O
caruaruense Petrúcio Amorim deixou sua terra natal ainda
adolescente. Foi à capital para servir à Aeronáutica, mas logo
aprendeu a tocar violão e investiu na carreira de músico. Compositor
consagrado, com músicas gravadas por nomes como Elba Ramalho, Zé
Ramalho e Dominguinhos, Petrúcio também é sucesso como cantor. Na
entrevista a Amanda Tavares, fala da saudade do Agreste e sobre sua
experiência de 29 anos de carreira.
JC – Como surgiu a paixão pela música?
PETRÚCIO
AMORIM – Aos nove anos de idade, quando tocava numa bandinha de
música da escola em que eu estudava, em Caruaru. A vontade de compor
veio depois que aprendi a tocar violão e a ouvir artistas como Luiz
Gonzaga, Chico Buarque e Roberto Carlos. O trabalho dos três me
serviu de inspiração. Eles são a minha escola.
JC –
Você gosta mais de cantar ou compor?
PETRÚCIO – Sempre gostei mais de compor. E gosto de abordar as
questões sociais e o amor, nas músicas em ritmo de forró. Mas sem
temas tristes, sempre dando lugar à alegria. Falo também da cultura
do Agreste. Agora, nem sempre o compositor é valorizado se ele não
aparece, daí a necessidade de cantar também, de fazer shows e
divulgar o meu trabalho.
JC –
Porque escolheu o forró?
PETRÚCIO – Nos anos 80, participei de muitos festivais, vi que havia
ídolos nessa época que cantavam forró, como Luiz Gonzaga, Trio
Nordestino e Zé Ramalho. Outro ponto fundamental é o fato de ter
nascido em Caruaru, que tem um São João maravilhoso.
JC –
A letra da música Tareco e Mariola é realmente um protesto?
PETRÚCIO – É, sim. Em 1993 eu queria tocar no São João e fui
impedido. Foi quando surgiu a música, que eu considero o divisor de
águas da minha carreira. Mas depois deu tudo certo. A prefeitura
achou importante que houvesse minha apresentação. No ano seguinte,
fui o homenageado do São João de Caruaru. E toco na festa até hoje.
JC –
A sensação de se apresentar em Caruaru é diferente daquela de tocar
em outros lugares?
PETRÚCIO – Representa uma responsabilidade muito grande. Viajo o
País todo, faço shows em muitos lugares, mas em Caruaru me sinto
como um jogador carioca jogando no Maracanã. A cobrança e as
críticas são maiores. Então fica a preocupação de que tudo saia
perfeito.
JC –
Quando você saiu de Caruaru?
PETRÚCIO – No final da década de 1970. Vim ao Recife, servir à
Aeronáutica, mas logo troquei o avião pelo violão.
JC –
Do que você mais sentiu falta do interior?
PETRÚCIO – Da família e amigos principalmente. Mas me faziam falta
também as comidas, os costumes. Sentia saudades da jabuticaba
fresquinha, do cuscuz, porque o que eu comia em Caruaru era muito
melhor, nem se comparava ao da capital. Até o modo das pessoas
falarem era estranho, pois vim para o quartel e lá tinha gente de
todo o Brasil. De vez em quando eu tinha que ir a Caruaru para matar
a saudade.
JC –
Tem algum lugar de Caruaru que você gosta muito de ir?
PETRÚCIO – O Alto do Moura. Sempre gostei muito dos trabalhos de
Vitalino. Ele ultrapassou fronteiras, sempre esteve à frente do seu
tempo. Além disso, meus primeiros brinquedos foram bonecos, bois,
todos de barro.
JC –
Você ia muito à feira?
PETRÚCIO – Muito. Houve uma época em que eu estudava à noite. Então,
às sextas-feiras, depois da aula, um grupo de amigos músicos se
encontrava num bar na feira e ficava por lá até de manhã.
JC –
Como você avalia o mercado de música no Nordeste?
PETRÚCIO – O forró hoje não toca só no São João. Toca o ano inteiro.
E minha agenda está sempre cheia. A dificuldade é em relação à venda
de discos, por causa da pirataria. Isso nos deixa preocupados com o
futuro do disco e do DVD. A única parte boa é que, com a
popularização (os preços dos produtos pirateados, mais baratos),
tenho notado os shows mais cheios.
JC –
Qual a sua opinião sobre o forró eletrônico?
PETRÚCIO – É modismo. Cada um tem sua maneira de expressar o que
canta, mas essas músicas não têm um suporte cultural. As bandas (de
forró eletrônico) trabalham muito o visual, com luz, bailarinos, som
de alta potência, mas as letras das músicas destacam a bebida e a
pornografia. Acho que a música é uma maneira de juntar a família,
mas imagine todos reunidos ouvindo Chupa que é de uva?