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“Troquei o avião pelo violão”

08/02/2009

 

 

Foto: Divulgação

Petrúcio Amorim

 

O caruaruense Petrúcio Amorim deixou sua terra natal ainda adolescente. Foi à capital para servir à Aeronáutica, mas logo aprendeu a tocar violão e investiu na carreira de músico. Compositor consagrado, com músicas gravadas por nomes como Elba Ramalho, Zé Ramalho e Dominguinhos, Petrúcio também é sucesso como cantor. Na entrevista a Amanda Tavares, fala da saudade do Agreste e sobre sua experiência de 29 anos de carreira.

JC – Como surgiu a paixão pela música?

PETRÚCIO AMORIM – Aos nove anos de idade, quando tocava numa bandinha de música da escola em que eu estudava, em Caruaru. A vontade de compor veio depois que aprendi a tocar violão e a ouvir artistas como Luiz Gonzaga, Chico Buarque e Roberto Carlos. O trabalho dos três me serviu de inspiração. Eles são a minha escola.

 

JC – Você gosta mais de cantar ou compor?

PETRÚCIO – Sempre gostei mais de compor. E gosto de abordar as questões sociais e o amor, nas músicas em ritmo de forró. Mas sem temas tristes, sempre dando lugar à alegria. Falo também da cultura do Agreste. Agora, nem sempre o compositor é valorizado se ele não aparece, daí a necessidade de cantar também, de fazer shows e divulgar o meu trabalho.

 

JC – Porque escolheu o forró?

PETRÚCIO – Nos anos 80, participei de muitos festivais, vi que havia ídolos nessa época que cantavam forró, como Luiz Gonzaga, Trio Nordestino e Zé Ramalho. Outro ponto fundamental é o fato de ter nascido em Caruaru, que tem um São João maravilhoso.

 

JC – A letra da música Tareco e Mariola é realmente um protesto?

PETRÚCIO – É, sim. Em 1993 eu queria tocar no São João e fui impedido. Foi quando surgiu a música, que eu considero o divisor de águas da minha carreira. Mas depois deu tudo certo. A prefeitura achou importante que houvesse minha apresentação. No ano seguinte, fui o homenageado do São João de Caruaru. E toco na festa até hoje.

JC – A sensação de se apresentar em Caruaru é diferente daquela de tocar em outros lugares?

PETRÚCIO – Representa uma responsabilidade muito grande. Viajo o País todo, faço shows em muitos lugares, mas em Caruaru me sinto como um jogador carioca jogando no Maracanã. A cobrança e as críticas são maiores. Então fica a preocupação de que tudo saia perfeito.

 

JC – Quando você saiu de Caruaru?

PETRÚCIO – No final da década de 1970. Vim ao Recife, servir à Aeronáutica, mas logo troquei o avião pelo violão.

 

JC – Do que você mais sentiu falta do interior?

PETRÚCIO – Da família e amigos principalmente. Mas me faziam falta também as comidas, os costumes. Sentia saudades da jabuticaba fresquinha, do cuscuz, porque o que eu comia em Caruaru era muito melhor, nem se comparava ao da capital. Até o modo das pessoas falarem era estranho, pois vim para o quartel e lá tinha gente de todo o Brasil. De vez em quando eu tinha que ir a Caruaru para matar a saudade.

 

JC – Tem algum lugar de Caruaru que você gosta muito de ir?

PETRÚCIO – O Alto do Moura. Sempre gostei muito dos trabalhos de Vitalino. Ele ultrapassou fronteiras, sempre esteve à frente do seu tempo. Além disso, meus primeiros brinquedos foram bonecos, bois, todos de barro.

 

JC – Você ia muito à feira?

PETRÚCIO – Muito. Houve uma época em que eu estudava à noite. Então, às sextas-feiras, depois da aula, um grupo de amigos músicos se encontrava num bar na feira e ficava por lá até de manhã.

 

JC – Como você avalia o mercado de música no Nordeste?

PETRÚCIO – O forró hoje não toca só no São João. Toca o ano inteiro. E minha agenda está sempre cheia. A dificuldade é em relação à venda de discos, por causa da pirataria. Isso nos deixa preocupados com o futuro do disco e do DVD. A única parte boa é que, com a popularização (os preços dos produtos pirateados, mais baratos), tenho notado os shows mais cheios.

 

JC – Qual a sua opinião sobre o forró eletrônico?

PETRÚCIO – É modismo. Cada um tem sua maneira de expressar o que canta, mas essas músicas não têm um suporte cultural. As bandas (de forró eletrônico) trabalham muito o visual, com luz, bailarinos, som de alta potência, mas as letras das músicas destacam a bebida e a pornografia. Acho que a música é uma maneira de juntar a família, mas imagine todos reunidos ouvindo Chupa que é de uva?

(© JC Online)

 


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