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Histórias de guerreiras

25/01/2009

 

 

Foto: Daniela Nader/Divulgação

As heroínas de Tejucupapo, parte da história do Brasil contada na rota Engenhos e Maracatus
 

Investigação sobre os efeitos míticos na construção de obras teatrais aproxima criação de pesquisadora pernambucana do trabalho das mulheres de Tejucupapo

Lydia Barros // Diário

Luzia Maria da Silva, 63 anos, é uma típica mulher de Tejucupapo. Não por acaso, é "a voz" desse pequeno povoado de 20 mil habitantes, localizado a cerca de 63 quilômetros do Recife, que parece apagado do mapa de prioridades da administração pública.


Desde 1993, as mulheres do povoado dramatizam o episódio histórico. Foto: Juliana Leitao/DP/D.A Press.
Casou aos 18, ficou viúva aos 29, teve oito filhos (criou sete), lavou roupa para fora, engomou, passou jogo do bicho e hoje respira aliviada como funcionária pública - trabalha como auxiliar de enfermagem da unidade mista da prefeitura de Goiana. Dona Luzia foi uma das fundadoras do Clube das Mães da cidade, mais tarde transformado em Associação Heroínas de Tejucupapo, que desde 1993 responde pela montagem do espetáculo A batalha das guerreiras, encenado sempre no último domingo de abril, nas trincheiras cavadas pelas guerreiras ancestrais daquela cidade histórica. É uma mulher que faz questão de dizer da alegria (e da energia) que investe na comunidade onde ao longo dos anos foi se transformando em uma espécie de "conselheira para assuntos gerais".

Luciana Lyra, 34, não é de Tejucupapo, mas também pode ser considerada uma guerreira. Estudou Artes Cênicas na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), lá fez uma especialização em História da Arte, atuou no Teatro de Amadores de Pernambuco, participou da Paixão de Cristo de Nova Jerusalém, e de montagens no Centro de Artes da UFPE. Sonhou com Joana D'Arc e foi atrás de sua mítica, numa pesquisa que começou com a montagem de um espetáculo de conclusão de curso, Joana in cárcere (2001), que dirigiu e estrelou, e seguiu com o mestrado na Unicamp, do qual resultou o trabalho de dupla face (uma dissertação e uma remontagem da sua Joana pernambucana) que serviu de base para investigação que a levou a Tejucupapo. Mais precisamente, à associação presidida por Dona Luzia.

O encontro aconteceu em 2007. Luciana, a essa altura com uma parceria consolidada com Viviane Madureira na companhia Duas de Criação (SP) - responsável pelas montagens de Joana in cárcere (2005), Calunga (2006) e Conto (2007) - estava interessada nos ecos de uma "máscara da guerreira" no imaginário popular, inspirada na pesquisa que desenvolvia sobre os efeitos míticos na construção de obras teatrais e coreográficas. Na investigação, aprofundada no doutorado de Artes da Unicamp, ela refletia sobre o papel da figura heróica como uma máscara ritual dela mesma, mas ainda não conhecia a história das mulheres de Tejucupapo. Ate que o livro Tejucupapo, história, teatro, cinema, organizado por Cláudio Bezerra (ver matéria vinculada) caiu em suas mãos. "Nunca tinha ouvido falar sobre o episódio histórico nem sobre a Batlha das guerreiras. Achei incrível. Fiquei me perguntando sobre as mulheres de Tejucupapo do presente". Conseguiu os contatos e arrumou as malas.

Com base nas pesquisa de campo iniciada naquele ano, Luciana passou a trabalhar a ideia de mito como processo de aprendizagem, utilizando como lastro teórico o pensamento do sociólogo Gilberto Ran e as teorias da performance de Mario Cohen. Queria explorar a questão imagética do teatro,a ideia de que é possível deixar-se guiar por determinados mitos, em determinadas fases da vida, a partir da hipótese de que os mitos podem permanecer como tônica de uma comunidade, dependendo da necessidade, muitas vezes como afirmação. "Trabalho muito essa vertente performática, que não encara o personagem como ficção, mas como personagem de si mesmo". Luciana diz que a conexão que tem com as mulheres de Tejucupapo parte desse princípio: "Você as vê falando sobre os personagens que elas vivem na peça e, de repente, elas estão falando delas mesmas, do pai, da mãe, dos filhos, do cotidiano".

