Os criadores dos bonecos gigantes do Carnaval de Olinda
11/02/2009
Foto: Geyson Magno / UOL
Silvio Botelho posa ao lado de boneco do fundador
do Galo da Madrugada, Enéas Freire, à sua
esquerda e do compositor Capiba, de camisa com logomarca do Banco do
Brasil
GUILHERME GATIS
Colaboração para o UOL, do Recife
A casa de número 44 da rua do Amparo, rota de
vários blocos carnavalescos, passa despercebida dentre os vários
sobrados que compõem a paisagem do Sítio Histórico de Olinda. Lá,
reunidos em uma sala escura, nomes como Luiz Gonzaga, Capiba e Enéas
Freire, o fundador do Galo da Madrugada, aguardam a terça-feira de
Carnaval para ganharem vida nas ruas da Cidade Alta. Criadas pelo
bonequeiro Silvio Botelho, as peças participam do encontro de
bonecos gigantes, uma das atrações do Carnaval de Olinda.
A tradição dos bonecos foi iniciada há 78 anos pelo Homem da
Meia-Noite, o boneco mais ilustre de Olinda. Criado em 1931, por
muitos anos ele comandou solitário os dias de Carnaval até ganhar
uma companheira -- A Mulher do Dia, que começou a desfilar pelas
ladeiras da cidade em 1967. A ilustre família de bonecos ficou
completa em 1974, com o Menino da Tarde, primeira obra de Sílvio
Botelho.
Nestes 35 anos de atividade o bonequeiro criou um verdadeiro
exército de gigantes. "Até a década de 80 os bonecos não eram tão
populares. Posso dizer que, junto com outros bonequeiros, ajudei a
criar essa identificação entre Olinda e os bonecos gigantes", diz
Botelho, que já confeccionou cerca de 700 peças.
Pesando entre 13 e 15 quilos e com cerca de três metros de altura, o
corpo de cada boneco é uma extensão do manipulador ou carregador,
que equilibra toda a estrutura com a cabeça. No início, Sílvio
levava cerca de 30 dias para terminar uma peça, que pesava mais de
30 quilos. "A cabeça das primeiras obras era moldada em barro. Era
preciso esperar o molde secar para poder começar a trabalhar, o que
inviabilizava uma produção em grande demanda", explica.
Atualmente Botelho consegue finalizar um boneco em uma semana,
adotando como materiais o isopor, para a cabeça, e a fibra de vidro,
para o corpo, que substituem o barro e a madeira. "Além de não
precisar secar, o isopor tem a vantagem de ser mais leve, mais
maleável", explica o bonequeiro, que trabalha com outras seis
pessoas em seu ateliê, entre costureiras, aderecista e escultor.
Os ajudantes estão envolvidos nas outras etapas de produção, que
consiste na confecção do corpo e no revestimento de três camadas de
papel com goma e outra de massa acrílica, antes de o rosto do boneco
ser pintado. "Na última etapa são costurado o cabelo e aplicado os
adereços finais. Depois disso, o boneco já pode ir para a rua".
Um dos filhos de Botelho, Júlio César, também trabalha na linha de
produção do pai. "Quero que meu trabalho seja perpetuado", comenta o
bonequeiro, que ajudou a formar uma nova geração de bonequeiros.
"Algumas pessoas trabalharam comigo e hoje fazem seus próprios
bonecos, criando novos estilos."
Um dos bonequeiros que propaga a técnica de Botelho é Camarão, que
há 13 anos produz bonecos mirins, apropriado para carregadores
crianças. "Comecei no ateliê de Sílvio, onde aprendi muito e fui,
aos poucos, desenvolvendo um estilo próprio", explica o artesão, que
teve a ideia de fazer peças menores por acaso. "Os dois primeiros
bonecos mirins foram fantasias de Carnaval feitas para minha filha e
para um dos filhos de Sílvio. O resultado ficou tão bom que resolvi
criar a minha marca, me especializando em bonecos para crianças".
