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Morre em Paris o pintor pernambucano Cícero Dias

28/01/2003

O pintor Cícero Dias e um detalhe de uma de suas obras

 

São Paulo - O artista pernambucano Cícero Dias morreu hoje, em Paris, cidade onde morava desde 1937. Como informou o galerista e amigo da família do artista, Waldir Simões de Assis Filho, Cícero morreu em casa, seu endereço há 40 anos, na Rue Long Champ, às 9 horas (horário de Brasília), sem nenhuma causa específica. Cícero Dias será enterrado na segunda-feira, no cemitério de Montparnasse, após missa de corpo presente na igreja de Notre Dame de Grace de Tassy, às 10h30. Estava para completar 96 anos no dia 5 de março.

   "Ele morreu tranqüilo e lúcido. Estava com sua mulher Raymonde, a filha e também pintora Sylvia e seus dois netos", disse Waldir Simões, responsável, com o jornalista Mário Hélio Lima, pelo livro Cícero Dias - Uma Vida pela Pintura, lançado no ano passado aqui no Brasil, no Recife, em evento que contou com a presença do próprio Cícero Dias.

   O pintor nasceu em 1907, no Engenho Jundya, município de Escada, a 53 quilômetros do Recife. Já aos 13 anos foi para o Rio de Janeiro, onde faria seus estudos. Lá teve contato com os modernistas e, em 1928, aos 21 anos, realizou sua primeira exposição, na verdade em uma mostra paralela ao 1º Congresso de Psicanálise da América Latina.

   Os traços surrealistas de suas obras, então na maioria desenhos e aquarelas, já se faziam presentes e o artista chegou a ser considerado pelo escritor pré-modernista Graça Aranha como o primeiro manifestante do surrealismo no Brasil. Sua primeira exposição teve o apoio de amigos como Di Cavalcanti e Murilo Mendes.

   Foi na década de 20 que Cícero criou o famoso painel Eu Vi o Mundo... Ele Começava no Recife, que tanto impressionou os modernistas. Em 1932, voltou a seu Estado natal e, em 1937, mudou-se para a França, realizando lá, no ano seguinte, suas primeiras exposições. Em Paris, freqüentou o ateliê de Pablo Picasso e acompanhou de perto a finalização de Guernica - Picasso foi até mesmo padrinho de sua filha. Também teve como amigos André Breton e Paul Éluard. Entre outras histórias dessa época, há o episódio em que Dias ficou preso na Alemanha com o escritor Guimarães Rosa, que estava concluindo o livro de contos Sagarana.

   A partir da década de 40, Cícero começou a trabalhar a abstração, mas o rigor formal foi se diluindo na década seguinte. Nos anos 60, o artista voltou a pintar as figuras femininas e, a partir dessa época, sua obra se tornou uma mistura de flores, paisagens e personagens, entre tantos outros elementos.

(© estadao.com.br)

Pintor pernambucano Cícero Dias morre aos 95 anos em Paris

 

Cícero Dias em Recife (PE) em 2002

da Folha Online

   O artista plástico pernambucano Cícero Dias morreu hoje de manhã, aos 95 anos, em sua casa em Paris, de falência múltipla dos órgãos.

   Ele estava acompanhado da mulher, a francesa Raymonde, e da filha, Sylvia. O pintor teve anemia há cerca de um mês e recebia cuidados médicos em casa. O enterro será na segunda-feira, no cemitério de Montparnasse, na capital francesa.

   O artista é considerado um dos maiores nomes do modernismo brasileiro. Ele nasceu em 5 de março de 1907 na pequena cidade de Escada, no interior de Pernambuco.

   Em 1920, aos 13 anos, Cícero se mudou para o Rio de Janeiro. Foi interno no mosteiro de São Bento. Entre 1925 e 1927, teve seu primeiro contato com os modernistas.

   Em 1928, realizou sua primeira exposição, em que expôs o célebre painel "Eu vi o Mundo", de 15 metros de largura. Em 1931, abriu uma exposição no Salão de Belas Artes.

