Gravado
em 1993, finalmente chega às lojas o disco com loas de maracatu-canção
em homenagem às filhas do músico e de amigos, que seria lançado por
Milton Nascimento
José Teles
teles@jc.com.br
Estrela
brilhante, o disco que Erasto Vasconcelos está
lançando, levou 15 anos de sua gravação até que ele decidisse que
era o momento certo para tirá-lo, finalmente, da gaveta. Ler os créditos
de cada faixa é como uma volta no passado recente da música
pernambucana. Estão no disco Versão Brasileira, Tusch e Coração Tribal,
todas bandas desaparecidas nos anos 90. “Quando fiz este disco não era
fácil gravar por aqui. Naquele tempo, mais ou menos junho de 1993, o
Conservatório Pernambucano de Música estava inaugurando seu estúdio.
Cussy de Almeida, num acordo com a Fundaj, onde eu fazia um trabalho na
época, cedeu o estúdio para mim. E foi feito com técnico muito bom,
Adilson Luís, que veio para trabalhar na montagem do estúdio”, conta
Erasto.
Quase
todas as faixas têm no título o nome de meninas, filhas de amigos, e
dele próprio: “Todas eram bem criança quando fiz as loas. Minha filha,
Ginga, por exemplo, está com 29 anos. Maria Hilda, filha de Israel
Semente, tem agora 30 anos, é jornalista e mora na Inglaterra. Acho que
a mais nova, é Odara, filha de Maurício Silva, que deve estar com uns 15
anos. Tem todo um envolvimento espiritual a feitura destas músicas, e o
melhor é que todas elas estão aí, bem, trabalhando, criando”.
Mas a
história de Estrela brilhante remonta aos anos 70. Petu e Veludinho, a
loa que abre o repertório, foi composta em 1974, quando Erasto
Vasconcelos passava uma temporada em Ouro Preto. Outras foram feitas na
década de 80: “O que me levou a fazer estas músicas foi o fato de
observar que os maracatus apenas batucam, quase não cantam. Só há umas
três ou quatro loas que eles sabem. Queria criar um repertório de
maracatu-canção. Fiquei com a fita gravada e guardada tanto tempo porque
não me sentia estimulado a lançar, já que o maracatus não estava tão bem
quanto hoje”, explica o percussionista.
Estrela
brilhante, no entanto, quase era lançado pelo selo Quilombo, de Milton
Nascimento, em 1997: “Milton escutou com Wagner Tiso e mandou um
contrato, porque adorou o trabalho e queria lançar por um selo que ele
estava criando, me deu até um adiantamento. Mas isto aconteceu
exatamente quando o empresário dele faleceu, e para piorar, Milton teve
aquela crise pesada de diabete. Então o pessoal me devolveu o material,
já com capa pronta, feita por Maurício Silva”, lembra Erasto
Vasconcelos.
O
estímulo para resolver a lançar o disco foi novamente observando os
maracatus: “Hoje em dia há centenas deles, de jovens, uns nem batucam
bem, mas acho uma coisa saudável tantos maracatus. Então decidi lançar o
CD e queria que este repertório fosse utilizado pelo pessoal que toca
maracatu pelas ruas do Bairro do Recife, pelas ruas de Olinda. Acho que
o maracatu precisa ter também um repertório cantado. No passado
compositores como Capiba e Sebastião Lopes fizeram maracatus-canção, mas
só uns poucos são conhecidos”.
E ele não
pretende que a música de Estrela brilhante fique apenas em Pernambuco:
“Eu vou fazer o show deste disco com um grupo de cinco mulheres, formado
nas oficinas de percussão que eu dou. É com elas que vou fazer o pocket
show no lançamento. Mas quero levar para São Paulo e outras cidades,
porém só se for o grupo completo. Porque eles quiseram que eu fizesse o
Jornal da Palmeira lá, mas com uma banda formada em São Paulo e não me
interessei”, diz Erasto.