Festival se muda para o Chevrolet Hall e aposta em Céu, Bad
Brains, Mukeka di Rato, Autoramas, New York Dolls
Marcos Toledo
mtoledo@jc.com.brEm 2007, o Abril pro Rock debutou e, apesar da marca
respeitável de 15 edições de um festival de música independente, o clima
parecia mais de preocupação do que de comemoração, sobretudo a respeito do
futuro do evento. Um ano depois, tudo parece haver mudado.
Durante coletiva de imprensa realizada na Livraria
Cultura (Bairro do Recife), o próprio semblante dos produtores Paulo André
Pires e Melina Hickson denunciava uma certa tranqüilidade.
Este ano, o festival, que conta com várias novidades, promete uma
aguardada esperança de renovação marcada por um ambiente mais adequado (o
Chevrolet Hall, em Olinda), curadoria diversificada, inclusão de palestras,
e uma programação que contempla iniciantes, a exemplo das bandas regionais
selecionadas pelo site Link Musical, artistas expressivos do circuito
independente, como Mukeka di Rato, Autoramas e Júpiter Maçã, expoentes da
nova cena musical brasileira, como a cantora Céu, e nomes fortes nacionais e
internacionais, como Lobão, Bad Brains, New York Dolls, Gamma Ray e
Helloween.
Como já foi divulgado antes, este ano, o APR volta a ser realizado em
três dias, porém, com uma data separada: as atrações com perfil punk e
hardcore (HC) tocam no dia 11 de abril (sexta-feira) e as demais com perfil
mais light e heterogêneo, no dia 12, os fãs do metal foram presenteados com
dois shows dos grupos alemães Gamma Ray e Helloween, no dia 27.
A grande novidade ficou por conta da vinda da americana Bad Brains.
Veterana, esta banda de punk-reggae dos anos 70 – que voltou à cena com sua
formação original – tem muito o que mostrar, até porque seu forte são as
performances ao vivo. “Para a gente, é muito importante trazer bandas como
New York Dolls e Bad Brains, que são lendas”, afirma Paulo André.
Ainda no âmbito internacional, além das já citadas NY Dolls – esta,
precursora do punk, desfalcada e resgatada apenas com o vocalista David
Johansen e o guitarrista Sylvain Sylvain da formação original –, e Gamma Ray
e Helloween – que aproveita a turnê Hellish Rock, das duas bandas em
conjunto na América Latina –, o festival aposta no neozelandês The Datsuns,
grupo que caiu nas graças do público britânico com um som que evoca o estilo
clássico de bandas como AC/DC e Thin Lizzy.
A curadoria das atrações locais e nacionais, Paulo André dividiu com o
jornalista Bruno Nogueira (Folha de Pernambuco) e Guilherme Moura (editor do
site RecifeRock!). “Tem muita coisa acontecendo para ficar acompanhando”,
explica o produtor. “E também por conta de outros compromissos assumidos.”
Vice-presidente da Associação Brasileira dos Festivais Independentes
(Abrafin), Paulo André cita que foram realizados cerca de mil apresentações
gratuitas no Grande Recife do ciclo natalino ao Carnaval, e volta a tocar na
tecla de que a realização constante deste tipo de evento prejudica os demais
que cobram ingresso. “A cidade se transformou na maior casa de shows aberta
ao público do Brasil. A gente teve que se adequar a essa realidade”, conta o
produtor.
A primeira ação neste sentido foi a de dar preferência na escalação a
atrações que não participaram dos palcos públicos nos últimos dois meses.
Uma das raras exceções é o grupo Vamoz!, que participou do último Pré-AMP.
Além da dificuldade de encontrar artistas de qualidade não-inseridos nesse
nincho gratuito, conforme lembra Melina Hickson, a banda pernambucana não
contou com um público inexpressivo em sua apresentação na semana
pré-carnavalesca, como Bruno Nogueira pôde conferir pessoalmente.
