São João Barroco
(Geraldo Azevedo/Carlos
Fernando)
Eu tive um sonho
Com um anjo barroco
Foi um sonho curto
Trilhado entre o sim e o não
O anjo rebelde
Voou pro inferno
E eu para o céu
Do barroco São João
São João padroeiro
Das matas do Oxossi
São João dos carneiros
Menino dos olhos azuis
São João é a jóia
Do brilho primeiro
Nas glebas do reino
Da era cristã
O ouro do milho
Nas espigas douradas
Balões coloridos
O cinza do céu
Fogueiras acessas
Planeta de luz
São João me aqueça
Com a lã dos carneiros
Nos dias de junho
Da fria estação
Sétimo Céu
(Geraldo Azevedo/Fausto Nilo)
Eu e você
No mundo da lua de mel
Você e eu
Voando no sétimo céu
Dê que dê
A gente não quer mais parar
Aconteceu
E eu quero de novo
Quero você
Ainda que faça chorar
Quero você
Sorrindo querendo ficar
Da pra sentir
O teu coração bater no meu
Da pra saber
Aonde esse amor vai
Pois quem tem amor
Pode rir ou chorar
Semente de Adão
(Geraldo Azevedo/Carlos Fernando)
Eles pelos hinos cantaram cantaram
Entre jardins e bandeiras
E quase fome e sede passaram passaram
Do cais até o sertão
Na cidade e na roça
Dvivididos calados
Eles todos sonhos sonharam sonharam
Todos sonhos sonharão
Um o martelo batendo
O outro esperando chover
Sua filha a colher
A semente de Adão
Eles todos sonhos sonharam sonharam
Todos sonhos sonharão
Um a navalha na barba
O outro deixa o fio crescer
Pra seu filho aprender
Do repente soltar
Uma nova canção
Que fale do novo
No velho planeta
Sabor Colorido
(Geraldo Azevedo/ Capinam)
Mel, eu quero mel
Quero mel de toda flor
Da rosa rosa rosa amarela incarnada
Branca como um cravo, lírio e jasmim
Eu quero mel pra mim
Mel, você quer mel?
Quero mel de toda flor
Da margarida sempre viva viva
Gira gira girassol
Se te dou mel pode pintar perigo
E logo aqui no meu quintal
Cuidado pode pintar formiga, viu?
Mel, eu quero mel,
Quero mel de toda flor
Colorido sabor do mel de toda flor
Antes que um passarinho aventureiro
Que beija um beijo doce sabor
Sabor colorido
Mel, eu quero mel,
Quero mel de toda flor
Da assussena, violeta, flor de lís
Flor de Lótus, flor de cáctus
Flor do pé de buriti
Dália, papoula, crisântemo
Sonho maneiro, sereno, fulô de mandacarú
Fulô de marmeleiro, fulô de catingueira
Fulô de laranjeira, fulô de jatobá
Das imburanas, baraúnas, pé de cana,
Xique xique, mel de cana, cana do canavial
Vem de má um mel
Que eu quero lambuzar
Mel, eu quero mel,
Quero mel de toda flor
Colorido sabor do mel de toda flor
Antes que um passarinho aventureiro
Que beija um beijo doce sabor
Sabor colorido... Mel
Saga de Severinin
(Vital Farias)
Peço atenção dos senhores
Pra história que eu vou contar
Falo de Severinin lavrador tão popular
Que morava numa palhoça
E cultivava uma roça perto de Taperoá
E Severinin todo dia lavrava a terra macia
E terra lavrada é poesia
Mexe com a mão na terra
Sobe essa serra corta esse chão
Planta que a planta ponte
Por esses montes lã d'algodão
Severinin vivia até feliz
Enchendo os olhos com bem d'rais
E mesmo a plantação tava bonita em flor
E a seu lado sua companheira
Tinha o seu amor
Mas como diz o ditado e haverá de se esperar
Depois de tudo plantado
Fazendeiro pede pra Severinin desocupar
Já tinha até fruta madura
Jirimum enrramando no terreiro
E tinha até um passarinho
Que além de ser seu vizinho
Ficou muito companheiro
Chega tanta incerteza
A alma presa quer se soltar
Luta, luta sozinho
Qual o caminho de libertar
Severinin ficou sozinho e só
Ingratidão não pode suportar
Correu para o sul
Aí a construção se viu
De uma vez por todas
De uma vez por todas
Desabar.
