Quando, em
1953, José Rozenblit resolveu bancar o 78rpm que colocaria o nome Rozenblit
no mercado de discos, Claudionor Germano foi convidado para cantar o
frevo-canção que estaria no lado A do bolachão, Boneca (Aldemar Paiva/ José
Menezes). A escolha recaiu nele não porque já fosse intérprete de músicas
para o Carnaval, e sim por ser um dos mais prestigiados cantores do Recife.
Seis anos mais tarde, a Rozenblit já era uma gravadora consolidada no
mercado fonográfico nacional, e seus diretores resolveram prestar uma
homenagem a Capiba, cuja carreira como compositor completava 25 anos:
“Capiba me contou que o LP seria feito e perguntou se eu gostaria de
interpretar as composições dele. Disse que seria um prazer e aceitei na
hora”. O resultado foi o álbum Capiba 25 anos de frevo, lançado
simultaneamente com O que eu fiz... e você gostou, este com composições do
compositor e maestro Nelson Ferreira.
“Quando
surgiu esta história do disco para Capiba, Nelson Ferreira, que não queria
ficar atrás, surgiu com a idéia deste outro e também me convidou para
gravar”, continua Claudionor. Embora tenham sido lançados em 1959 (gravados
no segundo semestre daquele ano), ambos os LPs, que agora em 2009 estão
completando meio século, eram dirigidos à folia de 1960: “Naquele tempo os
discos de Carnaval eram lançados com antecedência, e muito bem divulgados”.
Mesmo sabedor desta estratégia da Rozenblit, Claudionor Germano (que
trabalhou na gravadora), ficou com um pé atrás ao aceitar ser o intérprete
dos dois álbuns: “Pensava que fosse alguma jogada de marketing, que eu não
sabia bem o que fosse. Até então eu cantava muito pouco frevo. Meu negócio
era mais baladas, músicas românticas. Por seis anos consecutivos fui
considerado o melhor cantor da cidade. Quer dizer, fui hexa antes do
Náutico, e não foi por cantar frevos”, brinca o cantor, que é alvirrubro.
O sucesso de
Capiba 25 anos de Frevo e Nelson Ferreira o que eu fiz... e você gostou deve
ter surpreendido até o próprio José Rozenblit. Afinal o frevo, embora fosse
um sucesso nas ruas da capital pernambucana desde o final do século 19,
nunca foi um estouro de vendas (a exceção havia sido o frevo-de-bloco
Evocação, de Nelson Ferreira, que em 1957 foi o campeão do Carnaval
brasileiro).
“Os discos
foram começando a vender bem, com três meses, as vendas dispararam. Passaram
vender tanto, que botaram um placar na gravadora. De um lado Capiba, do
outro Nelson Ferreira, com os números de cópias vendidas. Dentro de pouco
tempo Capiba estava lá na frente. A gente não tem como fazer um cálculo do
que vendeu. As vezes eu chegava com Capiba à noite na sede da gravadora, e
lá estavam duas kombis de Adolfo da Modinha cheia de LPs, sem nota fiscal.
Capiba nunca brigou por isto. Até porque não vivia de música, ganhava bem no
Banco do Brasil”, conta Claudionor Germano, que afirma não ter recebido
muito com seus dois discos mais conhecidos, “Não ganhei quase nada, porque a
Rozenblit não pagava. De lá para cá não vi a cor do dinheiro. Até hoje vivem
relançando as músicas de Capiba e de Nelson que gravei, botam este negócio
de 20 supersucessos, e a gente não vê a cor do dinheiro”, queixa-se.
Nem ele nem
ninguém tem idéia da quantidade de cópias que estes dois discos venderam.
Sobretudo o 25 anos de frevo, provavelmente o recordista brasileiro em tempo
de permanência em catálogo. Com diversas capas, pelo selo Mocambo (da
Rozenblit), Polydisc, ou pela InterCD, gravadora paulista, que os relançou
com as capas originais, ele está em catálogo desde seu lançamento. O de
Nelson Ferreira teve menos exposição. Seus fonogramas foram espalhados por
diversos relançamentos. Somente teve uma reedição com capa original
recentemente quando a citada InterCD passou a relançar o catálogo da extinta
Rozenblit, há alguns anos pertencente à Polydisc.
O sucesso
estrondoso destes álbuns, que popularizou o frevo por todo o Norte e
Nordeste, chega a ser curioso, porque a maioria das composições era antiga.
Borboleta não é ave, por exemplo, que está no disco de Nelson Ferreira, tem
a honra de ter sido o primeiro frevo a chegar ao disco, em 1923, pelo cantor
Baiano (Manuel Pedro dos Santos, nascido em Santo Amaro da Purificação, no
recôncavo da Bahia), primeiro cantor profissional do país na era da música
gravada), enquanto É de amargar, de Capiba foi lançada por Mário reis em
1934. Chora palhaço, de Nelson Ferreira foi gravada em 1939, pelo Coral RCA,
e Julia, de Capiba, foi cantada por Francisco Alves em 1938.
