|
Geraldo Maia também presente na
série Recife Frevoé |
José
Teles
teles@jc.com.br
Em meio à
enxurrada de eventos acontecidos na maratona de frevo, no dia 9, passou
despercebido o lançamento do Recife Frevoé, coleção em digipack dos cinco
CDs do festival homônimo, saídos originalmente nos anos 90. Produzidos por
Carlos Fernando, o Recife Frevoé antecipou o modelo do Carnaval da capital,
com participações de artistas locais e nomes consagrados nacionalmente como
Paulinho da Viola, Maria Bethânia, Chico Buarque e Lenine.
O lançamento,
que fez parte do pacote de projetos relativos aos 100 anos do frevo da
prefeitura do Recife, literalmente, resgata estes discos, que tiveram pouca
divulgação na época e estavam há anos fora de catálogo. O Recife Frevoé foi
um concurso de músicas carnavalescas instituído pela prefeitura, com apoio
da TV Jornal, cuja primeira edição aconteceu em 1996.
O disco
inaugural da série foi lançado no ano seguinte, o derradeiro, em 2001. O
compositor Carlos Fernando, convidado para produzir os CDs do festival,
aplicou neles a fórmula empregada no projeto Asas da América, ou seja,
mesclou as composições inéditas, que concorreram no certame, com clássicos
do frevo.
O quinto e
último disco da série, continua com o repertório mesclado, porém os
intérpretes são todos artistas que atuavam na época em Pernambuco. Cada um
destes discos foi dedicado a um compositor. No primeiro deles, o homenageado
é Tom Jobim. Difícil entender como o CD tocou tão pouco em rádio. O
repertório é aberto com Frevo, de Tom e Vinicius (da trilha de Orfeu do
Carnaval). Tem ainda Maria Bethânia cantando Frevo nº1 do Recife, de Antônio
Maria, Antônio Nóbrega com o Frevo nº3 do Recife, do mesmo autor.
Nem tudo é
frevo. Há o caboclinho Flor do meu sonhar, com a banda Versão Brasileira
(que tinha Marrom Brasileiro como vocalista) e o maracatu Seu Luís e Salu,
com o Maracatu Nação Pernambuco. Uma das melhores faixas do disco é o
frevo-de-rua Onze de abril, com Dominguinhos como solista. Este disco tem
ainda Lenine, Moraes Moreira, Lula Queiroga, Claudionor Germano, Cristina
Amaral, Geraldo Azevedo, André Rio, Paulo Rafael, e os maestros Nelson
Rodrigues e Duda.
O Recife
Frevoé II abre com Transcendental, um frevo-de rua inovador de Cláudio
Almeida, com a Orquestra do maestro Duda. A dupla Lenine e Lula Queiroga faz
um dueto com Energia (Lula Queiroga). Edu Lobo está em uma atualização da
clássica No cordão da saideira. A grande faixa cantada no disco fica por
conta de Paulinho da Viola, numa emocionada versão de Evocação nº2, na qual
Nelson Ferreira presta uma homenagem ao samba carioca. O restante do
repertório tem Nena Queiroga, Geraldo Azevedo, Moraes Moreira, Alceu
Valença, Claudionor Germano, e os na época novatos Nonô Germano, Bruno
Simpson, André Rio e Versão Brasileira.
No terceiro
disco, Silvério Pessoa com um pot-pourri de Jackson do Pandeiro, ensaia o
repertório do seu segundo disco solo, Micróbio do frevo. Lenine dá um banho
de interpretação em Sonhei que estava em Pernambuco (Clóvis Mamede). Don
Tronxo, Walmir Chagas, Moraes Moreira, Teca Calazans, Amelinha, Chico César,
Leila Pinheiro, Geraldo Azevedo e Almir Rouche são alguns dos que participam
do álbum.
As novidades
do quarto volume são Naná Vasconcelos, colocando tambores no baião Algodão
(Luiz Gonzaga e Zé Dantas), e Reginaldo Rossi cantando um frevo de Capiba
(Cala a boca menino). Um disco com poucos medalhões, De fora apenas Zeca
Baleiro, que interpreta Frevo de saudade, de Nelson Ferreira e Aldemar
Paiva. No mais, o CD traz Alceu Valença, Quarteto Novo, Marco Polo, Ângela
Luz, Expedito Baracho, Bubuska, Jura Figueiredo, Geraldo Maia, Lula
Queiroga, e a orquestra de Duda.
O quinto e
último CD é totalmente pernambucano, com a maioria de músicas inéditas,
entre Um sonho que durou três dias, dos Irmãos Valença, com o Quarteto Novo,
Vão me levando, de Dosinho e Genival Macedo, com Silvério Pessoa, e Velhos
carnavais, de Edgard Moraes, com o coral Edgard Moraes. As demais faixas são
de composições que concorreram ao festival, com, entre outros. Ângela Luz,
Edy Carlos, Dalva Torres, Claudinha Beija, e maestro Duda e sua orquestra.
Um lançamento
oportuno, num momento em que o frevo começa seu segundo século de vida
renovado e com um vigor que parecia ter perdido desde o começo dos anos 70.
Não havia perdido, como estes cinco CDs comprovam. Faltava apenas quem o
incentivasse e o tirasse da gaiola de ouro na qual as boas intenções o
colocaram, afastando-o da massa. Resta saber se esta nova iniciativa vai ter
boa divulgação e distribuição, não só em Pernambuco, como também no restante
do Brasil e no exterior.
(©
JC Online) |