Seis Horas
Alceu Valença
Toda manhã se acorda
Às seis horas
Às seis horas o sol batendo
Nos sobrados de Olinda
No alto do Empire States
Nas esquinas do Village
Nas águas de Três Marias
Nessa pia que não lava
O segredo de Pilatos
Mágico, prático
Magiprático
Prático, mágico
Pratimágico
Pragmático
E seu horário londrino
Às seis horas
Seu colarinho engomado
Às seis horas
Seu chá das cinco em ponto
Às seis horas
Na algibeira marcado
Às seis horas
Só lhe comove o futuro
Às seis horas
Se tudo for engrenado
Às seis horas
No seu sorriso portátil
Corresponde a mil horas
Às seis horas
Em qualquer fuso horário
Às seis horas matina no Rio de Janeiro
Às seis horas matina em São Bento do Una
Às seis horas matina em Amsterdã
Às seis horas matina em Petrolina
Às seis horas
78 Rotações
Alceu Valença/Geraldo Azevedo
Ela vinha numa manhã
Rachada
Pelo vento que soprou
De madrugada
No frio de uma manhã de maio
De franja na testa
Tentava esconder o pensamento
Que só pensava em mim
Ela pensava em nós
Meu cigarro clareando
A madrugada
Nosso quarto, nossa vida, nossa casa
Na beira do mangue
Na beira da lama
Na beira de Olinda
Eu nem me lembro da casinha
pequenina
Na beira do mangue
Na beira da lama
Na beira de Olinda
Perdida em 78 rotações...
Sexo XX
(Geraldo Azevedo/Renato Rocha)
É bom pra tudo
Bom pro corpo
Bom pra mente
É muito bom
Principalmente
Para o coração
Também faz bem
Com chuva ou sol
Frio ou calor
Pra qualquer um
De qualquer cor
Faz bem
Fazer
De vez em quando
Dia sim e dia não
Diariamente então
É muito bom
No litoral, no campo
No sertão
Em qualquer ponto
Qualquer posição
É bom, porém
Tem um porém
O sexo vinte
Ouvinte agora tem
Uma concreta
Contra-indicação
Mas fora isso
É muito bom
Sabiá
(Luís Gonzaga/ Zé Dantas)
A todo mundo eu dou psiu
Perguntando por meu bem
Tendo o coração vazio
Vivo assim a dar psiu
Sabiá vem cá também
Tu que andas pelo mundo
Tu que tanto já voou
Tu que cantas passarinho
Alivia minha dor
Tem pena d'eu
Diz por favor
Tu que cantas passarinho
Alivia a minha dor
Saga da Amazônia
(Vital Farias)
Era uma vez na AMAZÔNIA, a mais bonita floresta
Mata verde, céu azul, a mais imensa floresta
No fundo d'água as IARAS, caboclo
lendas e mágoas
E os rios puxando as águas
PAPAGAIOS, PERIQUITOS, cuidavam
das suas cores
Os peixes singrando os rios, Curumins
cheios de amores
Sorria o JURUPARI, URAPURU, seu porvir
Era: FAUNA, FLORA, FRUTOS E FLORES
Toda mata tem caipora para a mata vigiar
Veio CAIPORA de fora para a mata definhar
E trouxe DRAGÃO-DE-FERRO, prá comer muita madeira
E trouxe em estilo GIGANTE, prá acabar com a capoeira.