A razão do
sucesso para Claudionor Germano não tem nenhum mistério: “As melodias são
bonitas e as letras têm conteúdo, ao contrário destas coisas de axé que se
tocam hoje. As músicas de Capiba são eternas. Ele compunha como se fizesse
para uma mulher imaginária, são músicas com letras que têm muita força, por
isso é que acho que os frevos de Capiba não devem ser cantados com um
andamento muito rápido. Devem ser mais lentos para que o pessoal possa
entender bem as letras”.
Ainda em
1959, Claudionor Germano gravaria mais um disco de composições de Capiba (e
parceiros): Sambas de Capiba, há anos, inexplicavelmente, fora de catálogo.
No ano seguinte, a Rozenblit repetiu a dose, com a dobradinha de
compositores, e os LPs Carnaval começa com “C” de Capiba, e Carnaval de
Nelson Ferreira O que faltou... e você pediu. Novamente o cantor seria
acompanhado pela Orquestra Mocambo, regida por Nelson Ferreira. Mais uma
vez, Claudionor diz que não ganhou dinheiro com estes álbuns, mas nem por
isto deixou de lucrar com eles. “Foram tudo para mim. Foi através destes
discos que me projetei nacionalmente, e até no exterior”, diz o cantor.
Compositor lança novo álbum às vésperas do Carnaval, volta a ressaltar
sua total devoção ao frevo, e reclama das emissoras de rádios locais
Getúlio Cavalcanti tem 34 prêmios conquistados em festivais de música
para carnaval, entre esses 25 como primeiro lugar, a maioria em
frevos-de-bloco. É considerado o maior autor vivo neste estilo de frevo, com
vários clássicos, como Último regresso e O bom Sebastião. Uma carreira de
iniciada em 1962, com Você gostou de mim, gravada na Rozenblit, a convite do
maestro Nelson Ferreira: "Em 1965 dei uma parada. Para trabalhar como
comerciante, mas em 1975 fiz O bom Sebastião e não parei mais", conta
Getúlio Cavalcanti, que lança hoje à noite, na sede do Náutico, o CD O
carnaval multicultural de Getúlio Cavalcanti.
O "multicultural" no título não é apenas uma carona no termo tão em moda:
o compositor aplica no frevo doses de vários de vários outros ritmos, mas
incursiona bem mais pelo frevo-de-rua. "Aproveitei este movimento da
multiculturalidade, que é o formato do nosso carnaval, para fazer um
trabalho que não tem só frevo, já que se brinca atualmente com tantos tipos
de gêneros, inclusive o samba. Uma multiculturalidade que se estende também
aos intérpretes. O CD tem vários convidados especiais, embora, a voz de
Getúlio Cavalcanti predomine no álbum. Estão com ele no CD: Ed Carlos (Velho
Recife), Dalva Torres (Capibaribe), Luis Melodia (Último regresso), Geraldo
Maia (Flabelista, com Getúlio Cavalcanti), Coral Timorante (A flor dos
milagres, com Getúlio Cavalcanti).
Naturalmente não poderiam ficar de fora do disco Alessandra e Cassius
Cavalcanti, filhos do compositor. Das 15 composições, a única que não é
inédita é Último regresso, interpretada por Luiz Melodia. Aliás a mesma
gravação que está no álbum 100 anos e frevo - é de perder o sapato. "Esta
música tem que estar em todos os meus discos. O pessoal vem comprar e
pergunta logo se tem Último regresso, não tem jeito. Quis botar o mesmo
fonograma de Luiz Melodia do disco do centenário do frevo, porque acho que a
interpretação dele ficou muito boa", diz Getúlio Cavalcanti.
Getúlio é de um tempo em que não era difícil ser tocado no rádio, desde
que se fizesse uma caitituagem bem-feita. A caitituagem, hoje termo fora de
uso, era o corpo a corpo feito pelo cantor nos programas de rádio. Getúlio
Cavalcanti "caititua" no texto da contracapa do disco: "Espero desta forma
angariar a simpatia das rádios locais, em especiais as figuras dos
supercomunicadores Geraldo Freire, Ednaldo Santos, Walter Lins, Hugo
Martins...", uma estratégia que parece estar surtindo efeito. "O disco
chegou semana passada, distribui com as rádios e a receptividade vem sendo
muito boa. As rádios, na medida do possível, estão tocando. Claro que nem
todas, muitas têm uma programação que você pensa que está no Rio ou São
Paulo. Estas nunca tocam frevo, mas nas outras o disco está bem", diz
Getúlio que que quer lançar um disco todo ano. "E sempre no baile do Bloco
da Saudade. Sexta vão ter O coral e a orquestra do bloco, com o maestro
Bozó". Do disco participam ainda os maestros Clóvis Pereira e Edson
Rodrigues. Na maioria das faixas, os arranjos são de Fábio Valois.