso nos causa medo
Tempo é segredo
Senhor de rugas e marcas
E das horas abstratas
Quando páro pra pensar
Você quer parar o tempo
E o tempo não tem parada
Você quer parar o tempo
O tempo não tem parada
EDIPIANA No. 1
Alceu Valença/Geraldo Azevedo
Mamãe,
Eu ontem passei mal
E me lembrei de você
Mamãe,
Eu me lembrei de você
E gritei: mamãe
E depois o silêncio e a calma
Tomaram minha cara
E eu me vi no espelho, mamãe
Ô mãe, meu cabelo avoou
Meu pensamento mudou
Minhas marcas digitais
Sei lá, sei lá, mãe
Não se avexe em perguntar
Se eu gosto de você
Mando um beijo pra você,
Mamãe
ESPELHO CRISTALINO
Alceu Valença - refrão: folclore alagoano
Essa rua sem céu, sem horizontes
Foi um rio de águas cristalinas
Serra verde molhada de neblina
Olho d'água sangrava numa fonte
Meu anel cravejado de brilhantes
São os olhos do capitão Corisco
E é a luz que incendeia meu ofício
Nessa selva de aço e de antenas
Beija-flor estou chorando suas penas
Derretidas na insensatez do asfalto
Mas
Eu tenho um espelho cristalino
Que uma baiana me mandou de Maceió
Ele tem uma luz que me alumia
Ao meio-dia clareia a luz do sol...
Que me dá o veneno da coragem
Pra girar nesse imenso carrossel
Flutuar e ser gás paralisante
E saber que a cidade é de papel
Ter a luz do passado e do presente
Viajar pelas veredas do céu
Pra colher três estrelas cintilantes
E pregar nas abas do meu chapéu
Vou clarear o negror do horizonte
É tão brilhante a pedra do meu anel
ESCORREGANDO NO PÍFANO
Alceu Valença/Zé da Flauta
"Eu sou o Véio quiabo
Camaleão das foiage
Carrego as moça no bolso
E as véia na pabulage"
(DP - texto de Pastoril)
Quando estou escorregando
No seu corpo gemedor
Fico todo lambuzado
Meu pife tem esse sabor de pecado
Escorregado lambuzado gemedor
Balança bole remexe gostoso
Meu jeito é manhoso de te assoprar
Balança bole remexe gostoso
Meu jeito é dengoso de te dedilhar
ESTAÇÃO DA LUZ
Alceu Valença
Lá vem chegando o verão
No trem da Estação da Luz
É um pintor passageiro
Colorindo o mundo inteiro
Derramando seus azuis
Lá vem chegando o verão
No trem da Estação da Luz
Com seu fogo de janeiro
Colorindo o mundo inteiro
Derramando seus azuis
Pintor chamado verão
Tão nobre é sua aquarela
Papoulas vermelhas
A rosa amarela
O verde dos mares
As cores da terra
Me faz bem moreno para os olhos dela
EROSÃO
Alceu Valença
Roendo as unhas, Amélia
Lutava no pensamento
Pensando fosse possível
Fazer o tempo parar
Num quarto escuro, fechada
Com a chave da virgindade
Fora, o vento rói os montes
Na cama da erosão
Quem foge porque é noite
Não vê o dia raiar
Por mais que fuja traz presa
A madrugada no calcanhar
O relógio dá alarme
Despertador de Amélia
Jura ao velho travesseiro
Seus ponteiros acertar
Roendo as unhas, Amélia
Roendo as unhas, Amélia
EU SOU VOCÊ
Alceu Valença
Mergulhei no mar azul
No vento avoei
Eu quis ser o sol
Pra entrar pela janela
Dos olhos de quem não vê
Que eu sou eu e sou fulano
Sou sicrano sou você
Eu sou você
Sustenta esse coro Eu sou você
No pé da garganta Eu sou você
A chuva chovendo Eu sou você
Poeira alevanta Eu sou
você
Um sopro na rua Eu sou você
Poeira levanta Eu
sou você
Sustenta a pisada Eu sou você
No pé da garganta Eu sou você
EMBOLADA
Alceu Valença
Canto só pra clarear
Meu argumento não é quente nem é frio
Não é cheio nem vazio
Eu canto só pra clarear
É pra te envenenar
O meu repente é brasileiro
E a pitada de estrangeiro
Eu boto pra te envenenar
Eu canto só pra clarear
EU
QUERO VER VOCÊ DIZER QUE EU SOU RUIM
Alcymar Monteiro/Alceu
Valença/Aracílio Araújo
Eu quero
ver você
dizer que
eu sou
ruim
Eu quero ver
quem vai lhe dar amor assim
Esfrio a água pra matar a sua sede
Eu armo a rede pra lhe dar um cafuné
Dou banho de cheiro dou
toalha e sabonete
E quero ouvir você dizer que bem me quer
E quero ver
você dizer
que eu
sou ruim
Eu quero ver
quem vai lhe dar amor assim
No seu cabelo faço um
lindo penteado
Depois um beijo nos seus lábios de carmim
Faço um carinho no seu corpo de pecado
E quero ver
você dizer
que eu
sou ruim
Eu quero ver
você dizer
que eu
sou ruim
Eu quero ver
quem vai lhe dar amor assim
De manhã cedo eu boto
você no colo
O dia inteiro seja o que Deus quizer
A noite toda tenho pra lhe dar amor
E quero ver
você dizer
que eu
sou ruim
EU TE AMO
Alceu Valença
Como quem vai ao
cinema eu te amo
Como quem sai da cadeia
Como quem planta um roçado eu te amo
Como quem volta da feira
Com toda a gula dos pobres
Eu te amo, te amo, te amo
Eu te amo, eu te amo
Como quem volta pro
ninho eu te amo
Meu xexéu-de-bananeira
Sou Menino
Passarinho eu te
amo
Como diz Luiz Vieira
Com toda a gula dos pobres
Eu te amo, te amo, te amo
Eu te amo, eu te amo
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