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 Lírio Ferreira filma legado de Humberto Teixeira

 

 

O diretor Lírio Ferreira
 

Autor de dois longas-metragens vistos recentemente nos cinemas, Lírio Ferreira (Cartola: música para os olhos – parceria com Hilton Lacerda –, Árido movie) voltou ao Recife para restabelecer seus contatos enquanto se prepara para iniciar a carreira de mais um documentário que dirigiu, O homem que engarrafava nuvens, cinebiografia de Humberto Teixeira, parceiro de Luiz Gonzaga.

O filme sobre Teixeira foi uma encomenda da filha do compositor, a atriz Denise Dumont, que há seis anos mergulhou na obra do pai com o objetivo de tornar o acervo dele conhecido e preservado. A primeira parte do projeto da produtora foi a realização de um show no Teatro Rival (RJ), em 2002, com participação de Maria Bethânia, Caetano Veloso, Chico Buarque, Gilberto Gil, Gal Costa, Sivuca, Lenine, Fagner, Zeca Pagodinho, Elba Ramalho, Sivuca, Rita Ribeiro, Carmélia Alves e o grupo Cordel do Fogo Encantado, e que resultou no CD e songbook O doutor do baião (Biscoito Fino).

A partir do fim de 2006, começaram as filmagens do documentário, que foi gravado em Fortaleza, no sertão do Cariri, em Exu (PE), no Rio de Janeiro e em Nova Iorque. A exemplo de Cartola, O homem que engarrafava nuvens deve transceder os limites do personagem e contar mais de meio século da história do Brasil.

Lírio explica que a obra foi concebida para atingir a três objetivos: apresentar ao público a figura de Humberto Teixeira, artista ofuscado pela sombra de Gonzagão, dar ao baião – ritmo que influenciou até Bob Marley e The Beatles – a verdadeira importância que tem para a MPB, além de registrar a reaproximação de Denise com a obra do pai.

O título remete a um depoimento de Teixeira durante entrevista ao pesquisador Nirez. Para ilustrar como era sua vida com a filha Denise, quando morava em uma casa em São Conrado, no Rio de Janeiro, o compositor disse: “A gente passava o dia engarrafando nuvens”.

Para o diretor, a fase mais delicada foi a de montagem do filme. “Foi muito extenuante achar um caminho”, conta. O filme, que tem direção de fotografia de Walter Carvalho, estréia nos cinema no próximo semestre.

Cumprida sua missão com o documentário, Lírio afirma que deseja voltar para a ficção, embora às vezes acredite que não raro seus trabalhos exercem papéis invertidos. O baile perfumado (1997), longa de estréia que dirigiu com Paulo Caldas, ele vê mais como documentário, e Cartola, mais como ficção.

(© JC Online)


Marcelo Gomes já tem seu 2º longa no papel

Marcos Toledo
mtoledo@jc.com.br

Depois de haver passado oito meses em Berlim escrevendo o primeiro tratamento do roteiro de seu novo filme, Marcelo Gomes voltou ao Recife para cuidar de seus novos projetos. Diretor do filme indicado pelo Brasil em 2006 para concorrer a uma vaga na categoria do Oscar de melhor filme estrangeiro, o cineasta ainda desfruta da boa repercussão que seu longa-metragem de estréia, Cinema, aspirinas e urubus (2005) ainda tem ao redor do mundo.

Basta dizer que a obra participou de mais de cem eventos, faturou 52 prêmios e até hoje rende convites para o diretor participar de festivais nos cinco continentes. O cineasta, contudo, está focado em seu novo trabalho, Era um vez, Verônica, obra que vai falar sobre jovens de classe média, suas ilusões e desilusões – afetivas e profissionais – em relação ao Recife e ao Brasil. “É um conto de fada ao contrário”, adianta o roteirista, “sobre a dor e a delícia de viver no Recife.

O sucesso de Aspirinas, sobretudo no mercado internacional – paradoxalmente o filme teve um público de apenas 150 mil espectadores nas bilheterias brasileiras –, tem proporcionado ao autor ainda hoje pelo menos um convite para participar de eventos pelo mundo afora, seja para mostrar o longa em festival ou mostra não-competitiva ou ministrar alguma palestra. Os prêmios, quando acontecem, ajudam a investir em material – como uma máquina fotográfica ou um computador –, que lhe ajudam em suas pesquisas, ou mesmo em mais um mês de dedicação exclusiva a seu trabalho.

Um dos prêmios mais bem-vindos, contudo, foi o que lhe proporcionou dar o pontapé em seu novo projeto. Marcelo ganhou uma bolsa do Serviço Alemão de Intercâmbio Acadêmico (Daad, na sigla alemã), que lhe permitiu passar um semestre (prazo que foi estendido por mais dois meses, ao todo, ficou de maio a dezembro de 2007), em Berlim, elaborando o primeiro tratamento de Era um vez, Verônica.

“Saí daqui do Brasil com uma pesquisa feita. Depois, desenvolvi o tema. Acordava cedo e lia muito. Passava a manhã escrevendo um roteiro que se passava no Recife e, à tarde, ia conhecer a cultura alemã. Foi a primeira vez que escrevi no ‘exílio’”, conta. Durante sua estada, participou de discussões, não apenas com outros cineastas, mas também com músicos, escritores e artistas plásticos, além de freqüentar debates em outras cidades alemãs.

