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O músico francês
JJ Miteau
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Festival Jazz& Blues, em Guaramiranga, recebe
estrelas internacionais como JJ Miteau. Virtuoso gaitista francês é
atração no Ceará, além do trio Les Frères Guissé
A primeira boa notícia do blues em 2008 chega no carnaval e
ecoa no distante Maciço de Baturité, na cidadezinha de
Guaramiranga, Ceará, de apenas 6 mil habitantes, a 100
quilômetros de Fortaleza. Será em Guaramiranga (Nordeste que
é o avesso do tórrido Nordeste, com temperaturas médias
anuais de 18° C). É o lugar que abriga há oito anos o
Festival Jazz & Blues, e é ali que a gaita de um fenômeno do
blues, o francês JJ Milteau, vai soar, às 21 horas do dia 4
de fevereiro, no Teatro Rachel de Queiroz.
JJ Milteau, de 58 anos, que vem acompanhado do seu fiel
escudeiro, o violonista Manu Galvin, é um curioso caso em
que o blues floresce longe de suas terras mais férteis, as
regiões do Sul americano. Nascido em Paris, nas imediações
da Porte D''''Italie, ele passou batido pelo rock
preponderante em sua época e foi se voltar para o ritmo mais
ancestral.
Desde então, já acompanhou feras do blues ianque, como
Mighty Mo Rodgers, Little Milton e Mighty Sam McClain. Em
2003, gravou em Nova York um disco fabuloso, Blue 3rd, no
qual tem as digníssimas companhias do tubista Howard Johnson
e do decano ativista Gil Scott-Heron, o fabuloso autor de
Revolution Will Not Be Televised, hino contracultural dos
anos 60. Seu mais recente trabalho discográfico é Fragile,
de 2006, com as cantoras Michelle Shocked e a fantástica
Demi Evans (no ano passado, lançou um ao vivo, Live Hot N
Blue, todos pelo selo Emercy France).
Mas Jean-Jacques Milteau não é a única atração desse
insólito festival nordestino. A outra estrela internacional
convidada é o trio Frères Guissé, que vem da região
histórica do Fouta, no norte do Senegal (nome, por sinal, de
uma de suas mais belas canções). Suavemente melódico, o trio
lembra muito uma versão ancestral do blues, mas também se
conecta com algo da música brasileira - mesma sensação
causada pelos vocais de Lokua Kanza, que já veio ao Brasil
algumas vezes. Em Ummo, o trio parece mesmo ter parentesco
com a viola pantaneira de Helena Meirelles. Uma descoberta.
Eles cultivam expressões culturais tradicionais, como o
pekaan (um gênero musical que tem origem nas formas de
comunicação artística dos pescadores soubalbé); o goumbala,
canto encantatório dos chasseurs-ceddo, que exalta a coragem
e o ideal heróico); o dilleré, música dos
Tisserands-Maboubé, que é uma espécie de hip-hop
declamatório; o yeela, relativo aos griôs Awloube, mestres
da palavra e contadores das histórias passadas; o rippo, que
perpassa os grupos sociais, além de ritmos jovens.
Só esses dois nomes já seriam mais que suficientes para
fazer os amantes da música considerarem a idéia de conhecer
um outro Brasil nas montanhas do Ceará. Mas há outras
atrações, uma delas a inigualável Banda Cabaçal dos Irmãos
Aniceto, lendários festeiros da região do Crato, no Cariri
cearense.
A Banda Cabaçal dos Irmãos Aniceto foi fundada ainda no
século 19 pelo patriarca José Lourenço da Silva, o Aniceto,
e é da mesma região de onde vêm a poesia de Patativa do
Assaré e o artesanato de Mestre Noza e das irmãs Cândido, e
cenário de eventos populares únicos, como a Festa de Santo
Antônio da Barbalha e os Caretas de Jardim.
No ano passado, a orquestra dos Irmãos Aniceto recebeu a
Ordem do Mérito Cultural do Ministério da Cultura, mesmo ano
em que Oscar Niemeyer recebeu a Grã-Cruz do Mérito Cultural.
Já tocaram em espetáculo de Ivaldo Bertazzo e, em 2005,
foram uma das atrações escaladas pelo Brasil para
representar o País no Ano do Brasil na França, tocando na
Cité de la Musique para milhares de pessoas.
Mais nomes na escalação do festival: o gaitista carioca
Jefferson Gonçalves, a cantora paulistana Nicole Borger, o
bandolinista Hamilton de Holanda (nosso Hendrix do bandolim)
e o violonista Nonato Luiz. Muitos shows são gratuitos, ao
ar livre, na escadaria da Igreja Matriz da cidade.
Da MPB, o cantor, compositor e pianista Ivan Lins é a maior
estrela. Ele chega a bordo de um novo álbum, Saudades de
Casa, no qual trabalha o conceito de improvisação e jam
session como um método de gravação. Ivan fecha o festival no
dia 5, às 21 horas, também no Teatro Rachel de Queiroz.
Segundo lembra a assessoria do Festival Jazz & Blues de
Guaramiranga, o festival cearense já abrigou a música de
João Donato, Scott Henderson, Hermeto Pascoal, Naná
Vasconcelos, Paulo e Daniel Jobim, Manassés, Stanley Jordan
e Egberto Gismonti, entre outros. Quem também esteve lá foi
o trompetista Marcio Montarroyos, morto recentemente no Rio
de Janeiro.
Segundo a organização, o festival já se incorporou ao
calendário da cultura cearense e traz grande impacto
econômico na região em que se instala. Chega a dobrar o
número de habitantes com a chegada dos turistas, que se
hospedam em suas pousadas, sítios, campings ou residências e
ajudam a criar empregos e atividades correlatas.
Também possibilita que músicos regionais possam ter palco e
público para mostrar o desenvolvimento de seu trabalho. É o
caso, por exemplo, do jovem guitarrista Felipe Cazaux,
cearense que andou solando nos palcos dos bons clubes de
blues de Chicago e tocou com James Wheeler, antigo
guitarrista de Otis Rush.
Mais informações sobre o festival podem ser obtidas por
telefone 85-3262-7230 ou pelo site (Clique
aqui)
(©
Estadão)