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Nobre parceiro de Gonzagão

07/03/2009

 

 

Foto: Lia de Paula

Tomada de O homem que engarrafava nuvens
 

Júlio Cavani

Nesta semana, os colombianos conheceram a música de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira por meio do filme O homem que engarrafava nuvens, dirigido por Lírio Ferreira (Baile perfumado), que participa do Festival Internacional de Cine de Cartagena de Indias, na Colômbia. O filme ainda não foi exibido em Pernambuco, mas a primeira projeção pode ocorrer programação do Cine PE, no Teatro Guararapes, entre 27 de abril e 30 de maio.

Lírio Ferreira e Denise Dummont (atriz, filha de Teixeira e produtora do filme) afirmaram ao Diario que têm o interesse de lançar o longa no festival pernambucano, onde o filme foi inscrito para tentar concorrer na mostra competitiva. Os organizadores do Cine PE, entretanto, preferem não se posicionar oficialmente antes de divulgar o resultado da seleção.

Em Cartagena, que tem o festival de cinema mais antigo da América Latina, o filme foi exibido três vezes esta semana e concorre na competição internacional de documentários, junto com o pernambucano Pindorama: A verdadeira história dos sete anões, dirigido por Lula Queiroga, Leo Crivelare e Roberto Berliner. A premiação é anunciada neste sábado.

O homem que engarrafava nuvens foi projetado primeiro em Nova York, em setembro de 2008, no Museum of Modern Art (Moma). Depois, o filme participou das mostras do Rio de Janeiro e do Pantanal, em Campo Grande, onde venceu os prêmios do júri e do público, concorrendo com longas dirigidos por Selton Mello (Feliz Natal), Matheus Nachtergaele (A festa da menina morta) e Paulo Caldas (Deserto feliz). Também foi selecionado para o International Documentary Film Festival of Amsterdam (IDFA), o principal do mundo para documentários.

O homem que engarrafava nuvens, sobre Humberto Teixeira, foi exibido três vezes em Cartagena, na Colômbia. Foto: Total Entertainment/Good Ju-ju/Asylum Filmes/ Petrobras

Por enquanto, os próximos destinos do longa são festivais em Paris e Toulouse (ambos na França), Texas, Los Angeles Miami (os três nos EUA) e Vancouver (Canadá). Além do Cine PE, Denise Dummont também quer mostrar o filme no Cine Ceará, no estado onde nasceu Humberto Teixeira. "Estamos em negociação com companhias diferentes. Ainda não posso confirmar quando o filme entra no circuito de cinemas", ressalva a produtora.

O homem que engarrafava nuvens resgata a vida e a obra de Humberto Teixeira (1915-1979), um dos principais compositores da obra musical de Luiz Gonzaga. No filme, suas músicas são cantadas por artistas populares e por grandes nomes da música brasileira e estrangeira, como David Byrne (Talking Heads), Gilberto Gil, Caetano Veloso, Gal Costa, Zeca Pagodinho, Bebel Gilberto, Elba Ramalho, Alceu Valença, Belchior, Cordel do Fogo Encantado, Mutantes, Raul Seixas, Otto, Miho Hatori (Cibo Matto), Maria Bethânia e Chico Buarque. Alguns foram filmados exclusivamente para o documentário e outros aparecem em imagens de arquivo.

Autor de canções como Asa branca, Assum preto e Qui nem jiló, Teixeira ajudou a formatar e popularizar o baião e também foi advogado e deputado federal. Além de Baile perfumado (co-dirigido por Paulo Caldas), Lírio Ferreira também filmou os longas Cartola (junto com Hilton Lacerda) e Árido movie,selecionado para o Festival de Veneza. Daniel Filho (Se eu fosse você) também é um dos co-produtores de O homem que engarrafava nuvens, que tem direção de fotografia de Walter Carvalho (Central do Brasil).

