Clube
carnavalesco Vassourinhas comemora 120 anos e 100 anos da doação do
hino mais famoso de Pernambuco
José
Teles
teles@jc.com.br
“Nos
últimos dias do Império, existia no Pátio do Terço um clube
carnavalesco denominado Maroim Grande...houve um dia, como é comum,
uma desinteligência nas proximidades do carnaval no mangue do maroim
grande – deixaram de ser maroins Moisés de Souza Costa, Custódio
Patriarca, Emiliana de Almeida Costa, Umbelina Patriarca da Costa
(ainda viva), bem como Mathias Teodoro da Rocha, Marcolino Gomes da
Silva, Cláudio de Almeida, Francisco de Moraes Patriarca, Francisco
Enedino, Adolfo Pereira dos Santos, Manuel Alves, Maria Cândida,
Maria Raposo de Assumpção.
Reuniram-se em Beberibe, no ano de 1989, no Dia de Santos Reis, e
resolveram fundar um clube carnavalesco em antagonismo ao que haviam
abandonado. Queriam que o novo clube se chamasse Vassouras de Casaca
(é bem possível que o título fosse alusivo a alguém que figurasse no
orçamento municipal como varredor de rua e não pegasse na vassoura).
Os poetas foram contrários ao título pela dificuldade de rimas, e
opinaram pelo de Vassourinhas. Instalou-se o novo clube no dia 7 de
fevereiro na Camboa do Carmo e saiu logo no próximo Carnaval, mercê
de uma cota de 2$000 de cada sócio dansando (sic) – ainda não havia
o passo do frevo – “se esta rua se esta fosse minha eu mandava
ladrilhar/com pedrinhas de brilhantes para o meu bem passar”. Este é
o relato de um dos fundadores do Vassourinhas, publicado no Jornal
Pequeno, em 9 de janeiro de 1939.
A
gênese do clube voltou a ser contada pelo diretor tesoureiro Raul
Cruz, ao Jornal do Commercio, em 17 de fevereiro de 1961, desta vez
ele acrescenta Joana Baptista como uma das fundadoras da agremiação
carnavalesca, que viveu os primeiros anos em constantes mudanças de
sedes, na maioria das vezes na casa de alguns dos sócios: “Não
possuía sede, sendo usada a residência de um dos sócios. Saiu o
clube no seu primeiro ano com violas, triângulos e baixo de flandre.
Em 1892 saiu o Vassourinha pela primeira com uma orquestra.
Transferiu-se em 1892 para Santo Antônio, onde ficava a residência
de um sócio, depois nas ruas das Águas Verdes, das Hortas, da Praia,
da Concórdia (20 e 21), Pátio do Terço, e em 1949 foi para a sede na
Rua das Calçadas, 104, no 1º andar”.
Quanto à data de fundação do clube, não há controvérsias. Todos
concordam que foi no Dia de Reis de 1889. Já quanto à sua principal
marcha, a história complica. O jornalista e historiador Leonardo
Dantas Silva lembra que, também oficialmente, a Marcha nº1 de
Vassourinhas completa um século este ano, de acordo com documentação
descoberta pelo pesquisador Evandro Rabelo, no 2º Cartório de
Registro Especial de e Documentos, Joana Batista, em 1949, teve
registrada a seguinte declaração: “A marcha intitulada Vassourinhas
pertencente ao Clube Carnavalesco Mixto Vassourinhas foi compositada
por mim e o maestro Mathias da Rocha no dia 6 de janeiro de 1909, no
Arrabalde de Beberibe em um Mocambo de frente à estação de Porto da
Madeira, dito mocambo hoje é uma caza moderna”. Pode até sido, mas
na matéria do Jornal Pequeno nota-se que no seu primeiro desfile o
Vassourinhas saiu à rua com seus integrantes cantando a modinha Se
esta rua fosse minha, de autor desconhecido. O frevo Vassourinhas
inegavelmente é uma adaptação desta canção, portanto já existia
antes da data em que teria sido “compositada” (sic).
Por
sua vez, também em pesquisas de Evandro Rabello, foi constatado que
o clube adquiriu o frevo Vassourinhas em 18 de novembro de 1910,
segundo recibo que faz parte do acervo de documentação da entidade,
onde Joana Batista e Mathias da Rocha cedem os direitos da marcha
por três mil réis. O recibo está assinado pelos dois. Porém, ainda
em pesquisa do incansável Rabello, o Jornal do Recife, edição de 9
de agosto de 1907, na seção de Necrologia (sic) registra que no dia
13 de julho foi sepultado no Cemitério Público: “Mathias Theodoro da
Rocha, pernambucano, 43 anos, solteiro”. Sendo assim, quem assinou
com Joana Batista o citado recibo?
O
certo é que o clube recebe até hoje os direitos de execução da sua
Marcha nº1: “Ele não cai em domínio público, apesar de ter mais de
cem anos, porque pertence ao clube”, explica Leonardo Dantas Silva.
Segundo o presidente Gouveia, o que o Vassourinhas recebe de
direitos de execução de sua música a cada ano não é muito, embora
não revele valores, nem sabe explicar como a arrecadação geral é
rateada. Na página eletrônica do Ecad, noticia-se que foram
distribuídos R$ 8,3 milhões de direitos autorais, para as múscias
mais executadas no Carnaval de 2007. Vassourinhas ficou em quarto
lugar no ranking das mais executadas, e no décimo lugar em valor
arrecadado. O Ecad, porém, conforme explicou o um dos seus
assessores de imprensa, Tibérius Drummmond, só pode informar o valor
arrecadado quando autorizado pelos autores da música, no caso de
Vassourinhas pela diretoria do clube.
Hoje
com sede em Afogados, o clube com 120 anos de fundado, tem 18 a mais
do que os 102 anos oficiais do frevo. O fausto das primeiras décadas
do século passado está bem distante. Depois de uma década sem sair
às ruas do Recife, o clube voltou a desfilar em 2004, e sai
novamente este ano, mas sem que os organizadores do Carnaval prestem
uma homenagem especial ao aniversariante, que terá um desfile
humilde: “Nosso tema será Recordando os velhos carnavais, diz o
diretor de carnaval de Vassourinhas, Maurício Batista dos Santos. O
clube, hoje, no segundo grupo, não desfila mais pelo Centro do
Recife, com uma multidão atrás fazendo o passo no compasso do mais
famoso dos frevos-de-rua, a Marcha nº1 de Vassourinhas: “O clube sai
com cerca 200, um pouco mais, um pouco menos”, conta o diretor. O
presidente da agremiação, José Gouveia, diz que Vassourinhas
desfilará na Avenida do Forte, nos Torrões, porque foi o local que
determinaram para o clube: “É um desfile para poucos, mas fazer o
quê? Tem a importância de Vassourinhas, mas como o turista europeu,
americano, vai saber se não vai ver?”.