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Antonio Nóbrega
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Comemoração dos 100 anos do frevo termina com maratona. Ponto alto será
o arrastão com Antônio Nóbrega
José Teles
teles@jc.com.br
Antônio
Nóbrega comanda um arrastão do frevo, hoje, a partir das 16h, repetindo
o que fez em 9 de fevereiro do ano passado. O desfile é um dos vários
eventos que acontecem durante o dia de hoje, em que o frevo completa 101
anos. Uma maratona de 24 horas de festa, que começa às 6h com toque de
clarins e desfile do Clube Lenhadores – que tem a mesma idade do frevo –
e termina na manhã de domingo, fechando também o ciclo de programação
dos 100 anos do frevo, iniciado oficialmente há um ano.
Desta
vez, o arrastão comandado por Nóbrega não vem desde o Bairro de São
José, do Pátio de São Pedro, até o Bairro do Recife. Ele, músicos e
foliões saem da Torre Malakoff e vão até o Marco Zero, onde acontece uma
inusitada roda de frevo. “Ao contrário do arrastão do ano passado, este
vai ser mais introvertido. Convidei alguns músicos, como Marco César,
Spok, Gilberto Pontes e Nilsinho para a gente fazer uma espécie de roda
de choro, com frevos, com um grupo básico, sentado. Cada músico faz um
solo. Chamei também cantores – Getúlio Cavalcanti, Lula Queiroga, Dalva
Torres – e vou convidar J. Michiles. É uma coisa com caráter de sarau”,
adianta Nóbrega.
Diferente
também foi o período de Momo para ele que, pela primeira vez, foi
contratado para animar o Carnaval de Fortaleza. “Em cidades como
Fortaleza, São Luís e em algumas do interior, está começando a surgir um
Carnaval no formato do recifense, ou seja, com as manifestações do lugar
e shows em palcos, uma experiência que deu certo no Recife”, diz
Nóbrega.
A
intenção por trás da roda de frevo é a que está incutida em seus discos.
Isto é, a de fazer do frevo uma música para o ano inteiro, e não sazonal
como tem sido estes seus oficiais 101 anos. “Outro dia, escutei um
debate no rádio no qual alguns compositores pediam para as emissoras
tocarem mais frevo. Se tocassem, obviamente, seria uma coisa boa, mas o
frevo ainda continuará pouco conhecido fora de Pernambuco enquanto não
transcender o período carnavalesco”, opina Nóbrega.
Para o
compositor, o principal obstáculo para o frevo ser aceito no País ou
mundo afora, como aconteceu com o samba e o próprio baião, são as
letras: “O importante é os compositores compreenderem que o formato da
música deve servir de veículo para que se abordem diversos temas. Por
melhor que seja a divulgação do frevo, isto pouco vai adiantar enquanto
ele continuar auto-referente, limitando-se a um gênero para ser dançado
durante o Carnaval”, acredita.
Sem falsa
modéstia, Antonio Nóbrega diz que seus frevos sempre seguiram este
caminho. “Claro que tem outros compositores que também fizeram frevos
assim – Carlos Fernando, J. Michiles. O frevo está em um momento de
transição. A renovação tem que acontecer naturalmente. Não há
necessidade, pois, de inovar por inovar”, afirma.
(©
JC Online)
Idéia partiu de Spok, que lança DVD e CD
ao vivo
Marcos Toledo
mtoledo@jc.com.brA idéia de
promover um dia inteiro de frevo saiu da cabeça de um artista que vive a
música 24 horas por dia: o saxofonista, compositor, arranjador e maestro
Ivanildo Cavalcanti, Spok. Uma oportunidade mais do que adequada para o
músico e seu conjunto, a SpokFrevo Orquestra, fazer o lançamento oficial
no Recife do DVD e CD Passo de anjo ao vivo.
“Não sou o primeiro cara a fazer 24
horas de algo”, diz logo de cara o maestro, com seu jeito eletrizado,
falando no telefone celular enquanto se prepara para mais um ensaio.
“Mandaram para mim um DVD de Bobby McFerrin cantando (Johann Sebastian)
Bach na Alemanha, lindo. Nele, vi a placa: 24 horas de Bach”, lembra.
Spok pensou em fazer um dia inteiro de alguma coisa em Pernambuco e aí
surgiu a ocasião do frevo.
A subida da SFO no palco armado no
Marco Zero (Bairro do Recife) está prevista para as 23h de hoje, com
participação do acordeonista Genaro, do guitarrista Armandinho e do
saxofonista Leo Gandelman, os mesmo convidados do DVD. A orquestra,
aliás, promete repetir o repertório do disco, uma obra classuda
registrada com requinte de big-band, no Teatro Santa Isabel, em maio de
2007.
O DVD, que no próprio site da gravadora
Biscoito Fino encontra-se esgotado, ganha nova tiragem em breve. Por
outro lado, dado o sucesso que o frevo alcançou na passagem de seu
centenário e o reconhecimento pela grande contribuição de Spok neste
processo, tudo isso repercutiu até na pirataria. “Isso me deixou feliz.
Nunca encontrei nenhum dos grandes nomes do jazz pirateado. Mas toda
carrocinha tem o DVD da gente. Se piratearam é porque as pessoas
procuram”, declara o compositor, sem falsa modéstia nem hipocrisia.
Comparado com o CD de estúdio, gravado
há quatro anos, Passo de anjo ao vivo faz um upgrade com releituras de
standards, a exemplo de Último dia (Levino Ferreira), Três da tarde
(Lídio Macacão) e Vassourinhas (Matias da Rocha & Joana Batista), que
são adicionados a frevos mais modernos como Passo de anjo (Spok & João
Lyra) e Ela me disse (Luciano Oliveira).
Mesmo quem já viu a SFO ao vivo, no DVD
pode perceber melhor, em close, a dinâmica da orquestra, como cada
instrumentista se comporta no palco – todos, tanto os dos metais quanto
da guitarra, do baixo e da percussão, têm sua vez.
Acrescente o requinte da ambientação do
teatro, o ótimo posicionamento de câmeras, a direção segura de Zé
Eduardo Miglioli. Por fim, outra opção perspicaz: juntar as verdadeiras
aulas de frevo maestro, que ocorrem durante o concerto, e colocá-las nos
extras junto com making of, depoimentos e partituras. Tudo isso faz de
Passo de anjo ao vivo uma obra-prima por excelência à altura do talento
da SpokFrevo Orquestra.
(©
JC Online)
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