(© Diário de Pernambuco)

 


Vilarejo acolhe "residentes" com sede de conhecimento

Atrizes do grupo Fofos Encenam (SP) trabalham na montagem de Guerreiras com base na saga das mulheres de Tejucupapo

Para Luciana Lyra foi simbólico o fato dela, pernambucana, estar em São Paulo estudando o mito da guerreira enquanto as pernambucanas de Tejucupapo continuarem lutando para produzir um espetáculo que diz muito delas mesmas e - melhor - a partir de um epísódio histórico que envaidece a cidade.


Luciana Lyra (de óculus) e suas companheiras de grupo trocaram experiências com a comunidade. Foto: Luciana Lyra/Divulgação
E isso, contras todas as expectativas otimistas de longevidade da produção. É importante lembrar as demandas de uma montagem que envolve 220 moradores de uma comunidade pobre - incluindo crianças e adultos de todas as idades -, a reciclagem anual de cenários e figurinos, estrutura mínima de palco e som, além de um ritual de ensaios regulares a cada nova temporada. Tudo isso, até bem pouco tempo, sem qualquer apoio formal do Estado, município ou da iniciativa privada.

A pesquisa de Luciana Lyra tomou a forma de projeto com o selo do Funcultura em 2008. Guerreiras é o desdobramento empírico do doutorado que a atriz/diretora desenvolve na Unicamp, vinculado à área de Antropologia da USP. Além da pesquisadora, envolve sua parceira na Duas de Criação Viviane Madureira, as atrizes paulistas Simone Evaristo, Kátia Daher e Cris Rocha - que integram, junto com Luciana e Viviane, o grupo Fofos Encenam, dirigido por Newton Moreno (que fará uma consultoria dramatúrgica em Guerreiras) e Luiz Fernandes Neves - além de uma equipe formada por parceiros constantes, a exemplo do figurinista Gustavo Silvestre (que tem trabalhos com Zé Celso Martinez Corrêa, Cisne Negro e o Grial, entre outros), o cenógrafo Anselmo Madureira, a design de luz Luciana Raposo e a cantora/compositora Alessandra Leão.

O projeto compreende a encenação de Guerreiras, estrelada pelas cinco atrizes, e uma série de oficinas na comunidade que inspira o espetáculo. "Me chamava atenção a carência da população de Tejucupapo por informações sobre o teatro. Por mais que a comunidade esteja envolvida com A batlha das guerreiras, a coisa se dá de forma espontânea. Há uma sede enorme de conhecimento", afirma Luciana, que além dos workshops iniciados em 2007, conseguiu formataruma espécie de "residência" para todo o grupo envolvido no projeto, que passou uma semana "acampado" na sede da Associação Heroínas de Tejucupapo.

A comunidade participou com entusiasmo das aulas propostas pelo grupo: história do teatro (1º dia), corpo e voz (2º dia), e dramaturgia 3º e 4º dias. Da parte final resultou a montagem de uma adaptação de Os fuzis da senhora Carrar, de Brecht, a título de laboratório. Enquanto administravam as oficinas, os residentes acompanhavam as mulheres na lida da maré, na rotina de suas casas, nas trincheiras onde elas encenam o espetáculo. Esse é o alimento da montagem que tem previsão de estréia em abril. Do projetam constam oito apresentações no Recife, entre o campus da UFPE e o Sítio da Trindade, e três em Tejucupapo - será a primeira oportunidade das "atrizes-heroínas" assistirem a uma peça. A ideia é que, em Tejucupapo, Heroínas seja parte da programação festiva de abril. A idéia é também levar o grupo de Dona Luzia para a estréia no Recife, dia 15 de abril, com direito a fala oficial de abertura (por conta de Dona Luzia) e apresentação de uma roda de coco (por conta das heroínas de Tejucupapo). (Lydia Barros).

(© Diário de Pernambuco)


Água de pimenta nos olhos do inimigo

1646. Os invasores holandeses perdem o domínio sobre as terras de Pernambuco e se protegem das tropas insurgentes no Forte Orange, em Itamaracá.


Espetáculo das mulheres lembra a valentia de suas ancestrais e começou a ser montado em 1993. Foto: Fernando Gusmao/DP/D.A Press
Sofrem com a fome e o escorbuto. Bem perto dalí, o distrito de Tejucupapo surge como possibilidade de manobra diversionista, de fácil empresa, onde os inimigos poderiam reabastecer-se com suprimentos tomados da população. Liderados pelo almirante Johan Lichtart, em 24 de abril daquele ano, cerca de 600 homens se lançam ao mar em direção à Maria Farinha para tomar de assalto o vilarejo. São surpreendidos.

