Jornalista Jamildo Melo lança, em Nova Jerusalém, o livro A Paixão de
Plínio, editado pela Bagaço e que recupera a história de Plínio Pacheco,
criador do maior teatro ao ar livre do mundo
JANAÍNA LIMA
O sonho de pedra de Plínio Pacheco
de construir a cidade-teatro de Nova Jerusalém é apenas um dos assuntos
revelados pelo jornalista Jamildo Melo no livro A Paixão de Plínio. A
obra, editada pela Bagaço, reconstrói a trajetória do gaúcho
que se encantou por Pernambuco, e, mais precisamente, pela cidade de Fazenda
Nova e pela vontade de erguer nela o maior teatro ao ar livre do mundo.
Jamildo escreveu o livro com texto
preciso, detalhista, como se estivesse redigindo uma grande reportagem
investigativa sobre o homem que deu nova dimensão à encenação do drama da
Paixão – que começou a ser encenado em Brejo da Madre de Deus pelo
sogro, Epaminondas Mendonça, em 1951.
Contando com a ajuda fundamental
do cenógrafo Víctor Moreira, grande amigo de Plínio, que teve o cuidado de
preservar a vasta correspondência que trocou com o produtor, Jamildo
consegue dar voz ao biografado, como se o livro tivesse se originado de uma
longa entrevista (o que de fato nunca ocorreu). “Conhecia Plínio sim,
conversava com ele, mas nunca com propósito de escrever nada.
Profissionalmente, nunca o entrevistei. A idéia do livro só veio mesmo
depois de sua morte”, revela Jamildo.
Repórter da editoria de Economia
do JC, o autor vasculhou fatos marcantes da história do Brasil, em
especial os anos de chumbo. A ditadura e a relação de Plínio com os
militares – o produtor começou a vida na construção civil, aos 16 anos, mas
logo depois ingressou na Força Aérea Brasileira, e posteriormente atuou como
jornalista – é um tema que percorre praticamente toda a obra, com passagens
pitorescas e emocionantes.
Um exemplo é o capítulo 11,
intitulado de Horto das Oliveiras, que narra o episódio da
cancelamento do Festival de Verão, em 1974. “Me emocionei quando escrevi
este capítulo, porque foi uma passagem delicada na história da Sociedade
Teatral e da imprensa. Apenas o Jornal do Brasil publicou reportagem
sobre o fato, e isso graças à jornalista Letícia Lins”. Jamildo registrou o
agradecimento de Plínio à repórter: “A primeira vez que eles se encontraram,
ele falou: ‘Para jornalista inteligente não existe ditadura’.”
No episódio citado, Plínio Pacheco
foi obrigado a entrar num helicóptero e vir para o Recife só para ouvir que
o show – que havia sido previamente autorizado pelo governo – estava
proibido por motivos de ordem pública. “O objetivo da iniciativa não parecia
ser tirar Plínio de circulação, apenas humilhá-lo”, analisa.
A vida nas redações, ponto em
comum entre o autor e o biografado, também ocupa lugar de destaque. “Não é
exagero dizer que Plínio desenhou as muralhas de Nova Jerusalém na redação
do Jornal do Commercio”, conta Jamildo, que pesquisou em jornais das
décadas de 60 e 70 para recuperar a situação política de Pernambuco e do
Brasil na época.
Essa opção do jornalista de
localizar minuciosamente a situação histórica e social que motivaram o
produtor cultural faz de A Paixão de Plínio uma obra muito mais sobre
uma personalidade de destaque de Pernambuco do que um registro da vida
cultural do Estado. “Minha obra não é teatral, porque não sou homem de
teatro, não me atreveria a isso. Mas não deixei de rechear o livro com
acontecimentos que marcaram a cultura pernambucana”, argumentou o autor.
O fato é que A Paixão de Plínio,
mesmo não sendo um livro de teatro, recupera uma parte importante das artes
cênicas em Pernambuco, já que narra todo o processo da criação do
espetáculo, desde quando era encenado nas ruas de Fazenda Nova ao processo
que culminou com o afastamento de José Pimentel da produção e deu início à
seqüência de atores globais vivendo o papel de Cristo.
Fatos independentes, que numa
apreciação mais ligeira não tiveram relação à Paixão, mas
repercutiram fortemente na sociedade cultural, como a celeuma entre o
crítico Celso Marconi e o dramaturgo Ariano Suassuna (por causa de uma
crítica publicada, Ariano deu dois socos em Marconi), também estão
registrados. Isso ocorreu na ocasião das filmagens da versão original do
filme Auto da Compadecida, que em parte foi gravado nas muralhas de
Fazenda Nova.
