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 Maranhenses do Criolina fazem show em São Paulo

 

 

Airton Valle/Divulgação

Luciana Simões e Alê Muniz, que dividem as composições do recém-lançado álbum "Criolina"
 

Duo de artistas maranhenses, que junta música latina, drum'n'bass e tropicalismo, toca hoje no Grazie a Dio!

Apresentação da dupla, radicada há nove meses em São Paulo, traz canções que passeiam por uma MPB com sotaque mais regional

RAQUEL COZER
DA REPORTAGEM LOCAL

Vai ter "Aurora" em versão ska e "Chiquita Bacana" com base funk. E isso será o mais próximo de um Carnaval a que o repertório do Projeto Criolina chegará hoje à noite, às 23h, no Grazie a Dio!.

"É só pra dar um climinha", diz Alê Muniz, 39, que toca ao lado da mulher e parceira no projeto, Luciana Simões, 31, em show centrado nas faixas de "Criolina" (2007). "Quisemos incluir algo que tivesse a ver com a data, mas nem nossas marchinhas são marchinhas ao pé da letra", diz Luciana.

A mescla de estilos segue a cartilha do duo de artistas maranhenses radicados em São Paulo, cuja fórmula mantém o sotaque regional ao mesmo tempo em que aceita influências da música latina, do drum'n'bass e do tropicalismo.

A afinidade musical que resultou no Criolina (e no casório) foi descoberta há quatro anos. Muniz vinha de um trabalho solo, abrindo shows para Pato Banton e The Wailers, entre outros, e Luciana cantava numa banda de reggae, mas foram os planos de experimentar com o eletrônico que deram unidade ao projeto. Unidos os trapos, o gênero acabou deixando de ser o centro da busca por novas sonoridades.

"Nossas primeiras músicas tinham essa cara mais eletrônica, numa brincadeira com o funk, o rock e o rap, mas daí fomos amadurecendo as idéias, gostando de uma coisa mais humana. E isso deu mais vida ao CD, porque, quando a gente imprime sons muito datados, fica velho logo", avalia Muniz.

Menos comprometidos com os grilhões eletrônicos, os dois fizeram o que chamam de passeio pela música popular brasileira. "É acima de tudo MPB, mas não de violãozinho, e sim de música regional. Essa coisa meio latina, meio caribenha, é comum nos Estados ao norte do país, mas não costuma chegar aqui", diz o violonista e guitarrista, que divide os vocais (e as composições) com Luciana.

A latinidade aparece em "Banguela", com um toque de Mutantes, e também no bolero cafona "Veneno" ("Be my chuchu, docinho de caju [...], be my sunshine, my Copacabana dream", pede a letra), enquanto a brasilidade vem em faixas como "Pra te Ensinar o B a Bá".

Sobre o palco, com banda, o duo dá espaço até para um Roberto Carlos mais apimentado, com guitarras distorcidas.

Entre SP e São Luís

Este será o primeiro Carnaval da dupla em São Paulo, onde vive há nove meses, embora o contato com a cidade seja bem anterior. A própria idéia de formar o Criolina nasceu por aqui, em outra fase paulistana de Muniz. Mas foi em São Luís que a prolífica veia criativa da dupla tomou forma -mais precisamente, a de 27 músicas, das quais 15 estão no álbum.

As faixas que ficaram de fora do álbum estão no show de hoje e também no que acontece no dia 13 no Sesc Santana. "Montamos nossa base aqui na Pompéia [bairro da capital] para divulgar nosso trabalho, mas não queremos sucesso. Queremos só que as pessoas conheçam um pouquinho nossa música", conta Luciana.
 

PROJETO CRIOLINA
Quando:
hoje, às 23h
Onde: Grazie a Dio! (r. Girassol, 67, Vila Madalena, tel. 3031-6568)
Quanto: R$ 15 (couvert artístico)

(© Folha de S. Paulo)


Criolina: saiba+


O Projeto Criolina nasceu do encontro dos artistas maranhenses Alê Muniz e Luciana Simões. Com os pés nos terreiros e as antenas no mundo moderno, criaram canções cuja sonoridade mistura tambores ao drumm & bass e evoca o suingue da África-Brasil em diversos gêneros. "Criolina é a leitura do Nordeste contemporâneo, um Nordeste de retalhos furta-cores, de tambores, computadores, cuícas e amplificadores, brincando na mesma avenida", afirma a cantora e compositora Luciana Simões. "Criolina é um grito brasileiro, nordestino, maranhense, na multidão; um confete no asfalto, a nossa bandeira de chita", diz Alê Muniz.
 