   No ano de 1937, foi para Paris. Um anos depois, Dias realizou suas primeiras exposições na cidade. Nessa época, em busca de novos rumos para seu trabalho, entrou em contato com as obras dos artistas da Escola de Paris.

   O encontro causou um impacto muito grande, o que pode ser percebido nos seus quadros do início dos anos 40, entre eles "Mulher na Praia" e "Mulher Sentada com Espelho". Há claramente uma inspiração nas obras de Pablo Picasso.

   Em 1945, ingressou no grupo Espace. No ano seguinte, mostrou seus trabalhos na mostra na Exposition Internationale d'Art Moderne, no Museu de Arte Moderna de Paris.

   No início dos anos 60, o artista pintou diversas telas com retratos de mulheres.

   Em 2000 inaugurou uma praça projetada por ele mesmo em Recife.

   Em fevereiro do ano passado, Dias esteve na capital pernambucana para o lançamento de um livro sobre sua trajetória artística e fez uma exposição na galeria Portal, em São Paulo.

(© Folha Online)


Obra emblemática de Cícero Dias é destaque em mostra da FAAP, em São Paulo

Obra "Eu Vi o Mundo... Ele Começava no Recife", de Cícero Dias, em cartaz na FAAP

Da Redação

   Até 2 de março, o paulistano pode ver a mais emblemática e precoce obra de Cícero Dias. O painel "Eu vi o Mundo... Ele começava no Recife", produzido pelo artista entre 1926 a 1929, é grande destaque na exposição "Brasil, da Antropofagia a Brasília 1920 - 1950", montada no Museu da FAAP, na zona Oeste de São Paulo.

   Em carta enviada a Tarsila do Amaral, em 1931, o escritor Mario de Andrade relatava à amiga pintora que a obra de Dias estava fazendo com que "rachassem as paredes" da Escola Nacional de Belas Artes, tamanho o impacto causado em sua segunda exposição ao público, no Salão de Artes daquele ano. A obra é considerada ainda hoje como marco zero da nova pintura brasileira.

   Produzido quando Dias tinha 21 anos, o painel foi feito em técnica mista, sobre papel e cola de peixe. Nele figuram cenas da vida do nordeste brasileiro, danças, procissões, um auto-retrato do pintor, ícones da cultura popular em livre justaposição de escalas e pontos de vista diferentes. Tinha originalmente 15 metros de extensão por 2,5 metros de altura. Vítima de ato de vandalismo, foram extirpados cerca de 3 metros de seu lado esquerdo, área do quadro em que figuravam nus femininos exuberantes, com sexos destacados.

   Na sua nova versão "reduzida" forçosamente, foi também grande destaque durante a 8º Bienal Internacional de São Paulo.

   Com curadoria do professor Jorge Schwartz, a mostra da FAAP exibe, além do grande painel de Cícero Dias, obras representativas de literatura, pintura, arquitetura, fotografia, música e cinema do período que eclode na Semana de 22 e prossegue "modernista" até os anos 50.

Brasil, da Antropofagia a Brasília (1920-1950)
Curadoria: Jorge Schwartz
Onde: Museu de Arte Brasileira da Faap (r. Alagoas, 903, SP, tel. 0/xx/11/3662-7198)
Quando: de ter. a sex., das 10h às 20h, sáb. e dom., das 13h às 18h (até 2/3/2003)
Quanto: entrada franca

(© UOL Arte)


Opiniões sobre Cícero Dias
(Publicadas no dia 21.02.2002, no Jornal do Commércio do Recife)

Francisco Brennand – “Minha fase preferida de Cícero Dias foi aquela da sua exposição em Lisboa, que ele realizou depois de ter saído de Paris por causa da guerra. Era impressionante. Um homem, como ele mesmo disse, que criou seu próprio modernismo. Cícero é um grande artista, que ainda não recebe o respeito merecido em Pernambuco. A sua obra no Marco Zero, um trabalho de tanta importância, não tem o tratamento devido, nem por essa gestão da Prefeitura, nem pela anterior. Usam a Praça para shows musicais e, como se fosse pouco, colocaram lá aquela escultura vermelha (no caso, o Marco Zero).”