(© Diário de Pernambuco)

 


 

Entrevista (16/12/2003)

 

“Buena Vista” Humberto Teixeira

Foto: Miguel Portela

A ATRIZ Denise Dummont produz filme sobre seu pai,
o Doutor do Baião, Humberto Teixeira

Henrique Nunes

A atriz Denise Dummont está produzindo um documentário sobre a vida e a obra do compositor cearense Humberto Teixeira (1915 - 1979), seu pai. O autor de “Asa Branca”, “Qui nem jiló”, “Juazeiro”, “Assum Preto”, “Baião”, “Kalu”, entre outras, estará sendo levado às telas em “O homem que engarrafava nuvens”, que terá direção de Lírio Ferreira. Há dois meses, a atriz esteve em Fortaleza, numa concorrida noite familiar, quando foi apresentado um memorial para o compositor, (já devidamente desinstalado), no Centro Federal de Educação Tecnológica. Quase dois meses depois de retornar a Nova York, alegando compromissos, Denise respondeu às questões enviadas pelo Caderno 3 por e-mail, no bate-papo que publicamos a seguir

O documentário “O homem que engarrafava nuvens” ainda está em fase de produção. Faltam filmagens no Rio de Janeiro, nos Estados Unidos e, claro, as concorridíssimas seqüências previstas para Iguatu, a cidade natal do compositor. “Fiquei sabendo que existe uma rodovia com o nome dele”, insinuou Denise, no Cefet. “É a que liga Iguatu a Quixadá, mais conhecida como Estrada do Algodão”, esclareceu, de pronto, dona Matilde Teixeira, diretora do museu que leva o nome do seu primo famoso. “Pois é, então a gente tem que começar o filme nessa rodovia”, vislumbrou a filha do compositor.

O projeto nasceu sob o incentivo de Ana Jobim, viúva de Tom. Na sua fala, Denise contou que depois do álbum “Doutor do Baião”, gravado ao vivo no Teatro Rival pela Biscoito Fino, reunindo nomes como Gilberto Gil, Lenine, Sivuca e Cordel do Fogo Encantado, a idéia natural foi produzir o filme, inclusive porque ela estava fascinada, na época, com a caravana cubana de Wim Wenders, no documentário “Buena Vista Social Club”.

Para “O homem que engarrafava nuvens” (titulo sacado de uma entrevista de Humberto Teixeira a Nirez) ainda falta filmar muita coisa, como as seqüências em Iguatu, o depoimento do pesquisador cearense, de contemporâneos do Rio, além de intérpretes como a brasileira Luciana Souza e norte-americanos, como David Byrne, do grupo Talking Heads, que gravaram composições de Mr. Teixeira. “Eu quero mostrar com isso a trajetória da nossa música e da nossa cultura”.

Caderno3 — Você é a única atriz brasileira a trabalhar com Woody Allen. Sua atuação em “A Era do Rádio” ajudou a abrir portas na maior indústria do cinema do mundo?

Denise Dummont - Não. Na verdade, foi divertidíssimo e inclusive pretendo agora usá-lo no meu filme com a sua bandinha, mas em termos de abrir portas, não. Aqui é muito difícil. A indústria é realmente isso. Uma indústria. O que rege as carreiras, não só de atores como diretores, roteiristas, etc. é a bilheteria e não o valor artístico. Woody Allen é um gênio, mas os filmes dele não são “blockbusters”. Pessoalmente, eu prefiro assim. Foi uma honra.

- Além de Allen, você trabalhou em projetos tão diversos de Babenco, Walter Hugo Khoury, Nevile de Almeida, J.B. Tanko, Antônio Calmon e Paulo Thiago. Quais destes diretores foram os mais representativos para a sua trajetória? Fale um pouco sobre as experiências que mais te fascinaram.

Denise Dummont - Antonio Calmon é meu amigo até hoje. Com ele fiz meu primeiro filme, “Terror e Êxtase”. Ganhei o prêmio APCA por esse trabalho. Acho que foi bom. Era uma boa história do Carlinhos de Oliveira. Mas olhando para trás, acho que me expus demais, não só nesse, como em vários outros filmes. Era uma outra época, ainda durante a ditadura militar, um tempo onde existia censura e acho que como não podíamos falar dos assuntos importantes, falar de sexo era uma maneira de se rebelar e se liberar. Fez sentido na época. Walter Hugo era um príncipe. Um ser humano da maior delicadeza e um grande diretor de mulheres. Ele era o nosso Bergman. Babenco foi de uma certa forma responsável pela minha mudança para os Estados Unidos, pois “O Beijo da Mulher Aranha”, onde faço um papel bem pequeno, esse sim, abriu as portas profissionais pra mim por aqui. Também continuamos amigos e estou torcendo por ele nos Oscars. Gostaria de falar também do Daniel Filho que, na minha opinião, é um dos maiores diretores do mundo. Por ele ter feito mais televisão, as pessoas se esquecem do quanto ele é bom . Um certo esnobismo, talvez.

