Músicos pernambucanos contam como se viram para ganhar dinheiro diante
de um cenário não muito animador
"A gente quer aproveitar este ano para colher o que plantamos em
2008, ou seja, investir de forma mais agressiva numa carreira no
exterior. Fomos à Argentina, saiu uma matéria com a gente na Rolling
Stones de lá, que já está ajudando a gente entrar no mercado do
Mercosul", quem diz isto é Fred Zeroquatro, da Mundo Livre S/A, que já
tem na agenda internacional, shows nos EUA, Europa (Turquia, Espanha,
França, Portugal). A banda está na fase de pré-produção de um CD de
inéditas: "O título ainda não foi definido. Também não definimos todas
parcerias, mas uma delas deve ser Eugene Hütz, da Gogol Bordellol.
Pretendemos gravar um DVD, estamos com uma reunião marcada para definir
o formato, porém não sabemos quando será a gravação. Encaminhamos um
projeto ao Funcultura, mas não passou. Acho que tem uma galera lá que
acha que a Mundo Livre não precisa de grana, porque está rodando o
mundo. Este pessoal não sabe que o mercado mudou. Enquanto isso Vanessa
da Mata recebe todo ano incentivos da Lei Rouanet"..
"Com essa coisa da crise os patrocinadores se recolheram. Então
resolvi lançar meu disco Tem juízo, mas não usa, numa quantidade menor,
logo depois do Carnaval", diz Lula Queiroga, alfinetando a pouco
lembrada Lei de Amparo à Cultura. "Este fundo tem muita grana, mas vai
quase tudo no Rio ou São Paulo, para a gente menos de dois por cento.
Ele ampara quem já está amparado, Xuxa e os Duendes ou Gilberto Gil".
Quem também está com disco engatilhado é a Mombojó: "Pela primeira
vez vamos bancar um CD com dinheiro que ganhamos com música. Sempre
gravamos com patrocínio, por gravadora. Lei de incentivo é legal, mas
acomoda. A gente vai alugar o estúdio da Trama, em São Paulo, e faz o
disco com produção de Kassin", conta o vocalista Felipe S. O grupo está
morando na capital paulista, e tem tocado mais no Sudeste do que em
Pernambuco: "Aqui há poucos espaços, mas as apresentações que fizermos
no Recife será organizada por nós mesmos. Já provamos, quando tocamos
com China no Armazém 14, que a cidade tem público para show pago",
completa Felipe.
"Se fosse viver daqui, morria de fome, felizmente tenho o mercado lá
fora, principalmente o europeu", comenta o percussionista Naná
Vasconcelos, que grava este ano com uma sinfônica (show antecipado no
último Virtuosi). O experiente Naná, que há nove anos voltou a morar no
Recife, confessa que para ele é um mistério o que acontece no mercado
musical pernambucano: "Não tem como deixar de comparar. Os artistas da
Bahia vivem na Bahia, porque têm um mercado local. A gente com tanta
produção e quando fazem estes festivais de verão, as atração vêm quase
todas de fora. Tenho fé no novo secretário de Cultura, Renato L, ele fez
parte do movimento mangue, que mudou o cenário da música local. Lembro
que vi com alegria Chico Science lotando os locais onde fazia shows. De
repente isto deixou de acontecer", lamenta, Naná. O percussionista este
ano continua fazendo a abertura do Carnaval com várias nações de
maracatu.
"É um ciclo vicioso, os artistas não tocam no rádio nem na TV porque
não são populares, e não são populares porque não tocam no rádio nem na
TV". comenta Siba Veloso. Resta ao músico criar outros caminhos e
espaços. Siba, este ano, além da continuidade do trabalho com o grupo a
Floresta do Samba, lança um CD, em março, com o tocador de viola mineiro
Roberto Correa, Violas de bronze: "A gente vinha fazendo eventuais
apresentações juntos. Com este disco vamos naturalmente para uma turnê.
Espero que aconteçam mudanças no mercado musical daqui neste ano, porque
a nossa geração conseguiu impor respeito, tanto localmente, quanto no
exterior, porém não conseguiu um mercado para sua música em Pernambuco".
Siba discorda de quem não considera popular a música que faz a sua
geração, e quem veio depois dela: "Claro que não é popular feito estas
coisas que tocam no rádio, mas a nossa linguagem musical é bem popular.
Sinto isto fora de Pernambuco, porque lá nos apresentamos mais em TV
alternativas, na TV Cultura, e na rua muita gente vem conversar com a
gente".
Trabalhando em silêncio, o caruaruense Junio Barreto, um ilustre
desconhecido em seu estado, tem espaço certo e sabido em São Paulo, e é
gravado por nomes como Gal Costa. Ele acaba de lançar um EP com três
faixas: "Mas só para vender em shows, coisa que venho fazendo bastante
em São Paulo. O CD sai em abril".