Foto: Lia de Paula
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Tomada de O
homem que engarrafava nuvens
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Júlio Cavani
Nesta semana, os colombianos conheceram a música de Luiz Gonzaga e Humberto
Teixeira por meio do filme O
homem que engarrafava nuvens, dirigido por Lírio Ferreira (Baile
perfumado), que participa do Festival Internacional de Cine de Cartagena de
Indias, na Colômbia. O filme ainda não foi exibido em Pernambuco, mas a
primeira projeção pode ocorrer programação do Cine PE, no Teatro Guararapes,
entre 27 de abril e 30 de maio.
Lírio Ferreira e Denise Dummont (atriz, filha de Teixeira e produtora do
filme) afirmaram ao Diario que têm o interesse de lançar o longa no festival
pernambucano, onde o filme foi inscrito para tentar concorrer na mostra
competitiva. Os organizadores do Cine PE, entretanto, preferem não se
posicionar oficialmente antes de divulgar o resultado da seleção.
Em Cartagena, que tem o festival de cinema mais antigo da América Latina, o
filme foi exibido três vezes esta semana e concorre na competição
internacional de documentários, junto com o pernambucano Pindorama: A
verdadeira história dos sete anões, dirigido por Lula Queiroga, Leo
Crivelare e Roberto Berliner. A premiação é anunciada neste sábado.
O homem que engarrafava nuvens foi projetado primeiro em Nova York, em
setembro de 2008, no Museum of Modern Art (Moma). Depois, o filme participou
das mostras do Rio de Janeiro e do Pantanal, em Campo Grande, onde venceu os
prêmios do júri e do público, concorrendo com longas dirigidos por Selton
Mello (Feliz Natal), Matheus Nachtergaele (A festa da menina morta) e Paulo
Caldas (Deserto feliz). Também foi selecionado para o International
Documentary Film Festival of Amsterdam (IDFA), o principal do mundo para
documentários.
O homem que engarrafava nuvens, sobre Humberto
Teixeira, foi exibido três vezes em Cartagena, na Colômbia. Foto:
Total Entertainment/Good Ju-ju/Asylum Filmes/ Petrobras |
Por enquanto, os próximos destinos do longa são festivais em Paris e
Toulouse (ambos na França), Texas, Los Angeles Miami (os três nos EUA) e
Vancouver (Canadá). Além do Cine PE, Denise Dummont também quer mostrar o
filme no Cine Ceará, no estado onde nasceu Humberto Teixeira. "Estamos em
negociação com companhias diferentes. Ainda não posso confirmar quando o
filme entra no circuito de cinemas", ressalva a produtora.
O homem que engarrafava nuvens resgata a vida e a obra de Humberto Teixeira
(1915-1979), um dos principais compositores da obra musical de Luiz Gonzaga.
No filme, suas músicas são cantadas por artistas populares e por grandes
nomes da música brasileira e estrangeira, como David Byrne (Talking Heads),
Gilberto Gil, Caetano Veloso, Gal Costa, Zeca Pagodinho, Bebel Gilberto,
Elba Ramalho, Alceu Valença, Belchior, Cordel do Fogo Encantado, Mutantes,
Raul Seixas, Otto, Miho Hatori (Cibo Matto), Maria Bethânia e Chico Buarque.
Alguns foram filmados exclusivamente para o documentário e outros aparecem
em imagens de arquivo.
Autor de canções como Asa branca, Assum preto e Qui nem jiló, Teixeira
ajudou a formatar e popularizar o baião e também foi advogado e deputado
federal. Além de Baile perfumado (co-dirigido por Paulo Caldas), Lírio
Ferreira também filmou os longas Cartola (junto com Hilton Lacerda) e Árido
movie,selecionado para o Festival de Veneza. Daniel Filho (Se eu fosse você)
também é um dos co-produtores de O homem que engarrafava nuvens, que tem
direção de fotografia de Walter Carvalho (Central do Brasil).
(©
Diário de Pernambuco)
Entrevista (16/12/2003)
Foto: Miguel Portela
A ATRIZ Denise Dummont produz filme sobre seu pai,
o Doutor do Baião, Humberto Teixeira
Henrique Nunes
A atriz Denise Dummont está produzindo um documentário sobre a vida
e a obra do compositor cearense Humberto Teixeira (1915 - 1979), seu
pai. O autor de “Asa Branca”, “Qui nem jiló”, “Juazeiro”, “Assum Preto”,
“Baião”, “Kalu”, entre outras, estará sendo levado às telas em “O homem
que engarrafava nuvens”, que terá direção de Lírio Ferreira. Há dois
meses, a atriz esteve em Fortaleza, numa concorrida noite familiar,
quando foi apresentado um memorial para o compositor, (já devidamente
desinstalado), no Centro Federal de Educação Tecnológica. Quase dois
meses depois de retornar a Nova York, alegando compromissos, Denise
respondeu às questões enviadas pelo Caderno 3 por e-mail, no bate-papo
que publicamos a seguir
O documentário “O homem que engarrafava nuvens” ainda está em fase de
produção. Faltam filmagens no Rio de Janeiro, nos Estados Unidos e,
claro, as concorridíssimas seqüências previstas para Iguatu, a cidade
natal do compositor. “Fiquei sabendo que existe uma rodovia com o nome
dele”, insinuou Denise, no Cefet. “É a que liga Iguatu a Quixadá, mais
conhecida como Estrada do Algodão”, esclareceu, de pronto, dona Matilde
Teixeira, diretora do museu que leva o nome do seu primo famoso. “Pois
é, então a gente tem que começar o filme nessa rodovia”, vislumbrou a
filha do compositor.
