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 Música nordestina para gringo ouvir

 

 

Foto: Andy Freeberg

David Byrne
 

David Byrne lança pela Luaka Bop uma coletânea com Mundo Livre, Nação Zumbi, Otto e Eddie, entre outros

José Teles
teles@jc.com.br

“What the hell is Pernambuco?”. Ou em bom português: “O que diabo é Pernambuco?” A interrogação está na abertura da crítica da importante Spin Magazine, sobre o CD What’s happening in Pernambuco? – New sounds of the brazilian Northeast, compilação de música pernambucana lançada pelo selo Luaka Bop, de David Byrne, o músico e produtor norte-americano que tirou Tom Zé do limbo, e revelou Os Mutantes para o mundo. O que está acontecendo em Pernambuco? – Novos sons do Nordeste brasileiro, sétimo título da série Brazil Classics, não é o primeiro disco lançado no exterior a colocar a música pernambucana como centro das atenções. O pioneirismo neste caso pertence ao percussionista Airto Moreira, que produziu, em 2000, o álbum Brazil target: Recife (Brasil, alvo: Recife), mas é o primeiro a atrair a atenção da imprensa dos EUA e Europa.

Para o jornal inglês The Guardian, o disco foi a mais excitante coletânea de world music do mês, numa resenha publicada há exatamente um ano. No Estados Unidos, o álbum somente agora está sendo divulgado. Na época em que foi lançado, a distribuidora que trabalhava com a Luaka Bop nos EUA fechou e o CD só foi distribuído na Europa. A crítica norte-americana vem se derramando em elogios ao disco, não apenas pela qualidade a música, mas pela ignorância que tinha desta música, como admite o crítico Peter Margasak, do Chicago Reader: “Nos EUA se impinge um retrato do Brasil tão estúpido, que se pode se ser perdoado por se supor que o pessoal lá faz apenas samba e bossa nova...”

A música pernambucana entrou na vitrine decorada por David Byrne quando Paulo André Pires, produtor do Abril Pro Rock foi à Nova Iorque, participar de uma convenção de produtores e profissionais ligados ao mercado musical: “A gente havia produzido dois CDs do Music from Northeast, e eu levei vários CDs para ver se interessava a algum produtor internacional. Distribui na convenção. No dia seguinte me ligou um cara da Luaka Bop disse que o selo se interessava. Ele pediu que eu o acompanhasse a um lugar que pensei que fosse à sede da Luaka Bop”. Paulo André foi levado ao loft de David Byrne: “Ele estava reunido com um pessoal e falamos ligeiramente. Byrne disse que gostou da música, mas desejava ouvir os discos completos de alguns dos artistas”.

David Byrne recebeu, semanas mais tarde, um pacote de CDs para que selecionasse as faixas: “Ele me disse que ia lançar a coletânea, mas que eu mesmo fizesse a seleção, com algumas poucas indicações dele”, conta o produtor. Entre estas indicações estavam o grupo Wado e Realismo Fantástico, de Maceió, e o baiano, radicado em Sergipe, Alex Sant’anna, que mantêm ligação estética com o movimento mangue e a música pernambucana. Também não pernambucanos, mas que estão inseridos na renovação musical detonada nos anos 90 em Pernambuco, estão Cidadão Instigado, do cearense Fernando Catatau, e a Cabruêra, mezzo pernambucana, mezzo paraibana.

DISCO

A maior surpresa de What’s happening in Pernambuco é a inclusão da dupla Vates & Violas, os irmãos Luiz Homero e Miguel Marcondes, reclusos, eles não circulam pela “cena”. São ligados à turma da poesia do repente e cordel, e do forró. A seleção abrange uma década de música, de 1995 a 2005 (o disco estava prevista para ser lançado em 2006). Tem da Mundo Livre S/A, de Carnaval na obra (Maroca), a Mombojó, do disco de estréia, Nadadenovo (Cabidela), do Otto, de Samba pra burro (Bob), ao Nação Zumbi de Radio S.amb.a (Carimbó). Os demais nomes são Junio Barreto (Amigos bons), Eddie (Pode me chamar), Tine (Cobrinha). O crítico do Chicago Reader lamenta que tanta variedade torne esta música difícil de ser encontrada pelo consumidor americano, até pela dificuldade de se achar estes discos até mesmo no Brasil. Mas já é um avanço na divulgação de uma música pouco ouvida fora do Nordeste: “Talvez mais algumas compilações como esta detone o interesse na música brasileira menos conhecida”, escreveu o citado jornalista do Chicago Reader, que acha que a coletânea é a melhor forma de convencer outros selos a investir nesta à tornando os sons de Pernambuco, em particular, e do Nordeste em geral, acessíveis nos EUA.

Com relação a este tema, saiba mais (arquivo NordesteWeb)


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