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Carlos Fernando, homenageado no carnaval do
Recife em 2009 |
José
Teles
teles@jc.com.br
O
caruaruense Carlos Fernando, compositor e produtor, um dos
homenageados do carnaval do Recife este ano, foi responsável pela
modernização do frevo, com o álbum Asas da América, em 1980. Até
aqui foram sete os discos e ele pretende lançar mais um no final do
ano, para celebrar os 30 anos do projeto. Gravado por quase todos os
nomes importantes da MPB, ele teve com Banho de cheiro sua
consagração, quando este frevo, gravado por Elba Ramalho, foi
cantado em coro pela imensa platéia do Rock in Rio, em 1985.
JC – Vamos começar pela homenagem. O que ela significa para você?
CARLOS FERNANDO – Você ser homenageado em vida é uma coisa muito
boa. Não é nem pela minha pessoa, mas pelo reconhecimento do meu
trabalho nesse tempo em que comecei a fazer música. Me sinto honrado
com o ego um pouco massageado pelas homenagens, entrevista em
televisão, rádio e jornais.
JC –
Você começou a fazer música em 1967, meio por acaso, você pensava em
ser compositor?
CARLOS – Não. Jomard Muniz de Britto conheceu Geraldo Azevedo numa
festa, aí me falou deste cara que tocava muito bem violão, bossa
nova. Noutra festa, conheci Geraldinho. Marcamos um encontro no
Teatro Popular do Nordeste (TPN), e eu mostrei para ele trechos de
uma peça sobre Lampião que estava escrevendo. Ele leu e me perguntou
por que eu não escrevia letra de música. Era perto do Carnaval. Aí
eu fiz Aquela rosa, que é uma marcha de bloco. Mostrei para ele, que
achou ótima. Foi minha primeira letra, e a primeira melodia dele.
JC –
Você acha que se não tivesse acontecido este fato, você teria feito
música?
CARLOS - Acho que não. São as histórias da vida, as oportunidades.
Melhor de tudo é o seguinte. No primeiro festival de música Norte e
Nordeste, patrocinado pela revista Manchete e pela TV Jornal do
Commercio. Nós colocamos esta música, Teca Calazans cantou, e
tiramos o primeiro lugar. Então comecei a fazer outras letras. Fui
para o Rio e retomei o trabalho com Geraldinho. Alceu foi também
para o Rio, mas compus pouco com Alceu, porque ele faz melodia e
letra. Geraldinho só faz melodia. Agora, se eu não tivesse este
encontro com Geraldo não teria me tornado compositor.
JC –
Na época do primeiro Asas da América, 1980, o frevo já estava meio
paradão no Recife...
CARLOS – É a Rozenblit estava fechando, e o Carnaval ficou mais nos
clubes. Depois começou a pintar o Carnaval de rua de Olinda, que era
como um grande baile aberto. Mas as músicas que se tocavam eram as
de sempre, marchinhas cariocas e os frevos de Capiba, Nelson
Ferreira, Edgard Moraes – os frevos de bloco, que são belíssimos, eu
adoro. No Rio, comecei a compor frevos, falei para Geraldinho e
Alceu que estava com uma idéia de fazer um disco de frevo, mas para
gravar no Rio de Janeiro. Eles deram a maior força. Quando já estava
com uns dez frevos, fizemos pela CBS, no selo Epic.
JC –
Qual a reação do pessoal para o teu frevo, mais moderno?
CARLOS – Quando cheguei aqui os conservadores não gostaram não,
alguns críticos não gostaram. Este cara quer mexer na raiz do frevo.
Isto não é frevo, é rock, por causa do andamento, que mais
acelerado. Mas era frevo-canção. O primeiro frevo cantando no Brasil
com andamento ligeiro, foi Micróbio do frevo, do paraibano Genival
Macedo. Até então era Capiba e Nelson Ferreira, que tem frevos
lindos, mas são muito lentos. Então eu chego, faço um disco onde
coloco os maiores nomes da MPB, Caetano, Gil, Chico, Elba começando,
arranjos completamente moderno, de Juarez Araújo, um pernambucano,
parece que de Altinho. Ele louco para fazer um trabalho de frevo,
mas no Rio ninguém gravava frevo. Ele estava tocando sax no show de
Gal Costa no Canecão e Robertinho do Recife tocava guitarra. Falei
com Robertinho que não queria fazer o meu disco no Recife, foi ele
que indicou Juarez, eu fui ao Canecão e fiz o convite. ele adorou.