Além do projeto de Era um vez, Verônica – que se encontra em fase de captação de recursos –, Marcelo Gomes desenvolve um argumento (etapa anterior ao roteiro) em parceria com o mineiro Cao Guimarães, diretor do do recente longa Andarilho (2007) e do curta Da janela do meu quarto (de 2004, Prêmio Especial do Júri no Cine-PE: Festival do Audiovisual do ano seguinte). O homem das multidões (título provisório) é inspirado em Edgar Allan Poe, deve-se passar em alguma grande cidade do Brasil e trata da solidão. “Um tema muito presente na sociedade e ausente no cinema brasileiro”, afirma Marcelo. E com Karin Aïnouz, parceiro nos roteiros de Aspirinas e de Madame Satã, desenvolve uma adaptação do documentário de média-metragem experimental Sertão de acrílico azul-piscina, realizado há quatro anos e que foi pouco visto. A nova versão, segundo Marcelo, terá um personagem e, tal qual o antecessor, trará mais uma visão romântica do sertão.

(© JC Online)


Tudo azul na produção Pernambucana

Eric Laurence, Sérgio Oliveira e Renata Pinheiro tocam seus projetos de audiovisual enquanto lutam por recursos

Marcos Toledo
mtoledo@jc.com.br

O grande interesse despertado pela realização do 1º Edital de Fomento à Produção Audiovisual do Estado, promovido pela Fundarpe, dá uma noção do quanto a classe está ávida por recursos para concretizar seus projetos. Dos 171 projetos inscritos, 102 longa e curtas-metragens e produções para TV avançaram para a segunda fase de avaliação.

À medida que os recursos – não só os estaduais, mas também federais, municipais e privados – são liberados, a produção avança. Com o trunfo da experiência, cineastas revelados na última década preparam novos filmes que, se for mantida a regra dos anos recentes, devem brilhar em breve não apenas nas telas do Recife, como em várias cidades do mundo. Alguns deles têm em comum a preocupação com o estado de espírito do homem contemporâneo, sobretudo no trato com a solidão.

É o caso do vencedor do Concurso de Roteiro Ary Severo de 2006, Azul, de Eric Laurence, diretor de Entre paredes (2005), que arrematou 38 prêmios pelo mundo afora.

O novo projeto de Eric acaba de ser rodado em Lagoa do Ouro, município do Agreste do Estado, e tem como ponto de partida o conto Uma doce maneira de ir morrendo, da escritora Luzilá Gonçalves Ferreira. Na história, uma velha senhora (papel da atriz Zezita Matos) caminha vários quilômetros todos os dias até a casa da vizinha (vivida por Magdale Alves) para que esta leia a carta que o filho lhe deixou.

“Eu estava querendo fazer um filme diferente de Entre paredes”, explica o cineasta. Segundo ele, o filme mantém a mesma raiz no argumento, porém, tem um desenvolvimento próprio. A começar pela estética, que privilegia a cor que dá título à produção e cujo resultado em muito depende do trabalho do experiente fotógrafo Antônio Luís Mendes e do diretor de arte Dantas Suassuna.

“O processo de montagem também vai delimitar muita coisa. Azul é bem distinto porque ele é da poética visual, é mais narrativo”, explica o diretor. “Tem também início, meio e fim, mas o importante é a poesia. A abordagem é muito mais visual, com enquadramentos como se fossem pinturas, quadros.”

Rodado em Super 16 mm, Azul levou sete dias para ser filmado. Eric, que produz a obra junto com Isabela Cribari, parceira em todos seus filmes, busca verba para finalizar o curta, o qual acredita que estará pronto até junho deste ano.

A QUATRO MÃOS

Outra parceria deve culminar, em breve, nos próximos trabalhos do casal Sérgio Oliveira e Renata Pinheiro. No momento, os cineastas estão na Argentina rodando o documentário Epox. Sérgio (Porcos corpos, Schenberguianas), tinha a idéia de realizar um filme sobre os andarilhos que viajam o mundo sem destino certo e que sobrevivem do artesanato. Aqui no Recife, encontrou um casal formado pelo cubano Reinaldo e a argentina Tatiana.

O trabalho foi contemplado no Programa Petrobras Cultural 2006-2007. Há dois meses, o diretor retomou o contato com os personagens via internet e descobriu que eles estavam na Patagônia, para onde rumou a fim de registrar o modo de vida deles. “O filme exige uma liberdade igual à deles”, conta.

Já Renata fará em breve sua estréia na direção com O superbarroco, projeto contemplado em edital do Ministério da Cultura em dezembro de 2006. A idéia partiu de um argumento de Sérgio para uma instalação de artes plásticas com vídeo e obras em papel. Depois, a diretora resolveu transformá-lo em filme. “É um curta experimental – enquanto linguagem cinematográfica –, de um personagem só”, define.

Usando dos recursos do cinema, a autora pretende provocar os sentidos do espectador conduzindo-o a uma imersão dentro do universo da estética barroca. O personagem central é um homem solitário que perdeu uma figura feminina, vive em uma casa em ruína, tem um emprego comum, é aficionado por uma cantora e alimenta um vício de coletar cosméticos. “O principal do barroco é o exagero, o excesso com a capacidade de golpear todos os sentidos humanos”, afirma a cineasta. As filmagens devem começar até o início de maio devendo o curta ficar pronto no próximo semestre.

(© JC Online)

Com relação a este tema, saiba mais (arquivo NordesteWeb)


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