A Batalha do Monte das Trincheiras, como ficou conhecida a batalha de Tejucupapo - aqui narrada sem o rigor devido à História -, teve como maiores protagonistas as mulheres do lugar, que se juntaram aos maridos, filhos e irmãos na defesa do seu território - diz-se que não combatiam os holandeses, nem eram propriamente aliadas dos lusos-brasileiros, apenas lutavam por suas famílias. Relatos dão conta de que, ao perceberem a supremacia militar dos invasores, as mulheres acharam por bem usar outras armas na batalha: pimenta e água quente, chuços e enxadas. Diz-se ainda que a líder do movimento, uma mulher conhecida como Maria Camarão, saiu às ruas com um crucifixo em punho convocando as outras à guerra.

Como o plano ataque de Lichtart era conhecido pela população do lugar graças a informação de dois mensageiros, a população precisou decidir rápido como reagir. E decidiu-se por agir em duas frentes. Cerca de 30 homens (dos 100 que se encontravam no vilarejo naquele dia) escondeu-se na mata para atacar de surpresa, bem próximo às trincheiras cavadas pela população em uma das colinas que dá acesso à praia de Carne de Vaca. As mulheres-guerreiras, por sua vez, partiram para o ataque nas trincheiras, munidas de panelas com água quente de pimenta e mirando bem os olhos do inimigo. Cerca de 300 tombaram "cegos". O almirante holandês bateu em retirada.

(© Diário de Pernambuco)


Cultura é alternativa à lida na maré

Guerreiras de Tejucupapo levam adiante herança de resistência na Zona da Mata e sonham com autonomia e profissionalização

Lydia Barros // Diario

Dona Luzia é uma mulher valente que não abre mão dos sonhos. O maior deles é movimentar a Associação Heroínas de Tejucupapo durante o ano inteiro, e não apenas entre março e abril, quando a casa, cedida pela prefeitura (depois de muita reivindicação) até 2015, fica agitada com a rotina de ensaios e provas de figurino para a montagem da temporada.


Atrizes da comunidade produzem artesanato que reconta sua própria história; abaixo, agitação na casa-sede durante os ensaios e prova de figurinos. Foto: Juliana Leitão/DP/D.A Press
Não faltariam adesões já que além da vocação "cênica" da comunidade, as mulheres produzem crochês e bordados e as crianças, bonecas-heroínas. Oficinas de trabalhos manuais, portanto, seriam muito bem-vindas. Além disso, também não faltariam atrativos para a visitação de turistas e moradores da região, já que a fascinante história das mulheres de Tejucupapo é potencialmente o maior trunfo turístico do município, depois das praias de Ponta de Pedras e Carne de Vaca.

"Aqui tem pastoril, cavalo-marinho, artesanato, batalha das heroínas, mas é preciso movimentar essa produção", diz Dona Luzia, cujo sonho, na verdade, é por autonomia. Como faltaminvestimentos na vocação cultural da comunidade, que tem na pesca de maré e no corte da cana seu principal sustento, a ideia é tirar proveito de uma genuína vontade coletiva de contar uma história de resistência ancestral, protagonizada pelas mulheres de Tejucupapo no século 17. Tamanha é a força de vontade das mulheres do lugar que a encenação vem sendo levada, aos trancos e barrancos, há 16 anos, ficando "fora de cartaz", por falta de caixa, só em 1995 e 1996.

É verdade que a virada do ano 2000 trouxe boas novidades à Tejucupapo, com a entrada em cena da equipe de produção do documentário Um filme sobre mulheres guerreiras, de Marcílio Brandão e Amaro Filho, que faturou o prêmio Ari Severo de Roteiro e levou à associação presidida por Dona Luzia um sopro de profissionalização. "Pode-se dizer que o espetáculo era um antes do filme e virou outro depois", declara o diretor de Políticas Culturais da Fundarpe, Carlos Carvalho, envolvido pessoalmente com a montagem a partir de então (fez direção de elenco para ocurta e retornou várias vezes para ensaiar as "atrizes-guerreiras" e comandar a sonorização da peça). Foi depois do filme que o espatáculo passou a constar do calendário oficial do município de Goiana (com direito a cachês) e que o elenco ganhou figurino apropriado: "A gente usava nossas roupas coloridas, mas o pessoal do filme fez o estudo do figurino de época", recorda Luzia.