Fizeram logo o projeto sem ninguém testemunhar
Prá o DRAGÃO cortar madeira e toda mata derrubar:
Se a floresta meu amigo tivesse pé prá andar
Eu garanto meu amigo, com o perigo não tinha ficado lá.
O que se corta em segundos gasta tempo prá vingar
E o fruto que dá no cacho prá gente se alimentar??
Depois tem passarinho, tem o ninho, tem o ar
ICARAPÉ, rio abaixo, tem riacho e esse rio que é um mar.
Mas o DRAGÃO continua a floresta devorar
E quem habita essa mata prá onde vai se mudar??
Corre ÍNDIO, SERINGUEIRO, PREGUIÇA, TAMANDUÁ
TARTARUGA, pé ligeiro, corre-corre TRIBO DOS KAMAIURA
No lugar que havia mata, hoje há perseguição
Grileiro mata posseiro só prá lhe roubar seu chão
Castanheiro, seringueiro já viraram até peão
Afora os que já morreram como ave-de-arribação
Zé da Nana tá de prova, naquele lugar tem cova
Gente enterrada no chão:
Pois mataram ÍNDIO que matou grileiro que matou posseiro
Disse um castanheiro para um
seringueiro que um estrangeiro
ROUBOU SEU LUGAR
Foi então que um VIOLEIRO chegando na região
Ficou tão penalizado e escreveu essa CANÇÃO
E talvez, desesperado com tanta DEVASTAÇÃO
Pegou a primeira estrada sem rumo, sem direção
Com os olhos cheios de água, sumiu
levando essa mágoa Dentro do seu CORAÇÃO.
Aqui termina essa história para gente de valor
Prá gente que tem memória muito crença muito amor
Prá defender o que ainda resta sem rodeio, sem aresta
ERA UMA VEZ UMA FLORESTA NA LINHA DO EQUADOR.
Sete Cantigas Para Voar
(Vital Farias)
Cantiga de campo
De concentração
A gente bem sente
Com precisão
Mas recordo a tua imagem
Naquela viagem
Que eu fiz pro sertão
Eu que nasci na floresta
Canto e faço festa
No seu coração
Voa, voa, azulão...
Cantiga de roça
De um cego apaixonado
Cantiga de moça
Lé do cercado
Que canta a fauna e a flora
E ninguém ignora
Se ela quer brotar
Bota uma flor no cabelo
Com alegria e zelo
Para não secar
Voa, voa no ar...
Cantiga de ninar
A criança na rede
Mentira de água
É matar a sede:
Diz pra mãe que eu fui para o açude
Fui pescar um peixe
Isso eu num fui não
Tava era com um namorado
Pra alegria e festa
Do meu coração
Voa, voa, azulão...
Cantiga de índio
Que perdeu sua taba
No peito esse incêndio
Céu não se apaga
Deixe o índio no seu canto
Que eu canto um acalanto
Faço outra canção
Deixe o peixe, deixe o rio
Que o rio é um fio de inspiração
Voa, voa, azulão...
S.O.S Natureza
(Geraldo Azevedo/ Carlos Fernando)
Vamos plantar canções
Todas manhãs a cantar
Pelo fruto do ventre da terra
Nossa Senhora Mãe
Mãe da natureza a sangrar
S.O.S, senhores da terra
Alerta!
O verde ardendo
Os seres gemendo
Aflitos
Berrando de dor
S.O S, senhores da terra
O cravo agradece
A rosa merece
Esse vento futuro de luz
Mãe natureza é vida
Seu corpo é parte de nós
Só Porque
(G. Azevedo/ Pippo Spera)
Só porque
Tudo começa e acaba
Não me pergunte mais nada
Só porque, ê ê
Só porque
Há sempre uma esperança
E você entra na dança
Só porque, ê ê
Só porque
A luz do sol se levanta
E você comigo canta
Só porque, ê ê
Só porque
Uma canção não é nada
Mas ela pode ser dada
Só porque, ê ê
Só porque
Tudo começa e acaba...
