Notícias
Siba e Roberto Corrêa, uma conversa de cordas

04/03/2009

 

 

Fotos: Paulo Liebert/AE

Siba e Roberto Corrêa estarão no projeto Rumos Convida, do Itaú Cultural
 

Em projeto inédito, as violas e a rabeca dos músicos fundem referências universais em primoroso CD

Lauro Lisboa Garcia, de O Estado de S. Paulo

SÃO PAULO - O mineiro Roberto Corrêa, uma das maiores autoridades em viola caipira, como instrumentista e estudioso, traz em sua música referências do Centro-Oeste e do Sudeste brasileiro. O pernambucano Siba, compositor, músico e letrista dos mais brilhantes em atividade no País, um dos criadores do grupo Mestre Ambrósio, encontrou seu eixo na região da Zona da Mata. Com as bases na tradição e as antenas captando ondas universais, ambos vêm construindo obras fundamentais, de reconhecimento internacional. Em 2002, no CD Extremosa-Rosa, de Corrêa, eles gravaram juntos pela primeira vez. Ali brotava uma frutífera parceria que resultaria no álbum Violas de Bronze (independente), que terá o primeiro show de lançamento nesta terça-feira, 3, abrindo o projeto Rumos Convida, do Itaú Cultural. O convidado da dupla é o também violeiro, e não menos respeitável, Paulo Freire, paulistano. Até domingo haverá outros bons encontros no mesmo palco (leia abaixo).

Siba e Corrêa dedicaram o CD ao músico Edson Natale, por ter sido o primeiro a dar "nó nos arames de bronze". Natale foi quem propôs que os dois, que já tinham sido curadores do Rumos em 2000, se apresentassem juntos num projeto no Rio. "Já tínhamos uma história de colaborações, mas nenhum dos dois tinha imaginado essa possibilidade", observa Siba, que participou de três temas de Extremosa-Rosa, título de uma das faixas de Violas de Bronze. "A gente nunca discutiu objetivamente o que fazer e como se juntar, é uma coisa que veio de uma forma meio natural. Primeiro pela música, que você vai fazendo sem necessariamente ter de formular conceitos", prossegue. "É óbvio que a gente vem de regiões diferentes, mas tem muito a ver. As violas se comunicam, a rabeca se comunica com a viola, as cordas rurais do Brasil de maneira geral se comunicam muito." 

Siba confirma que tanto ele quanto Corrêa têm um vínculo profundo com a tradição, mas ao mesmo tempo uma relação "muito livre" de mesclar referências externas e modernas com essa tradição, cada um de seu jeito. "Penso da mesma maneira que Siba", diz Corrêa. Além dessa conversa natural entre as cordas, ele observa que "pela primeira vez se gravou essa combinação de instrumentos, a rabeca com a viola de cocho, a viola caipira com a viola nordestina". "Não foi esse o nosso propósito, mas acho que foi uma interação que ocasionou o encontro desses instrumentos também. Como soaria? Nós dois somos compositores, nossa principal expressão é a criação e a gente sabia que um mais um não seriam dois, seriam muito mais, porque a gente faria uma nova coisa. E de fato isso aconteceu." 

A única faixa assinada em dupla é a que abre o CD, Cara de Bronze, cujo personagem é um violeiro poeta que, "ruminando pensamentos" na varanda da fazenda, "passa a noite procurando a rima exata", coisa que Siba sempre encontra em primorosas letras, sempre ricas em imagens. É o caso de Big Brother Mental, em que supera outras já feitas sobre a relação do homem com o conhecimento e as tecnologias. Nas demais faixas, alternando temas instrumentais e canções, Siba e Corrêa versam, concreta ou abstratamente, sobre assuntos ligados à terra, à natureza e a mistérios da existência e do universo, como Nos Gerais (única parceria de Corrêa e Néviton Ferreira no CD), Boi Tristeza, Lume e Procissão da Chuvarada. 

