José teles
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Depois do sucesso de Os dois filhos de
Francisco, o diretor Breno Silveira,
prometeu a si mesmo que não rodaria mais
nenhuma biografia. Promessa quebrada. Ele
está envolvido com outra biografia, a de
Luiz Gonzaga: “Não tinha nenhuma pretensão
de continuar fazendo este tipo de filme,
seguindo as pessoas famosas, até porque
choveu gente querendo que eu contasse a vida
delas. Disse pra mim, vou inventar uma
histórias, e partir para fazer outro longa,
este que estou finalizando agora, Era uma
vez”.
Ele mudou de idéia ao receber de Márcia
Braga, da produtora D+3, o projeto Luiz
Gonzaga. “Quando comecei a me aproximar da
história, falei pra mim: esta eu não posso
deixar de fazer. Um cara deste tamanho, com
uma história tão bonita. Aquela relação
complicada com o filho, mas também bonita.
Achei que era um dever cívico. Alguém tinha
que fazer um filme sobre o cara. É absurdo
que não exista nenhum filme sobre Gonzaga.
Não dá nem pra dimensionar o tamanho de Luiz
Gonzaga. Quanto mais eu chego perto, mas eu
me assusto. Acho até que por causa disto vou
precisar de mais de um ano pra ir nos
lugares, perguntar, entender as diferentes
visões. Tem o piloto, a amante, a filha, a
família do Gonzaguinha, as pessoas que
conviveram com ele. Tem que entender todo
este universo, pra poder juntar numa coisa
só”, comenta Silveira.
Nascido em Brasília, mas filho de
nordestinos, Breno Silveira diz que ao
contar a história de Gonzagão está também
voltando às suas origens: “Meu avô, Breno da
Silveira, era do Recife, foi deputado
socialista, cassado, e era muito amigo de
Gonzaga. Na minha infância ouvi e vi muito
Luiz Gonzaga”, relembra.
Este projeto fez com que ele passasse a
ver em Gonzagão, muito mais do que o ídolo
da música popular: “A importância dele é
imensa. Foi o cara que emendou este país,
que trouxe o Nordeste pro Sul, a quantidade
de herdeiros que deixou na música é absurda.
Acho que talvez nem o pessoal daqui perceba
o quanto ele é importante para o Brasil
todo, não consigo compreender porque aquele
parque em Exu não é cuidado pelo Estado. Se
eu deixar no filme, pelo menos a metade do
que ele foi, da dimensão dele, já fiz
muito.”
Pelo cronograma da Conspiração Filmes, da
qual Breno Silveira é sócio, e da D + 3, as
filmagens serão iniciadas em outubro de
2008. O diretor não sabe exatamente o que
entrará no filme, devido a fartura de
material. Tanto aliás, que além da
biografia, ele rodará também um
documentário. Só Rosinha, filha adotiva de
Gonzaga, lhe disponibilizou alguns sacos
(sic) de material do pai, inclusive dezenas
de vídeos. O que Breno Silveira sabe é que o
filme será intitulado Explode coração – A
história de Gonzagão e Gonzaguinha, e como
será a abertura. A voz de Gonzaguinha em
off, num monólogo gravado por ele mesmo,
chegando em Exu, conforme adianta o diretor:
“Ele estava com um gravador e começa e
falar: ‘Eu estou chegando em Exu. Do meu
lado direito tem uma lua, deve ser meu pai
me olhando. Daí entra no Parque Aza Branca,
e diz: ‘aqui morava meu pai, ele sentava
aqui, ele comia aqui. Eu quase não conheci
meu pai, e amanhã é o enterro dele’. Vou
abrir o filme assim, e só depois entram os
atores”.
As duas produtoras estão em fase de
captação de recursos. Mas já compraram os
direitos da biografia de Gonzaguinha,
escrita por Regina Echeverria, e acertaram
os direitos com os parentes de Luiz Gonzaga:
“Esta parte demorou porque existe umas
briguinhas entre a família. Rosa não
conhecia a família do Gonzaguinha, e não vê
os outros há anos. A família precisa
entender que o tamanho de Gonzaga é maior do
que todas estas brigas que se criaram”.
Embora tenham adquirido os direitos da
biografia de Gonzaguinha, o filme não se
baseará nela: “Em Os dois filhos de
Francisco, peguei o pai pra contar a
história do Zezé. Nesta tem uma coisa mais
bonita, que é pegar o filho, que é
Gonzaguinha, e aos poucos entender, através
do olho deste filho, o tamanho do pai. Em
vez de uma filme na primeira pessoa, será
alguém que estará contando a história para o
Gonzaguinha. É uma história de pai e filho,
de amor. Gonzaguinha tentava se provar para
o pai. Talvez não entendesse o tamanho do
pai, e começou a entender quando vai
chegando no final da vida”.
As locações principais do filme serão nas
cidades em que tanto pai quanto filho
viveram mais tempo. Rio, Belo Horizonte,
Exu: “Mas passaremos por vários lugares,
porque Gonzaga levava uma vida itinerante, e
viajou pelo país inteiro”, diz Silveira que
pretende que o documentário seja registro
definitivo, para as futuras gerações, sobre
Luiz Gonzaga, e que o filme emocione:
“Estamos falando de um épico, a procura de
entender toda esta força, e vou humildemente
tentar”.