Betânia Correia de Araújo – “Gosto de Cícero Dias daquele primeiro momento seu, no qual ele registrava as paisagens da Zona da Mata. E também do seu painel Eu Vi O Mundo... Ele foi um homem da aristocracia nordestina que saiu para buscar novas formas de influência. Deixar o Nordeste para buscar informação parece até óbvio, mas temos de lembrar que, no seu tempo, a disponibilidade de informações era pequena, bem ao contrário de hoje em dia.”

Guita Charifker – “Sou uma apaixonada pelo trabalho de Cícero Dias. Na minha opinião, ele é o maior de todos os nossos aquarelistas.”

Bete Gouveia – “Respeito o trabalho de Cícero Dias, mas pessoalmente não gosto muito. Reconheço sua importância para o modernismo brasileiro, porém sua obra, para mim, não é muito empolgante. Sua fase abstracionista tem função apenas decorativa, não vejo maiores rupturas nela. Nos anos 50 e 60, os concretos e neo-concretos no Brasil causavam, sim, rupturas artísticas, o que não vejo em Cícero.”

(© Jornal do Commercio)


Repercussão

Amigos lamentam morte de Cícero Dias

   Mais do que admiradores, o pintor Cícero Dias deixou muitos amigos em Pernambuco. “Havia muita aproximação entre nossas famílias e isso me tornou também muito próximo dele. Dias é para todos uma inspiração e um influência, independente das polêmicas de sua obra", declarou Francisco Brennand.

   Para o também artista plástico Abelardo da Hora, Dias ‚ era "gente muito boa". "Sempre tive contato com ele. Dias sempre valorizava a nossa cultura popular e nossa história. Todo o mundo cultural brasileiro está de luto".

   O desejo de Cícero Dias de ter o engenho Judiaí, onde nasceu, tombado pelo patrimônio histórico foi lembrado pelo escritor César Leal: "É lamentável, que durante mais de 12 anos, tantas pessoas interessadas em ver realizado aquele que seria o maior sonho de Cícero Dias tenham sido frustradas. Como amigo dele, proponho às autoridades que prestem essa homenagem póstuma ao grande homem, ao grande pintor, o que melhor viu o sol do Nordeste", sugeriu.

   Quando vinha ao Recife, o pintor pernambucano – que morava em Paris há mais de 60 anos - era hóspede de Margot Monteiro. "Descobri em 1992, quando dirigia o Museu de Arte Contemporânea (MAC), que Cícero vinha sempre ao Recife, sem que ninguém lhe desse atenção, e se hospedava em hotéis. Fui procurá-lo para tirar dúvidas sobre sua arte e daí surgiu uma grande amizade. Passei a hospedá-lo sempre e a levá-lo para revisitar locais do Estado que marcaram sua vida. Diante de alguns, ele chegava a chorar. Seu estilo era verdadeiro, ele respeitava a intuição. Era um dos pernambucanos mais autênticos, como artista e como pessoa", contou.

   Com informações de Julio Cavani, especial para o PERNAMBUCO.COM

   Comentário dos Leitores

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   "Será uma das maiores lacunas da pintura brasileira. Pernambuco está de luto. Esperamos, que pelo menos agora a Prefeitura do Recife respeite as obras públicas do pintor em nossa cidade. Respeite na Praça do Marco Zero a obra de Cícero, constantemente vitimada pelas ferragens dos eventos promovidos pela secretaria de cultura. É estranho que Cícero, com tantos amigos em Recife, conforme os depoimentos, nenhum ousou protestar sobre o desmando com suas obras e a falta de reconhecimento dos governantes com esse pernambucano, uma das maiores expressões da pintura neste século. Lucia M. Ferreira "

(© Pernambuco.com)


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