Se do Mestre Ambrósio para a banda Fuloresta, a rabeca de Siba foi migrando para execuções cada vez mais discretas, aqui ela retoma sua posição de protagonista. O que mudou desta vez foi o canto, mais contido, justamente por adequação à sonoridade mais intimista. Como diz o músico, sem os metais e a percussão da Fuloresta, que faz música de rua, não é preciso "cantar pra fora". 

As músicas foram escolhidas pensando num conceito, diz Corrêa. "As peças instrumentais são discursivas, interagindo com a parte discursiva da poesia do Siba. É importante, por exemplo, o tema Nos Gerais, que fala desse sertão mineiro, na voz dele. Ficou curiosa essa combinação", diz. Para Siba, "fica um pouco restritivo" ler o trabalho da dupla só em termos de Nordeste e Centro-Oeste conversando, porque ambos têm uma formação muito mais abrangente, por ter ouvido e feito muita coisa diferente. Ambos, aliás, têm novos projetos em andamento. Corrêa lança em junho o CD Temperança, de canções, só de voz e viola. Siba continua com a Fuloresta e durante o ano prepara material para lançar em 2010, juntando trabalho de cordas com o que vem desenvolvendo com o pessoal de Nazaré da Mata.  

Serviço

Rumos Convida. Itaú Cultural (240 lug.). Av. Paulista, 149, tel. 2168-1776. De hoje a dom., às 20 h. Grátis (retirar ingressos com meia hora de antecedência)

(© JC Online)

 


Outros encontros de peso na Avenida Paulista

Projeto Rumos Convida reúne bandas como Pata de Elefante e Cidadão Instigado

Lauro Lisboa Garcia

Siba e Roberto Corrêa se conheceram no projeto Violeiros do Brasil, de Myriam Taubkin, em 1997. Além deles, Paulo Freire é outro desses violeiros que transitam entre a metrópole e o campo. No show de hoje, no Itaú Cultural, além dos temas de Violas de Bronze, eles devem tocar outros de seus trabalhos individuais e também da obra do convidado.

Amanhã é a vez do grupo Móveis Coloniais de Acaju, de Brasília, que mistura rock, ska e ritmos brasileiros numa salada que eles batizaram de "feijoada búlgara". O carisma do elétrico vocalista André Gonzáles é um dos trunfos da big band, mas o naipe de metais também garante a potência de seu som. É nesse ponto que surge a afinidade com o convidado da noite, o trombonista paulistano Bocato, que lançou recentemente o bom CD Hidrogênio, pela Baratos Afins.

Na quinta, vem da Paraíba outra boa banda, Cabruêra, que também fazem boa mistura do regional com o pop. O convidado do grupo é o rapper carioca BNegão. Sempre criativo e envolvido numa série de bons projetos e atividades, como o Turbo Trio e 3 BRio, ele prepara trabalho-solo para lançar neste semestre.

Também destacado por atividades bem-sucedidas, outra figura importante do pop carioca atual é Rodrigo Amarante, que se apresentou recentemente na cidade com o Little Joy, reencontra Los Hermanos no show de abertura do Just a Fest, no dia 22, e é convidado do Cidadão Instigado neste sábado. A banda de Fernando Catatau (que também tocou com Los Hermanos) é uma das mais interessantes desta década, mesclando um pouco de tudo: maracatu, jazz, drum?n?bass, samba. A atriz e cantora Karine Carvalho também faz participação especial no show.

Encerrando a mostra do Rumos, no domingo, o destaque é a banda instrumental gaúcha Pata de Elefante. Se já é bom em disco, o trio - formado por baixo, guitarra e bateria - rende mais ao vivo. Seus convidados vêm de Cuiabá, também fazem rock instrumental e lançaram um dos melhores discos do gênero em 2008, Artista Igual Pedreiro. É o Macaco Bong. Com tantos shows no fim de semana na cidade vai ser difícil escolher, mas este é daqueles para não se perder.

(© JC Online)


SITE

Siba e a Fuloresta

 

Anti-Viola - Roberto Corrêa e Orquestra à Base de Cordas de Curitiba

 

 

Siba e a Fuloresta no Auditório Ibirapuera

 

 

Com relação a este tema, saiba mais (arquivo NordesteWeb)


powered by FreeFind