Foto: Site Sinapro-BA
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Edgard Navarro
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Superoutro,
de Edgard Navarro, ganha versão para venda direta ao consumidor e tem
lançamento hoje à noite, na Livraria Cultura
Um dos filmes da era pré-retomada do cinema brasileiro virou cult e chega
agora a uma nova versão em DVD. Média-metragem grande vencedor do Festival
de Gramado de 1989, Superoutro (independente, R$ 31,90), do cineasta baiano
Edgard Navarro, tem lançamento hoje, na Livraria Cultura (Paço Alfândega,
Bairro do Recife), a partir das 19h.
Autor de sete
curtas-metragens (cinco em Super 8 e dois em 35 mm), dois médias (o outro é
o documentário Talento demais, de 1995, sobre a cena audiovisual baiana) e
um longa, Navarro é um vencedor experiente em festivais pelo Brasil. Como
curta-metragista, foi bicampeão no Festival de Brasília com Porta de fogo
(1985) e Lin e Katazan (1986, também melhor montagem e ator). Com Eu me
lembro (2005), seu longa de estréia, ganhou seis troféus Candangos na
capital federal, incluindo melhor filme, direção e roteiro.
Superoutro,
contudo, é um caso peculiar. Ambientada na cidade de Salvador, a trama é
centrada na figura de um louco de rua (vivido pelo ator Bertrand Duarte) que
faz uso de suas alucinações para tentar se libertar da miséria na qual vive,
não raro confrontando uma realidade hostil. Fantasia, violência,
esquizofrenia, escatologia: o filme não poupa o espectador de nada.
Ao longo de
duas décadas, o média de Navarro venceu o tempo e virou cult, sendo
continuamente sendo requisitado para mostras pelo País e no exterior. No
Recife, inspirou o nome de uma banda de rock independente, também aparece
citado na canção Cinema novo, de Caetano Veloso, e, em 2005, teve os
direitos de exibição adquiridos pelo Canal Brasil. Desde então, vem sendo
reprisado, de acordo com o diretor, a pedidos da audiência. “Para mim, é
motivo de maior satisfação e orgulho”, afirma o autor.
Em 2007, o
filme ganhou novo destaque ao ser incluído no projeto Programadora Brasil,
iniciativa da Secretaria do Audiovisual do Ministério da Cultura idealizada
para atender à necessidade de ampliação da exibição dos filmes nacionais.
Foi lançado em um mesmo disco com outro clássico do cinema baiano,
Meteorango Kid: herói intergaláctico (1969), de André Luiz Oliveira. Agora,
chega em versão única, independente, confeccionado a partir de uma nova
matriz.
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Lançamento do DVD do filme Superoutro, de Edgard Navarro – hoje, a partir
das 19h, na Livraria Cultura (Paço Alfândega, Bairro do Recife. Fone:
2102-4033). Acesso gratuito
(©
JC Online)
Entrevista com Edgard Navarro
Nascido em Salvador há 57 anos, Edgard Navarro é formado em Engenharia Civil
e Direção Teatral, mas é através da sétima arte que ele mantém sua índole
rebelde quase adolescente. Diretor do premiado “Eu me lembro”, que conta a
história do crescimento de Guiga, nascido na cidade de Salvador numa época
provinciana, Navarro diz ser um poeta por falta de opção. Ele também explica
por que levou 16 anos para fazer seu primeiro longa-metragem e o só agora o
público tem a oportunidade de assistir o filme.
Sinapro-Bahia - Você é um diretor premiado com filmes como "Porta de fogo"
1985, "Lin e Katazan", 1986, e "Superoutro", 1989, que inclusive foi
premiado no Festival de Gramado. Você despontou na década de 80 como um
diretor emergente, mas demorou 16 anos para produzir um longa-metragem. Por
que este longo intervalo sem produzir um filme?
Edgard Navarro - Porque a Bahia levou muito tempo para entrar na tal
retomada do cinema pós-Collor. Principalmente porque os pensadores da
cultura de nosso cacique político (que se perpetuavam há quase quatro
décadas no poder), nunca levaram o audiovisual muito a sério. Nunca houve
nesse período uma política conseqüente para o setor. E, uma vez que o cinema
é uma atividade onerosa e não consegue se sustentar sozinha (a invasão
bárbara americana do mercado sendo causa principal destes problemas), seria
dever do Estado intervir, investindo e fomentando a atividade. Há muitos
outros desdobramentos do tema a serem analisados, mas, pra simplificar,
vamos ficar por aqui.
Sinapro-Bahia - O filme "Eu me lembro" venceu no ano passado o Festival de
Brasília, com sete Candangos, inclusive de melhor Filme, e só agora estreou
em Salvador. Por que os filmes nacionais demoram tanto para entrar em cartaz
no circuito comercial?
EN - Todos os filmes precisam de recursos para serem lançados: dinheiro
gasto com cópias, cartazes, trailers, banners, outdoors, mídia paga em
emissoras de TV e rádio... Então, tivemos que esperar o concurso realizado
pela Petrobras de apoio ao lançamento de filmes no mercado para conseguirmos
estrear. Por isso a demora de quase um ano. Ainda assim a verba é muito
limitada, nada comparável àquela usada nos lançamentos da Globo Filmes, por
exemplo, que inclusive podem contar com a cross mídia para promovê-los.