Depois teve a capa, um trabalho gráfico bonito de Cafi. Os discos
que se faziam aqui de frevo era a cara de Capiba na capa, ou Nelson
Ferreira tocando piano. Trago um disco com capa dupla, as músicas
com um tipo de letra totalmente diferente, que falavam do cotidiano.
Banho de cheiro, que é o maior sucesso meu, uma das mais executadas
no Carnaval não fala nada de Carnaval. A maioria das minhas letras
não fala de coisas de Carnaval, pierrô, colombina, que são bonitos,
mas é de uma outra época.
JC –
Você produziu o disco dos 100 anos do frevo, que tem um formato
semelhante ao do Asas da América, mas que tocou muito pouco, por
que?
CARLOS – Porque o disco chegou no dia do Carnaval, tocou muito
pouco. Algumas rádios tocaram. O disco saiu no dia 9, que era o dia
do centenário do frevo. Era para sair em dezembro, mas a prefeitura
queria lançar somente naquele dia. Disco de frevo tem que sair pelo
menos em dezembro.
JC –
Como se explica que o frevo, a música do Carnaval daqui, não seja
tocada no rádio. Tem discos novos, mas quando tocam são aqueles
mesmos de Capiba ou Nelson Ferreira.
CARLOS – As rádios não tocam, porque as rádios são tudo programadas
no Rio ou São Paulo, a grande maioria. Antigamente tinha a Rádio
Jornal do Commercio, a PR-8, Tamandaré, e outras, não havia este
lance de programação vinda de fora para cá. Então tocavam muito
frevo, isto da década de 70 para trás. Daqui eu faço um apelo aos
senhores vereadores para tentarem fazer uma lei para que se toque
frevo nas rádios. Não é esta coisa de tocar frevo todo meio-dia. Não
é por aí. Acho que os vereadores deveriam se reunir com músicos, com
associações ligadas a música. tentar um diálogo com as AMs e FMs
para que se toque não só o frevo, mas a música pernambucana. Aqui
temos, por exemplo, um cantor com um grande trabalho, Geraldo Maia,
mas não toca. Alô, alô vereadores, criem uma lei municipal que faça
com se toque a música pernambucana, não só o frevo, porque não
podemos viver submetidos as programações que vem do Rio ou São
Paulo.
JC –
A divulgação que a orquestra de spok esta fazendo do frevo pelo
Brasil e lá fora é muito mais importante do que todas outras ações
que já fizeram aqui, feito aqueles voos do frevo.
CARLOS – Não, aqueles voos eram só para o pessoal passear e fazer
turismo. Felizmente nunca me convidaram, e se tivessem eu não
aceitaria. trabalho é o que Spok está fazendo, o chapliniano maestro
Forró. Temos material bastante, Seu Chico, a Banda Caetana, que só
canta Caetano Veloso, mas tocar onde? As rádios recebem os discos,
mas não tocam. Eu pessoalmente não tenho nenhum ressentimento contra
isto, porque sou respeitado como compositor e produtor em todo o
País, pela crítica, pelas pessoas que consomem discos. Mas é uma
realidade, e eu falo em nome de todos. Nós precisamos divulgar a
música pernambucana, e para isto precisamos do rádio, precismos
tocar no rádio, para o público conhecer o que fazemos, mas as
emissoras estão fechadas para a música pernambucana.
JC –
O que você acha deste modelo do Carnaval multicultural, com todos
gênero musical nos palcos?
CARLOS – Às vezes com artista que não tem nada a ver. O que é que
tem Milton Nascimento com Carnaval? Tem umas coisas assim no
multicultural com que eu não concordo muito. O Carnaval pernambucano
é lindo, mas tem umas coisas que não tem nada a ver, porque Carnaval
tem que ser com música de Carnaval. A melhor coisa que a prefeita de
Olinda fez foi proibir aqueles sons nas casas, em cada barraca. O
sujeito botava rock, ficava aquele barulho que nada tem a ver com
Carnaval. É contraditório isto, agora rapaz é muito dificil você
mexer com esta coisa. No Rio de Janeiro o Carnaval é samba. Na Bahia
é axé, e o próprio frevo da Bahia sumiu, Moraes Moreira vive se
queixando disto. O Carnaval da Bahia, tem cordão de isolamento,
virou um apartheid. O que acho muito bom foi esta coisa dos polos no
Carnaval de Pernambuco, você pega um cantor como Alceu Valença e ele
canta no Centro, mas também canta no subúrbio. Até o réveillon hoje
em dia não é mais um baile, é show. É dificil.
JC –
Você continua compondo muito, o que é que vem por aí de Carlos
Fernando?