Chama a atenção nesta seleção a escolha de artistas como Júpiter Maçã,
Autoramas, Wander Wildner e Mukeka di Rato, que já fazem o circuito de
festivais independentes pelo Brasil afora (aqui mesmo no Recife, o Mukeka
Autoramas fizeram ótimos shows nos últimos anos atraindo público expressivo)
e tem boa comunicação via internet, mas não conseguem romper a barreira para
chegar a um maior número de pessoas sobretudo pela ausência de mecanismos
que tornam isso possível, como o principal deles, que continua sendo
ignorado: o rádio. Para Paulo André, o circuito da Abrafin tem o papel de
consolidar as bandas de médio porte, mas, mesmo com o suporte da web e dos
cadernos culturais dos jornais, não é suficiente para fazer que artistas com
este perfil cheguem ao grande público.
A opção, foi apostar no segmento que fez literalmente o nome do festival.
“Por uma questão de sobrevivência e coerência com o que foi feito nos
últimos anos, tivemos que optar por um perfil mais rock”, diz o produtor. A
autenticidade é também a aposta de Melina: “Essa programação foi feita para
um público fiel, não um público flutuante”.
(©
JC Online)
A
transferência do Abril pro Rock para o Chevrolet Hall derivou de uma
série de conjunturas favoráveis à mudança para a casa de shows e
desfavoráveis à permanência no pavilhão do Centro de Convenções de
Pernambuco (Cecon), no mesmo Complexo de Salgadinho em Olinda. Em linhas
gerais, os organizadores avaliam que a novidade traz mais tranqüilidade
tanto para a produção quanto para o público e inaugura um novo ciclo na
história do evento. Entre as diferenças estão a vendas de ingressos para
camarotes.
Após 11
edições no Cecon, o local passou a ser reavaliado por vários motivos. De
acordo com Paulo André Pires, muitos artistas já mencionavam a
precariedade da acústica do pavilhão, que piorou com o fechamento das
aberturas para a implantação um sistema de ar-condicionado. “A mudança
tem a ver também com custo. O Chevrolet Hall já está todo pronto”,
explica o produtor. O Espaço Cultural Tacaruna, na antiga fábrica ao
lado, chegou a ser cogitado, mas foi descartado por estar
temporariamente indisponível.
“O
Chevrolet procurou a gente”, conta a também produtora Melina Hickson.
“Está acontecendo uma parceria legal. É um momento diferente também para
o Chevrolet Hall. Pode ser muito legal, trazer uma nova atmosfera”,
acredita. Os produtores apostam também que o novo espaço transmita para
o público, além, do conforto, uma imagem melhor de segurança.
Mesmo
preparada para receber diferentes tipos de eventos musicais, a casa
receberá alguns incrementos para a realização do APR, que conta com três
palcos. Além do palco fixo do local, outros dois serão montados à frente
e ao lado ou formando um triângulo com o principal. Na área próxima aos
sanitários, logo no topo das escadas de acesso à pista, serão montados
os estandes da Feira de Arte & Comportamento que compõe o evento.
Este ano,
o Abril pro Rock não vai oferecer ingresso promocional para quem comprar
para mais de um dia. “Não teve como dar desconto”, lamenta Paulo André.
“O que a gente fez foi não aumentar o preço.” (confira os valores no
quadro acima).
PALESTRAS
Na
próxima segunda-feira, os organizadores divulgam no site Link Musical
(www.linkmusical.com.br) os dez artistas (cinco pernambucanos e cinco de
outros Estados do Nordeste) que serão submetidos a julgamento dos
internautas. Ao todo, houve cerca de 200 inscrições.
Também na
segunda, serão anunciadas as palestras que irão compor a programação
paralela. Em formato de workshop, suprem a demanda deixada em aberto com
a não realização este ano do Porto Musical. Serão abordados do tipo
“como produzir uma banda”, “como fazer uma turnê pelo Nordeste” ou “como
fazer um festival”.
(©
JC Online)
Visite o site
do Abril Pro Rock