Só porque
Ninguém sabe quase nada
A história é uma história errada
Só porque, ê ê
Só porque
A gente está nesse mundo
Quem sabe por qual assunto
Só porque, ê ê
Só porque
É uma viagem divina
Uma passagem de vida
Suite Correnteza
Barcarola de São Francisco
(Geraldo Azevedo/ Carlos Fernando)
A luz do sol que encandeia
Sereia de além mar
Clareia como o clarão do dia
Marejou meu olhar
Olho d'água beira de rio vento veia bailar
Barcarola do São Francisco
Me leva para amar
Era um domingo de lua quando deixei Jatobá
Era quem sabe esperança indo a outro lugar
Barcarola do São Francisco
Veleja agora no mar
Sem leme mapa ou tesouro de prata ou luar
Talismã
(Geraldo Azevedo/ Alceu Valença)
Diana me dê um talismã, um talismã...viajar
Você já pensou ir mais eu viajar
Quando o sol desmaiar... oh, vou viajar...
Olha essa sombra, esse rastro de mim
Olha essa sombra, essa réstia de sol
Você já pensou, ir mais eu, Diana...viajar...
Diana me dê um talismã, um talismã...
Caravana
(Geraldo Azevedo/ Alceu Valença)
Corra, não pare, não pense demais
Repare essas velas no cais
Que a vida é cigana
E caravana, é pedra de gêlo, ao sol
Desgelou teus olhos tão sós
No mar de águas claras (Bis)
Saga da asa branca
Asa branca
(Luís Gonzaga/ Humberto Teixeira)
Quando olhei a terra ardendo
Qual fogueira de São João
Eu perguntei a Deus do céu
Por que tamanha judiação
Eu perguntei a Deus do céu
Por que tamanha judiação
Que braseiro que fornalha
Nem um pé de plantação
Por falta d'água perdi meu gado
Morreu de sede meu alazão
Por falta d'água perdi meu gado
Morreu de sede meu alazão
"Inté" mesmo a asa branca
Bateu asas do sertão
"Entonce" eu disse adeus Rosinha
Guarda contigo meu coração
"Entonce" eu disse adeus Rosinha
Guarda contigo meu coração
Quando o verde dos teus olhos
Se espalhar na plantação
Eu te asseguro não chore não viu
Que eu voltarei viu, meu coração
Eu te asseguro não chore não viu
Que eu voltarei viu, meu coração
A volta da asa branca
(Luís Gonzaga/ Zé Dantas)
Já faz 3 noites que pro norte relampeia
A asa branca ouvindo o ronco do trovão
Já bateu asas e voltou pro meu sertão
Ai, ai, ai, eu vou-me embora vou cuidar da plantação
A seca fez eu desertar a minha terra
Mas felizmente Deus agora se "alembrou"
De mandar chuva pra esse sertão sofredor
Sertão das "mulé séria" dos "home trabaiadô"
Rios correndo as cachoeiras tão zoando
Terra molhada mato verde que riqueza
E a asa branca tarde canta que beleza
Ai, ai, ai, o povo alegre mais alegre a natureza
Revendo a chuva me "arrecordo" de Rosinha
A linda flor do meu sertão pernambucano
E se a safra não atrapalhar meus planos
Que é que há seu vigário/ vou casar no fim do ano
Se eu tivesse asa
Geraldo Azevedo & Geraldo Amaral
Passarinho que vai
Pra aquele lado
Leva um recado
Voa ligeiro
Diz ao meu amor
Estou tão sozinho aqui
Com uma saudade sem fim
Passarinho, se eu tivesse asa
Não te pedia, eu mesmo ia
Ver o meu amor
Pedaço de céu
Ardente desejo
Apaixonado
Eu quero o seu beijo
Ficar ao seu lado
E ser mais feliz
Voa, voa, voa, passarinho
Leve as penas do destino
Vai ao meu amor contar
Que eu não sei viver sem seu carinho
Sinto falta dos seus braços
E da luz do seu olhar
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