Cantora,
compositora, percussionista e atriz deixou o Teatro Oficina, dá um
tempo na sua banda e investe agora num som experimental
Em 1998, Karina Buhr e sua banda, a Comadre Fulozinha, se
apresentavam na Soparia, saudoso bar da cena alternativa de Recife.
Uma figura inesperada, acompanhada de sua trupe, não só marcou
presença, como fez um convite à cantora, compositora e
instrumentista nascida em Salvador e criada na capital de
Pernambuco. José Celso Martinez Corrêa, diretor do Oficina, que
estava por aquelas bandas mostrando Cacilda, se encantou com a moça
e a convidou para integrar o elenco de Bacantes, seu próximo
trabalho. “Hesitei bastante, pois eu tinha aquela ideia clichê de
muitos que desconhecem o teatro de Zé Celso”, relembra.
Três
anos foi o tempo que Karina levou para amadurecer a ideia e um novo
convite do diretor surgir para remontar, inclusive, o mesmo
espetáculo. “Fui tomar coragem somente em 2001. E posso afirmar que
a experiência que tive durante todo esse tempo foi maravilhosa”,
conta. Karina participou de todas as etapas de Os Sertões e viajou
em temporada para o Nordeste e seu sertão. Nos processos de criação
colaborativa, ajudou a compor as canções, além de cantar e atuar. E,
durante esses sete anos, não deixou de tocar com Comadre Fulozinha,
que ganhou uma nova formação na capital paulista, sem perder a
essência percussiva que passeia pelo coco, maracatu e ciranda.
No
fim do ano passado, Karina decidiu se desligar do Oficina para poder
se dedicar mais a fundo em um projeto solo que vinha tocando nos
intervalos que restavam entre o grupo dirigido por Zé Celso e
Comadre Fulozinha. Colecionou letras, arranjos e melodias próprias e
pensou em adicionar a elas uma base eletrônica. Bateria, baixo,
trompete e teclado, além das programações, formam o que Karina
define como um som “bem experimental”. E de uma qualidade
inquestionável aprovada, por exemplo, pela produtora e apresentadora
da Rádio Eldorado, Patricia Palumbo, que a convidou para se
apresentar no festival Vozes ao vivo, que começa no próximo dia 4 no
Sesc. “Ela me descobriu ao ouvir a Anelis Assumpção interpretando
uma canção minha, Sonhando, que disse ter gostado muito”, conta
Karina.
A
compositora, que já foi integrante dos maracatus Estrela Brilhante e
Piaba de Ouro e das bandas Eddie e Bonsucesso Samba Clube, se
apresentou recentemente no Studio SP, mostrando as 20 músicas que
reuniu ao longo desses anos e das quais vai peneirar cerca de 15
para gravar muito em breve, dentre elas O pé, Mira ira e Eu menti
pra você, que já tiveram, em média, 2 mil acessos em seu MySpace
(www.myspace.com/karinabuhr). “Queremos gravar com a mesma
tecnologia que estamos usando para o terceiro disco da Comadre
Fulozinha, SMD (semi metalic disc), que sai bem mais barato que CD e
deve ser vendido por R$5”, diz.
Ontem (quinta-feira), uma brasileira
chamada Karina Buhr tocou no Sesc Paulista, enquanto que na terça-feira
(dia 3), a canadense Alanis Morissette, em queda livre para o
ostracismo, lotou o Via Funchal.
Um desperdício de proporções
continentais. Devia ter sido o contrário.
Karina Buhr é destes talentos raros.
Ela nasceu em Salvador, mas vem do Recife (mudou pra lá com 8 anos de
idade) e é considerada hoje uma das integrantes da "nova geração de
cantoras" da música brasileira.
Apesar de ser "promessa", já tem um
currículo maduro. Desde 1997, está à frente do Comadre Fulozinha, banda
bem bacana com um twist de frevo que a deu alguma projeção (eles
chegaram até a fazer turnê nos EUA e na Europa). E fez parte também do
Teatro Oficina com Os Sertões.
Mas foi só no final do ano passado que
Karina chamou a atenção do universo paralelo da música indie. A razão é
porque ela começou uma carreira solo com composições impressionantes. E
com uma voz que te ganha na primeira nota. Mas o mais sensacional do seu
som é o sotaque.
Ela canta com um fortíssimo e
irresistível acento pernambucano que cai na métrica e na melodia das
músicas como uma luva. As letras são bem inteligentes (ela que escreve)
e os arranjos da banda dela são bem bons também.
Pena que a indústria cultural e a mídia
de massa deste País dão espaço só para Ana Carolina, Victor e Léo, Jorge
Vercilo e outros produtos pop descartáveis do mesmo naipe. E tesouros
como a Karina ficam escondidos.
Para piorar, parece que é mais
interessante receber a Alanis Morissette em fase de putrefação do que
divulgar boas bandas que temos aqui. Nada contra a Alanis, diga-se, mas
é notório que ela já deu o que tinha que dar há tempos e veio caçar uns
niqueis de uns perdidos no tempo Brasil afora. Só em São Paulo e
Teresina ela ainda vive (quem acha legal que ela tocou em Teresina,
lembrem-se que na turnê do Jagged Little Pill, ela nem sabia onde
ficava o Piauí).
Nada contra Teresina. Nada contra o
Canadá (terra da Alanis). Mas viva o Recife!
O primeiro álbum solo da Karina Buhr
sai logo, logo. Por enquanto, dê uma ouvida no MySpace dela:
myspace.com/karinabuhr. Não tem erro. Você dará um "viva" pro Recife
também.