Camarão também promove o encontro dos bonecos mirins. São mais de 30
figuras, a maioria réplicas de bonecos consagrados, como o Homem da
Meia-Noite e a Mulher do Dia. Para o Carnaval de 2009, o bonequeiro
também prepara uma desfile de bonecos gigantes de personalidades
atuais, como o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama,
celebridades, como Chacrinha e Pelé, além de personalidades
históricas, como Maurício de Nassau e dom Pedro 1º. "A ideia é
aproveitar os bonecos baseados em figuras da história do Brasil em
outras épocas do ano, em escolas e datas comemorativas", explica.
Documentário
conta a trajetória de Ademir Araújo, regente da Orquestra Popular do
Recife, que se dedica a estreitar a distância entre a música popular e a
erudita em Pernambuco
Marcos Toledo
mtoledo@jc.com.br
Pode
parecer incrível, mas em um lugar como Pernambuco, de tamanha fruição de
rica cultura popular, ainda há uma distância considerável desta da
cultura erudita. Alguns artistas, contudo, usam de sua sensibilidade
para estreitar estes dois mundos. No rol dos principais nomes figura o
maestro Ademir Araújo, regente da Orquestra Popular do Recife e um dos
responsáveis por tornar a cultura musical do Estado mais coesa. Não é à
toa, portanto, que o músico recebe hoje, uma justa homenagem com o
lançamento do documentário Maestro Formiga.
O vídeo,
com 30 minutos de duração, foi transformado em DVD por meio de um
projeto das produtoras Plural e Página 21, e chega ao mercado podendo
ser adquirido pelo público em geral. O lançamento ocorreu no Cineteatro
Apolo (Bairro do Recife), quando aconteceu a primeira exibição pública
da produção. Quem não teve a oportunidade de conferir o trabalho, tem
uma segunda oportunidade no próximo sábado, às 19h, na Livraria Cultura,
sempre com entrada franca.
Em
formato padrão, o documentário é conduzido pelo próprio homenageado, que
conta toda sua trajetória desde a adolescência – quando largou a vocação
para a pintura, após o último ano escolar, sob a influência imagética da
banda da escola em um desfile de 7 de Setembro – até os dias atuais,
tempo em que se reconhece seu trabalho e contribuição para a música
pernambucana.
Os
depoimentos de Formiga costuram a opinião de vários amigos e admiradores
que reuniu ao longo de quase 60 anos de idade, a se completar em 15 de
outubro vindouro. A lista traz os maestros Edson Rodrigues – com quem
teve as primeiras lições –, José Amaro, Marco César, Proveta, Spok,
Lurdinha Nóbrega, Clóvis Pereira e Gilberto Pontes. Completam a relação
o radialista Hugo Martins, a atriz Lêda Alves, o escritor Ariano
Suassuna, o pesquisador Leornardo Dantas Silva, e os cantores Claudionor
Germano, Silvério Pessoa e China, além de alguns de seus alunos.
São
várias gerações que dão um panorama do que significa a eclética carreira
de Ademir, desde cedo um autor versátil e visionário, e que se tornou um
craque em concursos. Um compositor que abriu mão do apelo comercial em
prol de uma obra perene e revolucionária.
Cronista
de seu tempo, em 1966, inspirado pela tragédia de uma das muitas
enchentes enfrentadas pelo Recife, criou Frevo na tempestade, cujo áudio
pode ser conferido na íntegra nos extras, ao lado de No Paço Alfândega e
No ano 2000. Completam os bônus um texto com a discografia do autor.
Gestores
da cultura de Pernambuco e da capital, Ariano Suassuna e Lêda Alves –
atuais secretário de Cultura do Estado e presidente da Companhia Editora
de Pernambuco (Cepe), respectivamente – destacam a sensibilidade de
Ademir ao assumir os projetos de uma escola itinerante de música para
crianças e adolescentes nas agremiações carnavalescas da Região
Metropolitana, e da formação da Orquestra Popular do Recife. Também foi
o maestro o principal personagem quando da criação da Frevioca, em 1980,
por Leonardo Dantas.
A
facilidade de comunicação com vário estilos e gerações surge nos
depoimentos de China, Silvério e Claudionor Germano, com os quais viajou
para Brasília onde mostra, a familiaridade do frevo com o choro. E, no
Rio de Janeiro, com o samba.
Formiga
sabe de sua importância para a evolução da música do Estado e, como é de
se esperar de um mestre, acredita que fez pouco. “Gostaria de ter
contribuído com muito mais”, afirma o maestro.