Produção independente, Brincando de coisa séria contempla todas as
referências dos músicos num trabalho
eclético onde cabe poesia sertaneja,
ciranda, coco, rock e samba
José Teles
teles@jc.com.br
Uma das bandas de destaque na cena
musical surgida nos anos 90, Cascabulho
chega ao terceiro disco, com apenas um
integrantes da formação original, Kléber
Magrão: “É um time muito consistente. O
Cascabulho chega aos 12 anos, com a formação
que considero a mais sólida do grupo”, diz
Magrão, principal vocalista da banda, agora
formado por João Alencar (percussão),
Alexandre Ferreira (saxofone, pífanos,
violões e vocais), Ebel Perrelli (bateria),
Jackson Rocha Jr.(baixo e vocais), Léo Lira
(violão, guitarra e vocais). Do antigo
Cascabulho apenas o poema que abre Brincando
de coisa séria (título do novo CD),declamado
por Antônio Marinho, e escrito para o grupo,
em 1995, por Bráulio Tavares.
Se o segundo álbum É caco de vidro puro
afastava-se do som do do disco de estréia,
Fome dá dor de cabeça, este Brincando de
coisa séria tem sonoridade ainda mais
distanciada dos outros dois, embora o
Cascabulho ainda incursione pelos ritmos
regionais: “Considero um disco que contempla
as referências de todos da banda, com uma
sonoridade armada por todos. As
participações também têm tudo a ver com o
Cascabulho”, continua.
As participações especiais são de Zeca
Baleiro (em Na mata), Carlos Malta (em Seu
Antônio na novena), e Jr.Tostói (em Quatro
dias). Tom Zé, grande admirador da
Cascabulho, desta vez participa no texto da
contracapa (.. “e o menino dizia: ‘Tá vendo?
O Cascabulho contribui para a paz universal
com busca-pé e fogo no rastro”).
O coco continua presente, mas foi aberto
um leque bem maior de timbres, ritmos, indo
do jazz a toques de candomblé, aponta
Magrão, lembrando que isto é decorrente da
formação dos atuais integrantes, alguns
ingressos de grupos de jazz, como aconteceu
com o baterista Ebel Perrelli, ou de blues,
caso do baixista Jackson Rocha Jr. O grupo
começa mostrar o repertório de Brincando de
coisa séria durante o Carnaval: “Estamos com
apresentações confirmadas no Ibura e em Casa
Amarela. Tem mais outras duas que está sendo
acertada com o empresário da banda”, diz
Magrão
A banda ficou bastante satisfeita com o
resultado final do disco. “E é o primeiro
com fonogramas que nos pertencem, um
trabalho independente, feito com patrocínio
da Chesf. A divulgação para valer começa
depois do Carnaval, quando a Cascabulho
entra em turnê. Algumas músicas do CD estão
disponíveis no myspace.
DISCO
Alexandre Ferreira, que está na banda
desde que houve o primeiro racha no grupo,
logo depois de uma turnê no Canadá, é quem
assina a maioria das canções do disco
(sozinho com em parceria), porém a faixa
menos típica do som pelo qual ficou
conhecido o grupo foi composta por Magrão e
Nilton Júnior, A parede “(São todos Pedros,
pedreiros, Luíses/são belos matizes de um
novo tom”), um sambão no estilo dos Novos
Baianos, que vem depois de Na mata
(Alexandre Ferreira), uma levada de carimbó
com tempero de candomblé, que caiu bem na
voz de Zeca Baleiro. A funkeada É toma lá da
cá (Alexandre Ferreira), é seguida pelo
cadenciado Há um samba pra tudo
(Magrão/Alexandre Ferreira/Ebel Perrelli),
cuja letra é uma espécie de “estudando o
samba”: “Se o começo do samba/ não foi pelo
telefone/ se Virgulino Ferreira/ foi Lampião
em tantos homens/ E o batuque do meu morro/
Sempre Estácio em qualquer nome”). A
guitarra de Jr.Tostói dá o tom em Quatro
dias (Alexandre Ferreira), um pesado trupé
eletrônico, com nítida influências das
experiências sonoras de Tom Zé em The hip of
traditions.
O disco, que começa com um poema
sertanejo, passeia por cirandas, coco,
embolada, fecha com um rock, Quebra quilos,
única canção não assinada pelos integrantes
do Cascabulho (é de Pedro Luís).
Curiosamente, a faixa que mais lembra o
antigo Cascabulho, é a faixa que dá título
ao CD, Brincando de coisa séria, um disco
demasiado eclético, dando a impressão de que
o grupo ainda está por definir sua nova
sonoridade.