O projeto nasceu da necessidade de divulgar o sotaque, os ritmos e reverenciar a singularidade da música feita no Maranhão, tudo isso num formato mais pop. "Não queremos ter a obrigação de levantar bandeiras da música regional", afirma Alê.  

 

As primeiras idéias do projeto surgiram há cerca de três anos, quando os dois se encontraram em São Paulo. No início criaram levadas eletrônicas num programa de computador, brincando com funk, rock, raga, rap e música latina. A partir daí surgiram as primeiras parcerias. "É natural que o resultado disso tenha se mostrado cheio de referências do Maranhão. A verdade é que de certa forma foi nesse momento que a gente descobriu mais profundamente nossa identidade, longe de São Luis. Foi uma descoberta muito intensa", diz Luciana. 
 

O CD Criolina foi gravado no Maranhão, em 2006, com músicos locais. Em São Paulo, foi mixado e masterizado por Evaldo Luna, técnico do conterrâneo Zeca Baleiro, que gostou do som e abriu seu estúdio para Alê e Luciana. As 14 músicas do disco foram escolhidas entre 24 gravadas. A maioria é assinada pela dupla. Exceto Carapinha e Zé Bedeu, parcerias de Alê Muniz com o poeta Celso Borges e o compositor Mano Borges, respectivamente. Além de Afinado a Fogo, só de Alê, e Doce, de Luciana.
 

O projeto gráfico de Criolina, que remete à estética dos antigos retratos pendurados nas paredes das casas nordestinas, surgiu a partir de uma idéia da dupla. Para executar o trabalho, eles chamaram a premiada artista gráfica Luciane Ribeiro. "Ficou lindo. Tivemos a preocupação de preservar o aspecto bruto, orgânico do material, para manter a verdade do conceito do projeto", diz Luciana.
 

Outras praias


Apesar de individualmente Alê e Luciana terem trilhado caminhos diferentes no passado (o primeiro é mais ligado ao universo pop, já Luciana sempre esteve associada ao mundo do  reggae), o encontro dos dois mostra influências em comum, que vão desde a música regional do Maranhão e do Caribe, até elementos musicais herdados do tropicalismo e referências eletrônicas. "É um passeio pela música de ontem e de hoje, do Brasil e do mundo. Quem nos ouve e vê, pode identificar essa estética sonora e visual", afirma Alê.

 

QUEM  É  QUEM
 
Alê Muniz


O trabalho do cantor e compositor é resultado de 15 anos de convívio com a música popular do Maranhão, suas andanças e mudanças pelo mundo. A liberdade de criar, transformar e adaptar sonoridades diversas faz dele um artista que está sempre em busca de ampliar seu universo musical. "Não gosto de rótulos. Não quero limites", diz


Alê participou do Festival Canta Nordeste (TV Globo,1996) com a música Iê Mama, vencendo o festival. Nos anos seguintes, abriu shows de Pato Banton, The Wailers, Gal Costa, Luís Melodia, Alceu Valença, Gilberto Gil e Tribo de Jah, entre outros, e foi citado pelas revistas VIP e Show Bizz como promessa da World Music. Eleito quatro anos seguidos como o melhor compositor do Estado pela imprensa maranhense, Alê Muniz gravou seu primeiro CD em 1996. Iê Mama foi produzido pelo papa da musica eletrônica Mitar Subotic, o Suba, e foi indicado ao extinto Prêmio Sharp. Com dois discos solos e músicas gravadas por vários intérpretes. Alê também participa de duas coletâneas internacionais, do selo Putumayo, junto com Gal Costa, Zeca Pagodinho, Ivete Sangalo, Rita Ribeiro e Alpha Blondi, entre outros.
 

Luciana Simões


A cantora e compositora é uma das fundadoras da banda de reggae Mystical Roots e foi vocalista da Natiruts, o que lhe proporcionou alguma visibilidade no cenário nacional e viagens internacionais. Além da aproximação com a musica jamaicana, Luciana desenvolve um trabalho de pesquisa em São Luis, com ritmos como tambor de crioula, salsa e carimbó. 

 

A artista cursou a Universidade Livre de Música Tom Jobim. Escolheu como foco de estudo a Era do Rádio. Cantoras como Elizeth Cardoso, Dolores Duran, Dalva de Oliveira e Maísa, têm grande influência em sua formação. "Criolina é um pouco de tudo isso, do lirismo do passado à música pop contemporânea", diz ela.

 

(© PodFestival)

 

Veja o site do Projeto Criolina

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