Festival
instaura polêmica ao incluir o cantor João do Morro. Outra atração é
o produtor Afrika Bambaataa
Schneider Carpeggiani
carpeggiani@gmail.com
O tema
João do Morro monopolizou a coletiva de imprensa do Rec-Beat 2009
ontem pela manhã, no auditório da Livraria Cultura. O artista é o
único do universo brega a participar de um palco central da
Prefeitura durante o Carnaval. Mas por que João do Morro e não a
Mistura de Calypso, aquela do hit Meu novo namorado, sobre malhar e
se valorizar? Talvez por que o brega não seja apenas um ritmo, é sim
uma superestrutura envolvendo vários códigos (discurso, ambientes de
consumo, etc). O fato de João do Morro tocar samba não o diferencia,
por si só, de qualquer grupo brega. Muito mais importante, nesse
caso, é o fato dele se apresentar no UK Pub (casa de shows de classe
média da Zona Sul) ou ser abraçado pela programação de um festival
moderninho como o Rec-Beat (o que pode acontecer com o Mistura) e
abrir para Gilberto Gil no Guaiamum Treloso. João seria cult, do
morro, brega, apenas periférico ou tudo isso? Acertou quem respondeu
que rótulos são estratégias temporárias.
Numa
entrevista recente, o secretário de cultura do Recife, o jornalista
Renato L., concordou com a importância do brega para a cena musical
da cidade. O João do Morro que toca samba e se apresenta na casa de
shows da Zona Sul seria uma tentativa da Prefeitura de se aproximar
da cena brega local? “Na verdade é uma forma do Rec-Beat dizer que
não se fecha a nenhuma banda. Há alguns anos, tivemos o Textículos
de Mary, por exemplo, e foi um sucesso”, afirmou o produtor do
Rec-Beat, Antônio Gutierrez, Gutie, que também produz João do Morro.
Para
justificar a inclusão do cantor, o produtor ressaltou a importância
do festival na difusão do rótulo “multicultural”, que guia a
programação do Carnaval recifense – “Nós começamos com essa história
de multicultural, porque sempre abrimos espaço para todos os ritmos.
Essa é uma preocupação do Rec-Beat. Esse é um festival que tem uma
importância muito grande: ele sempre gerou mídia espontânea para o
Carnaval do Recife”.
“Quando eu penso na programação do Rec-Beat, sempre me preocupo com
o momento que está vivendo o artista. E João do Morro é um artista
que tem um quê a mais, que vive um excelente momento. A programação
do Rec-Beat não é montada a partir da mídia e sim do momento em que
vive o artista”, continuou.
O
momento que vive o artista justificou ainda a escalação de Cordel do
Fogo Encantado, também produzida por Gutie – “Há muito tempo que
eles não se apresentam no festival. E além disso esta edição marca
os 10 anos do primeiro show do Cordel no Rec-Beat. Foi uma banda que
nasceu e cresceu com a gente.” Assim que acabar o Carnaval
recifense, o festival segue para uma enxuta edição paulistana, no
Sesc Pompéia, com os pernambucanos Catarina Dee Jah, DJ Dolores e
Júlia Says.
ATÉ O CHÃO
Segundo Guttie, o Rec-Beat 2009 sofreu uma queda de patrocínio e foi
orçado em R$ 320 mil, contra R$ 360 mil do ano passado. Ainda assim,
o festival conseguiu incluir o DJ e produtor norte-americano Afrika
Bambaataa, que já chegou a ser anunciado para o Abril Pro Rock 2005,
mas cancelou sua participação. Afrika é um mito da música pop. O seu
hit Planet Rock definiu os rumos do hip hop e da música de pista de
dança no começo dos anos 80. Mas há um motivo ainda mais “local”
para compreendermos a importância do Afrika Bambaataa no festival
recifense: sua música é onipresente em tudo o que é carrinho de CD
pirata, da praia ao subúrbio. Um motivo a mais para o Cais da
Alfândega ir (literalmente) até o chão, chão, chão...
Outra
atração gringa que promete dividir as atenções do festival é o grupo
venezuelano Desorden Publico, pioneiro do ska em seu país e notório
por uma apresentação vigorosa. Original Hamster (Chile) e Nuages
(Equador) completam o bloco latino-americano do Rec-Beat 2009
O
Eddie confirma o excelente momento da carreira e fecha a
segunda-feira do festival. Este ano, o Rec-Beat procurou colocar o
foco nos artistas pernambucanos: em metade dos dias, os artistas
locais encerram a programação. Além dos shows, o Cais da Alfândega
irá contar diariamente com tenda eletrônica e desfile de moda.