A carreira de sucesso de Um filme sobre mulheres guerreiras, lançado em 2002, deu visibilidade nacional ao episódio de Tejucupapo e, principalmente, à luta das mulheres do lugar para preservar essa memória. A experiência cinematográfica foi desdobrada no livro Tejucupapo - História, teatro, cinema, organizado por Cláudio Bezerra e lançado ano passado.

Mas que não se pense em dias tranquilos de lá para cá. A Associação deixou de pagar seu CNPJ e acumula uma dívida (alta para a realidade do lugar) de R$ 3 mil. Por isso, depende de produtores de fora para receber formalmente o dinheiro dos patrocinadores que consegue arregimentar - há dois anos, por exemplo, a Fundarpe comparece com recursos do Funcultura Governamental. "Estamos inclusive orientando Dona Luzia, nessa situação emergencial, para que ela possa receber os cachês através do Sated-PE (Sindicato dos Artistas), isso garantiria mais liberdade para ela e a associação", opina Viviane Madureira.

Os projetos culturais, Dona Luzia bem sabe, podem ser uma saída para a manutenção do grupo. Tanto que, em 2008, a Associação Heroínas de Tejucupapo se canditadou ao status de Ponto de Cultura (projeto do MinC gerido no estado pela Fundarpe), mas acabou ficando de fora por conta de problemas de formatação. "Conversei pessoalmente com Dona Luzia, expliquei que ela deveria procurar Marta Figueiredo, que é diretora de formatação de projetos, para evitar erros dessa natureza", comenta Carlos Carvalho. Para ele, ao envolver a comunidade em um projeto estruturador, a Associação tem tudo para se tornar um Ponto de Cultura. "Em breve sairá mais um edital para escolha de novos Pontos de Cultura; Pernambuco ainda terá 40, espero que elas se inscrevam novamente", diz Carvalho.

Luciana Lyra enfatiza a necessidade de garantir a autogestão do projeto cultural das mulheres do lugar com investimentos na capacitação técnica do grupo. "Dona Luzia é muito articulada, mas ela precisa de uma retaguarda, é preciso multiplicar esse saber. Fico impressionada com o interesse das crianças, mas não se dá continuidade ao projeto", reclama. Para Viviane Madureira, a comunidade não pode ficar à merce das vontades políticas ou dos humores de produtores culturais. "Elas devem tomar as rédeas desse processo".

Dona Luzia parece pronta para a briga. Ano passado, a peleja foi com um vereador que, segundo ela, quis lhe passar a perna. "Fiz a denúncia por escrito, tirei xerox e sai distribuindo. Entreguei na mão de um representante do governador, que veio a Goiana para uma inauguração. Ele viu que era sério e terminou contornando a situação", conta. O dinheiro, recorda, saiu um mês depois da encenação, "depois de muito sacrifício". Tudo bem. Dona Luzia ainda não dá sinais de cansaço.

(© Diário de Pernambuco)


Peleja no dia a dia; glória no palco

Severina Brito de Oliveira, 76 anos, no elenco da Batalha das heroínas desde as primeiras montagens: "Faço Maria Joaquina, acho lindo.Umas das líderes me chama, aí eu me ajoelho e peço a Deus força para lutar. Esse é o meu papel", conta. Dona Biu, como é conhecida na comunidade, fala que ouve a história da Batalha de Tejucupapo desde menina, porque precisava atravessar as trincheiras para chegar ao roçado onde trabalhava com o pai. Ela "nasceu na agricultura", casou aos 18 anos com um viúvo que tinha quatro filhos e teve mais 18 (foram três gestações de gêmeos): "Quando fiquei viúva ainda tinha três crianças pequenas e nenhum centavo pra comprar um pão. Graças a Deus, sou uma pessoa que faço amizade e não me faltou nada. Um dia, um rapaz que tinha arrendado um terreno pra plantar cana aqui perto me chamou pra içamiar a cana (colocá-la no rego para ser adubada, coberta, limpa até a época do corte),eu nunca tinha feito o serviço, mas disse a ele: ninguém nasce sabendo, vendo fazer, posso fazer melhor do que osoutros. Então, no fim, eu içamiei, cobri, adubei e limpei. Só não fiz o corte, mas não foi porque não sabia".