CARLOS – Vou lançar mais três Asas da America, que ainda foram não
passados para o CD, e um inédito, quero ver se lanço no fim do ano,
um pacote com três Asas da América, e um novo Asas com frevos
inéditos, para celebrar os 30 anos do projeto. Depois do Carnaval
vou começar a gravar um disco chamado Pessoas, e os três Geraldos:
Geraldo Azevedo, Geraldo Maia e Geraldo Amaral, mas não é de frevo.
(©
JC Online)
Carnaval Multicultural 2009, em Recife, homenageia
Carlos Fernando, Cícero Dias e Enéas Freire
RIO - Frevo, maracatu, caboclinho, ciranda,
coco, samba, rock, reggae, manguebeat fazem a folia de quem passa o carnaval
dividindo-se entre Recife e Olinda. Em cada esquina, um ritmo, uma festa que
mistura batuques ao ar livre, na rua, gratuitamente, e transformam as duas
cidades num grande espetáculo para todas as idades. As prévias, que vão
animar os fins de semana de fevereiro anteriores ao carnaval (de 21 a 24 de
fevereiro) não deixam a desejar em matéria de agito, com a presença esperada
do ex-ministro da Cultura Gilberto Gil, entre outros convidados.
Este ano, o Carnaval Multicultural 2009 de
Recife presta homenagem ao compositor Carlos Fernando, aos já falecidos
artista plástico Cícero Dias e ao criador do Galo da Madrugada, Enéas
Freire. Os cinco dias de folia em Recife exibem mais de três mil
apresentações de chão, reunindo 430 agremiações carnavalescas e shows com
mais de 180 artistas regionais, nacionais e internacionais. Shows, desfiles
de blocos e fantasias fazem um espetáculo diferente em cada esquina.
Isto, sem falar nas prévias do carnaval,
que prometem esquentar os 'tambores' nos fins de semana de fevereiro.
Antecipando a folia, o Bloco da Pautaria, reúne jornalistas e artistas no
dia 31 de janeiro. E, na semana pré-carnavalesca, a Frevioca faz mais de 40
apresentações por toda a cidade. Além de levar música e alegria, a Frevioca
é símbolo da resistência cultural pernambucana. São duas 'freviocas',
especialmente decoradas, circulando por toda a cidade. Passam pelo corredor
do frevo e participam do Galo da Madrugada, levando animação do Centro do
Recife para os bairros mais distantes e vice-versa.
Nos dias do carnaval, Recife se divide em
16 pólos de folia, oito no centro de Recife e oito descentralizados nos
bairros. Mas o palco principal da festa fica no Marco Zero, onde se
apresentam artistas nacionais convidados e pernambucanos ilustres. A cena
alternativa musical também tem espaço garantido no Rec Beat com sons
regionais e muito rock. A diversão em família fica por conta dos desfiles de
agremiações, onde pais caem no passo enquanto os filhos se divertem
fantasiados como nos antigos carnavais.
E, para quem está planejando sua viagem,
nesta época, diz o presidente do Recife Convention & Visitors Bureau e da
Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH-PE), José Otávio de Meira
Lins, os hotéis costumam trabalhar com uma taxa de ocupação próxima de 100%,
alguns com lotação completa, por isso, quem procura uma vaga nos hotéis deve
planejar com antecedência.
Veja abaixo a programação de
prévias e de blocos de carnaval em Recife e Olinda:
PRÉVIAS
Bloco da Pautaria -
Jornalistas, músicos e artistas têm encontro marcado no Bloco da Pautaria,
que acontece dia 31 de janeiro às 16h no bairro de Santo Amaro, na Rua do
Lima. O sambista João do Morro é a atração principal.
Guaiamum Treloso- A troça
percorre as ruas de Casa Forte e Poço da Panela no dia 7 de fevereiro. O
ex-ministro da Cultura Gilberto Gil, o irreverente sambista João Morro e o
cantor China, que faz uma participação especial no show de João do Morro e
os Cara prometem dar as caras por lá.
Acorda pra Tomar Gagau-
Baile de Carnaval no dia 24 de janeiro no Clube Alemão. O desfile acontece
dia 14 de fevereiro pelas ruas da Zona Norte do Recife dos bairros de
Aflitos e Parnamirim, atraindo até 30 mil foliões dos mais jovens e
descolados da cidade.
Chocalho do Neno- Com oito
anos de história, o Chocalho do Neno faz sua concentração na Rua Padre Roma
em frente ao Bar do Neno em uma animada prévia no dia 14 de fevereiro com
muito samba e frevo. O bloco costuma reunir as famílias que querem se
divertir na rua. Este ano, haverá concurso de fantasia com sorteio de
prêmios como uma viagem a Fernando de Noronha para o traje mais
característico. Rua Padre Roma, nº 722, Parnamirim - Recife.