Resulta que os filmes “miúra” são colocados no mercado com uma desvantagem
imoral. São as regras do jogo capitalista.
Sinapro-Bahia - Você declarou para a Folha de São Paulo, numa entrevista de
28/11/2005, que o "Eu me Lembro" dá início a uma trilogia autobiográfica.
Como está o andamento deste projeto?
EN - Não é bem assim. Não se trata de um projeto a priori. Antes do EU ME
LEMBRO, já tinha dois roteiros escritos e um deles (Eu pecador), que não tem
nada de autobiográfico, também já continha no título esta palavrinha inicial
(Eu). Agora que começa a pintar a possibilidade concreta de realizá-lo, me
ocorreu pensar numa trilogia do “eu”. Foi orgânico surgir o título do
próximo roteiro que pretendo desenvolver (Eu sei tudo), cujo mote é a sede
de conhecimento que sempre avassalou os humanos. Aliás, já comecei a
recolher anotações, que deixo fermentarem na caixola. É assim que funciona.
Sinapro-Bahia - Nos últimos anos, filmes baianos ganharam espaço na mídia,
como "Cidade Baixa" e "Samba Riachão", além do seu filme. Como você vê hoje
a indústria cinematográfica baiana?
EN - Promissora, mas ainda muito incipiente. O momento é bom. Alguns
cineastas de minha geração estão finalmente concretizando seus primeiros
longas: Fernando Belens, Póla Ribeiro, Araripe, Jorge Alfredo... Além disso,
muita gente está se animando a produzir. Tem uma rapaziada nova chegando,
com todo o gás, e desse meio deverá emergir muitos talentos. Tomara. E acho
que é só o começo. Volto a frisar a importância de investimento maciço na
atividade. Não se faz nada sério em arte, sem investir pesado em
experimentação. O que foi feito até agora equivale a dar apenas um
cala-boca. Tenho certeza de que, se os governantes corrigirem o rumo até
então equivocado, elaborando uma política conseqüente, o cinema feito na
Bahia pode nos render muita alegria e reconhecimento, além de inserção
cultural e atitude no mercado audiovisual brasileiro.
Sinapro-Bahia - Os atores e diretores nordestinos ainda precisam ir morar no
eixo Rio-São Paulo ou isto mudou?
EN - A tendência é ir mudando, aos poucos, muito lentamente. Mas a regra
ainda é essa. Atores e atrizes talentosos continuam saindo daqui pra morarem
no Rio ou Sampa, como única alternativa de sobreviverem de sua arte. Há um
grande número deles nesse caso. Alguns conseguiram espaço total: Lázaro
Ramos, Wagner Moura; outros um pouco menos, mas com grande destaque: João
Miguel; Maria Menezes, Fábio Lago, Lucci Ferreira. Outros ainda continuam
ralando muito sem conseguir quase nada de relevante; alguns estão quase
desistindo e voltando para a Bahia. É perversa essa coisa do êxodo
nordestino, mas já faz parte de nossa cultura, parece. Esperemos que os
governos que irão se suceder no poder mudem esse binário de forças que nos é
tão adverso. Como? Incentivo regional maciço às artes dramática e
audiovisual, fornecendo meios pra que tudo possa florescer sem essa
indigência vergonhosa ou essa dependência servil a uma vênus-madrasta sem
coração.
FILMOGRAFIA
1976 - ALICE NO PAÍS DAS MIL NOVILHAS
ficção / super 8 / 18 minutos
1977 - O REI DO CAGAÇO
ficção / super 8 / 9 minutos
1978 - EXPOSED
ficção / super 8 / 7 minutos
1979 - LIN E KATAZAN
ficção / super 8 / 6 minutos
1980 - NA BAHIA NINGUÉM FICA EM PÉ
documentário / super 8 / ~20 minutos
(realizado em parceria com Pola Ribeiro e Araripe Jr.)
1981 - FILMEMUS PAPA
documentário / super 8 / ~20 minutos
(realizado em parceria com Pola Ribeiro)
1981 - PIRANDELLO – O TEATRO NO TEATRO
documentário / super 8 / ~20 minutos
1982/84 - PORTA DE FOGO
ficção / 35mm / 21 minutos
1985/86 - LIN E KATAZAN (remake)
ficção / 35mm / 8 minutos
1987/89 - SUPEROUTRO
ficção / 35mm / 45 minutos
1992 - A VOZ DO BRASIL
vídeo clip / betacam / 5 minutos
1994/95 - TALENTO DEMAIS
vídeo documentário / betacam / 70 minutos
1999 - O PAPEL DAS FLORES
vídeo ficção / dvcam / 6 minutos
2001/05 - EU ME LEMBRO
ficção / 35mm / 110 minutos
(©
Sinapro BA)
VÍDEO:
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aqui para ver trechos do filme Superoutro |
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Com relação a este tema, saiba mais (arquivo NordesteWeb)
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