Claudenir de Oliveira, 40, entrou na peça somenta há um ano, mas agora não pretende parar - conta que costumava assistir às apresentações e que conhecia bem a história desde criança. Atualmente está sem trabalho, mas cuida dos dois filhos em casa e também faz croché para ganhar uns trocados. Para ela, a história das guerreiras de Tejucupapo representa a luta das mulheres do lugar de ontem e de hoje. O melhor é que, ao subir no palco para representar essa história, Claudenir afirma estar realizando um sonho. "O sonho de ser atriz e o sonho de ver nossa história reconhecida".

Edenilda do Nascimento Silva, 76, já foi cozinheira, lavadeira, artesã. Morava no Recife, mas há 10 anos mudou-se para Tejucupapo para ficar junto da filha. "Só paro de trabalhar nas heroínas quando morrer. Eu me sinto uma heroína, sou uma delas".

Eliane Maria de Santana, 34 anos, é funcionária pública. Tem dois filhos adolescentes e diz que a montagem da peça representa muito para ela e as amigas. "A vida aqui é muito dura, sofrida, principalmente para quem depende da maré# Eu mesma comecei a pescar aos 13 anos; depois fui trabalhar na casa de outras pessoas, foi duro. Por isso, a história das heroínas tem tudo a ver com a gente, com a nossa realidade, que hoje tá até piorada por conta do desemprego".

Luzia Maria da Silva, 63, "a diretora", acredita que tem um dom e precisa tirar proveito disso. "Passei 18 anos na igreja católica, montando pecinhas teatrais baseadas na Bíblia, e quando deixei a igreja - sou evangélica há 11 anos -, não parei de lutar, de mostrar o que a minha terra tem. Eu não danço, eu não bebo, só faço incentivar e criar", comenta. Afirma que a luta está no seu sangue e que, quando a alguém faz alguma coisa por amor, não liga para as "pedradas". "Quando levo muitas pedras, construo um degrau a mais para subir".

(© Diário de Pernambuco)


Como nasce um espetáculo

Dona Luzia diz que decidiu tomar Tejucupapo como sacrifício de vida.


Dona Luzia mergulhou em livros de história para criar o primeiro roteiro. Foto: Juliana Leitão/DP/D.A Press
A história das guerreiras ela ouvia da avó, mas foi durante uma temporada no Hospital do Câncer, em 1984, onde se internou para a retirada de um nódulo em um dos seios, que teve a curiosidade aguçada por uma enfermeira que lhe perguntou sobre o episódio. De volta à Tejucupapo, com a ajuda da diretora do Colégio Costa e Silva e de uma jovem da comunidade, mergulhou nas publicações e livros de história que encontrou - na Secretaria de Turismo do município conseguiu um exemplar surrado da cartilha O novo Nordeste, que lhe foi fundamental - mas ainda não sabia bem o que fazer com as informações. Em 1993, novamente internada, dessa vez para a colocação de um marcapasso, Dona Luzia foi buscar nas heroínas a força que precisava para encarar o novo problema de saúde: "Eu não aceitava aquele marcapasso, mas decidi que ia viver, essa seria a minha guerra",

O "épico" A batalha das heroínas foi se desenhando em sua cabeça "As pessoas não acreditavam que a coisa fosse sair, inclusive, nenhum rapaz daqui quis participar (as mulheres tiveram que se vestir de homem)", recorda Dona Luzia. "Na véspera da estreia, mandei uma pessoa levar um ofício na Rede Globo falando sobre o espetáculo. Na hora, só ouvi as pessoas gritando: Luzia, a Globo chegou, a Globo chegou... Foi muita emoção". A luta das mulheres de Tejucupapo, para Dona Luzia, nunca chegou ao fim: "Lutamos com as mesmas armas, que são poucas; o sofrimento é grande, mas temos que lembrar do nosso passado de glória para passar uma coisa melhor para nossos filhos".

Para Luciana Lyra e Viviane Madureira, o mito da heroína é (re)afirmado diariamente pelas mulheres de Tejucupapo porque ele é necessário. "Só que os holandeses vão tomando outras caras: é a politicagem, a falta de participação dos moradores, a falta de trabalho... a necessidade de luta permanece", argumenta Viviane. Luciana, que se lançou ao desafio de compreender como a "máscara da heroína" funciona para aquelas mulheres, admite que apesar da forçadesse mito, a comunidade vive muitas contradições (os índices de violência contra a mulher são significativos), mas acredita que a dialética que permeia a vida dessas mulheres é o que as faz ainda mais fascinantes.

(© Diário de Pernambuco)


VÍDEO

 

As Heroínas de Tejucupapo - Trailer do Filme

 



 

As Heroínas de Tejucupapo - Anúncio da Peça

 

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