Sala da Justiça - Um dos
mais animados blocos da 'juventude deslocada pernambucana' é o da Sala da
Justiça, que conta com o baile Enquanto Isso na Sala de Justiça como prévia
(data ainda a ser divulgada) e concentração no Alto da Sé em Olinda, durante
o domingo de Carnaval. A criatividade reina entre os super-heróis de todos
os tipos.
Só Como na Rua- Bloco dos
profissionais e amantes de gastronomia e culinária. No dia 13 de fevereiro
no cais do Paço Alfândega. O kit, composto de avental e frigideira, inclui
feijoada e cerveja gelada, além de samba da melhor qualidade. (O kit é pago,
mas os valores para este ano ainda não tinham sido definidos até a edição
deste texto)
CARNAVAL MULTICULTURAL 2009
Galo da Madrugada - Em 20
anos de história, o Galo da Madrugada virou sinônimo da maior brincadeira ao
ar livre do mundo com mais de dois milhões de foliões. O bloco toma todas as
ruas do centro histórico do Recife durante o sábado de Zé Pereira com três
carros alegóricos e uma imensa escultura do Galo com mais de seis metros de
altura. A concentração começa por volta das 6h, com o tradicional café da
manhã reforçado no Forte das Cinco Pontas. A saída do bloco acontece no
mesmo local a partir das 9h.
Acho é Pouco - Em Olinda,
o bloco Eu Acho é Pouco pinta de amarelo e vermelho as ruas e ladeiras de
Olinda há mais de 30 anos, com frevo e batuques. O primeiro desfile acontece
no sábado de Zé Pereira, mesmo dia do Galo da Madrugada, com saída do Largo
do Mosteiro de São Bento.
Quanta Ladeira - Bloco fundado há mais de
10 anos por Lula Queiroga, Lenine, Zé da Flauta, Aluizio Maluf, Lucky
Luciano, Silvério Pessoa, Moraes Moreira, Karina e Daniele Hoover, o Quanta
Ladeira tem concentração no domingo de Carnaval no Pólo Rec Beat, ao lado do
Cais da Alfândega, no Recife Antigo. Irreverente, o bloco faz músicas com
sátiras políticas e de acontecimentos contemporâneos, além de paródias a
conhecidas canções, tornando a festa um espetáculo pra lá de anárquico.
Tambores Silenciosos - Na
segunda-feira de carnaval, a Noite dos Tambores Silenciosos traduz a fé,
misticismo e cultura negra em batuque de carnaval no Pátio do Terço, no
bairro de São José, no Recife, a partir das 20h. Grupos de batuqueiros tocam
em homenagem à Virgem do Rosário, padroeira dos negros, e à meia-noite
silenciam por um minuto.
Encontro de Bonecos Gigantes-
As manhãs de carnaval enchem de cores as ladeiras de Olinda, onde as troças
tocando frevo e maracatu animam a folia dos bonecos gigantes e de gente
fantasiada. Na terça-feira de Carnaval, a partir das 10h, acontece o
Encontro de Bonecos Gigantes com um desfile que costuma sair do Largo de
Guadalupe em direção a Rua do Amparo, passando pela Prefeitura de Olinda.
Bacalhau do Batata- Para
se despedir da folia, o Bacalhau do Batata sai na Quarta-feira de Cinzas. Do
Alto da Sé, em Olinda, os foliões se divertem em uma homenagem ao garçom
Izaías Pereira da Silva, o Batata.
Os pólos da folia
No centro de Recife, os pólos da folia são:
Pólo Recife Multicultural (Marco Zero); Pólo das Fantasias e Carnaval
Infantil (Praça do Arsenal da Marinha); Pólo Mangue (Cais da Alfândega),
onde está a cena alternativa dos jovens recifenses com uma irreverência de
sons e estilos; Pólo das Agremiações (Av Nossa Senhora do Carmo); Pólo de
Todos os Frevos (Av Guararapes); Pólo de Todos os Ritmos (Pátio de São
Pedro); Pólo Afro (Pátio do Terço); Pólo das Tradições (Pátio de Santa
Cruz).
Os bairros mais distantes reúnem outros
oito pólos nos bairros de Chão de Estrelas, Casa Amarela, Nova Descoberta,
Alto José do Pinho, Várzea, Jardim São Paulo, Santo Amaro e Ibura, que
recebem a folia com infra-estrutura e grandes atrações locais e nacionais.
(©
O Globo) |