Como todo bom pesquisador que se
preza, Jamildo salienta que o livro não é uma versão definitiva.
“Entrevistei umas 20 pessoas, passei quatro meses escrevendo, mas tenho
muito mais a dizer. Plínio era um homem múltiplo, intelectualizado, que se
relacionava com muita gente”, ressalta ele, que já imagina uma lançar uma
edição nacional e ampliada da obra.
A obra tem prefácio de Fernando Menezes, diagramação de Karla Tenório, e
será vendida por R$ 27.
(©
JC Online)
Fé nos globais e na
megaprodução
Paixão de Cristo de Nova Jerusalém encerra temporada no Sábado de
Aleluia
Repetindo a fórmula cenário majestoso + escalação de atores globais
famosos, a Paixão de Cristo, de Nova Jerusalém, deve continuar
sendo, nos próximos anos, o destino de muitos pernambucanos e turistas
durante a Semana Santa.
Desta vez, o elenco de convidados da Rede Globo conta com Eriberto Leão
(o Tomé, da novela Cabocla), atuando no papel de Jesus, Malvino
Salvador (Tobias, da mesma novela), como Pilatos, e Ângela Vieira, na pele
de Maria, mãe de Cristo. Além deles, Xuruca Pacheco, produtora do
megaespetáculo, interpreta Madalena, e Pedro Henrique continua como o
discípulo Judas. No total, 500 pessoas, entre protagonistas, antagonistas
e figurantes, atuam na montagem de Fazenda Nova (a 180 km do Recife).
A expectativa é de que mais de 20 mil pessoas visitem diariamente o
maior teatro ao ar livre do mundo até o Sábado de Aleluia, dia em que a
temporada da peça acaba. Entre os rostos badalados do megaespetáculo, vale
prestar atenção à atuação de Eriberto, de 33 anos. Ele não tem a fama de
um Fábio Assunção, que também já foi o protagonista, mas tem uma atuação
de destaque.
Paixão de Cristo de Nova Jerusalém, até o Sábado de Aleluia, às 18h.
Ingressos: R$ 40 (amanhã) e R$ 30 (hoje e demais dias). Com meia-entrada
para estudantes e idosos.
(©
JC Online)
Pimentel vive
Cristo pelo 27º ano
Enquanto parte do público volta os olhares para a Paixão de Cristo de Nova
Jerusalém, o ator e diretor José Pimentel realiza a nona edição do seu
espetáculo a Paixão de Cristo, aqui do Recife. A peça continua no
Marco Zero, no Bairro do Recife, às 20h. A temporada deste ano vai até
domingo e marca 27 anos de Pimentel atuando no papel de Jesus – e 36 como
diretor do mesmo espetáculo (inclusive o de Fazenda Nova).
A estimativa dos organizadores é que a encenação atraia um público
maior que o do ano passado, quando cerca de 100 mil pessoas foram ao Marco
Zero. Desta vez, para realizar a montagem, o ator contou com o patrocínio
da Fundarpe (Governo do Estado de Pernambuco), da Prefeitura do Recife e
de empresas privadas.
Três palcos e nove cenas compõem a Paixão do Recife, uma versão bem
mais reduzida e barata que a peça feita em Nova Jerusalém, com atores
globais. Mas o elenco não fica atrás em termos de número, tem 100 atores e
300 figurantes, todos de Pernambuco.
Entre os atores escalados, estão Paula de Renor (Madalena), Vanda
Phaelante (Maria), Ivo Barreto (um demônio e Judas Iscariotes), Octávio
Catanho (Pilatos) e Marcos Macena, que substitui o falecido dramaturgo
Marco Camarotti.
A Paixão de Cristo do Recife vai até domingo, no Marco Zero.
Entrada franca
(©
JC Online)
Outras Paixões
Paixão de Cristo de Casa Forte
Amanhã, às 18h, no salão paroquial da Igreja de Casa Forte – Praça
de Casa Forte. Ingresso: R$ 2
Paixão de Jesus
De hoje ao Sábado de Aleluia, às 21h, no Pátio de Eventos, Centro,
Gravatá. Aberta ao público
Paixão de Cristo de Ponta de Pedras
Hoje e amanhã, às 21h, na Praia de Ponta de Pedras, em Goiana.
Entrada gratuita.
(©
JC Online)