- Gostaria de saber como era a sua convivência com o seu pai. Ele era mesmo muito rigoroso, como costumam ser os nordestinos?

Denise Dummont - A convivência era boa. Ele era muito carinhoso e doce, mas também muito rigoroso, quadrado e machista. Por exemplo, meu sobrenome artístico é Dummont porque ele era contra eu ser atriz, achava que não era coisa de menina de família e me proibiu de usar Teixeira. Meu nome do meio é Pollice. Durante a ditadura iria virar Denise Policia em um minuto, aí tive que partir pra outro. Daniel Filho sugeriu Dummont.

- Na juventude, você passou por aquela fase de questionamento, a ponto de se afastar da música de Humberto e até dele próprio?

Denise Dummont - É claro. Só ouvia rock.

- Muitos dos teus filmes são bem picantes e, um ano depois da morte dele, você posou para a Playaboy. Qual era (ou qual seria) a reação de Humberto?

Denise Dummont - Ele teria tido o ataque do coração que o levou um ano antes…

- Quais os teus projetos para cinema ou televisão? A carreira de produtora vai tomar a de atriz de vez? E teatro, você tem vontade de fazer?

Denise Dummont - Estou tomada pelo meu filme como produtora e roteirista, mas atuar sempre foi minha paixão e se um projeto interessante aparecer, farei encantada seja cinema, televisão ou teatro, que foi onde comecei e do qual sinto muita saudade.

- Como você sentiu a receptividade do projeto, diante da sua família e da comunidade musical e artística brasileira em geral? A expectativa para começar as filmagens é grande? Como estão as negociações para os apoios culturais?

Denise Dummont - A receptividade não poderia ter sido melhor. Todos de quem me aproximei foram da maior generosidade com seu tempo e talento. Mal posso esperar para retomar as filmagens. No momento, aguardo respostas de contatos feitos para patrocínios. Se der tudo certo, espero estar filmando de novo em janeiro.

- Você conta que o estímulo de Ana Jobim foi fundamental para encaminhar a produção do filme. O que mais te motivou a encarar estes projetos, depois dessa troca de experiências com ela?

Denise Dummont - A necessidade real dessa história ser contada. Humberto Teixeira foi da maior importância na nossa cultura e ninguém sabe quem ele é. Isso precisa ser corrigido.

- Quais estão sendo as maiores dificuldades para produzir “O homem que engarrafava nuvens”?

Denise Dummont - . A única dificuldade!

- Gostaria que você falasse da escolha da equipe técnica principal do filme e de qual linguagem (narrador em off, doc-ficção, uso de atores) você e o Lírio pretendem utilizar? A idéia é seguir o roteiro de depoimentos e música do Buena Vista Social Club ou fazer uma coisa mais sentimental, em torno da biografia do Humberto?

Denise Dummont - A nossa equipe é da maior qualidade. Realmente, eu não poderia desejar mais nada. E todo mundo nordestino! Lírio, que além de ser um príncipe pernambucano, é do maior talento e traz uma visão moderna e uma relação com música que é fundamental para o projeto. Waltinho Carvalho, além de ser um sonho de paraibano, é um dos melhores diretores de fotografia do mundo. Minha co-produtora Ana Jobim, decendente de cearense, aliás do povo da Padaria Espiritual. Enfim, não foi de propósito, mas foi acontecendo assim e não podia ser melhor. Faz o maior sentido. Estamos filmando em 16 milímetros. É meio uma colagem porque existe também muito material de arquivo. Filmes, fotos, jornais, etc. que serão misturados com depoimentos, entrevistas e shows. Não vamos seguir o roteiro do Buena Vista Social Club, mas há uma semelhança, na medida em que é um documentário e é também um musical, mas gira em torno da história da vida de uma pessoa, Humberto Teixeira.

(© Diário do Nordeste)


VÍDEO

Trailer do filme “O homem que engarrafava nuvens”?

 

 

Com relação a este tema, saiba mais (arquivo NordesteWeb)


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