O projeto nasceu sob o incentivo de Ana Jobim, viúva de Tom. Na sua
fala, Denise contou que depois do álbum “Doutor do Baião”, gravado ao
vivo no Teatro Rival pela Biscoito Fino, reunindo nomes como Gilberto
Gil, Lenine, Sivuca e Cordel do Fogo Encantado, a idéia natural foi
produzir o filme, inclusive porque ela estava fascinada, na época, com a
caravana cubana de Wim Wenders, no documentário “Buena Vista Social
Club”.
Para “O homem que engarrafava nuvens” (titulo sacado de uma entrevista
de Humberto Teixeira a Nirez) ainda falta filmar muita coisa, como as
seqüências em Iguatu, o depoimento do pesquisador cearense, de
contemporâneos do Rio, além de intérpretes como a brasileira Luciana
Souza e norte-americanos, como David Byrne, do grupo Talking Heads, que
gravaram composições de Mr. Teixeira. “Eu quero mostrar com isso a
trajetória da nossa música e da nossa cultura”.
Caderno3 — Você é a única atriz brasileira a trabalhar com Woody
Allen. Sua atuação em “A Era do Rádio” ajudou a abrir portas na maior
indústria do cinema do mundo?
Denise Dummont - Não. Na verdade, foi divertidíssimo e inclusive
pretendo agora usá-lo no meu filme com a sua bandinha, mas em termos de
abrir portas, não. Aqui é muito difícil. A indústria é realmente isso.
Uma indústria. O que rege as carreiras, não só de atores como diretores,
roteiristas, etc. é a bilheteria e não o valor artístico. Woody Allen é
um gênio, mas os filmes dele não são “blockbusters”. Pessoalmente, eu
prefiro assim. Foi uma honra.
- Além de Allen, você trabalhou em projetos tão diversos de
Babenco, Walter Hugo Khoury, Nevile de Almeida, J.B. Tanko, Antônio
Calmon e Paulo Thiago. Quais destes diretores foram os mais
representativos para a sua trajetória? Fale um pouco sobre as
experiências que mais te fascinaram.
Denise Dummont - Antonio Calmon é meu amigo até hoje. Com ele fiz meu
primeiro filme, “Terror e Êxtase”. Ganhei o prêmio APCA por esse
trabalho. Acho que foi bom. Era uma boa história do Carlinhos de
Oliveira. Mas olhando para trás, acho que me expus demais, não só nesse,
como em vários outros filmes. Era uma outra época, ainda durante a
ditadura militar, um tempo onde existia censura e acho que como não
podíamos falar dos assuntos importantes, falar de sexo era uma maneira
de se rebelar e se liberar. Fez sentido na época. Walter Hugo era um
príncipe. Um ser humano da maior delicadeza e um grande diretor de
mulheres. Ele era o nosso Bergman. Babenco foi de uma certa forma
responsável pela minha mudança para os Estados Unidos, pois “O Beijo da
Mulher Aranha”, onde faço um papel bem pequeno, esse sim, abriu as
portas profissionais pra mim por aqui. Também continuamos amigos e estou
torcendo por ele nos Oscars. Gostaria de falar também do Daniel Filho
que, na minha opinião, é um dos maiores diretores do mundo. Por ele ter
feito mais televisão, as pessoas se esquecem do quanto ele é bom . Um
certo esnobismo, talvez.
- Gostaria de saber como era a sua convivência com o seu pai.
Ele era mesmo muito rigoroso, como costumam ser os nordestinos?
Denise Dummont - A convivência era boa. Ele era muito carinhoso e doce,
mas também muito rigoroso, quadrado e machista. Por exemplo, meu
sobrenome artístico é Dummont porque ele era contra eu ser atriz, achava
que não era coisa de menina de família e me proibiu de usar Teixeira.
Meu nome do meio é Pollice. Durante a ditadura iria virar Denise Policia
em um minuto, aí tive que partir pra outro. Daniel Filho sugeriu
Dummont.
- Na juventude, você passou por aquela fase de questionamento, a
ponto de se afastar da música de Humberto e até dele próprio?
Denise Dummont - É claro. Só ouvia rock.
- Muitos dos teus filmes são bem picantes e, um ano depois da
morte dele, você posou para a Playaboy. Qual era (ou qual seria) a
reação de Humberto?
Denise Dummont - Ele teria tido o ataque do coração que o levou um ano
antes…
- Quais os teus projetos para cinema ou televisão? A carreira de
produtora vai tomar a de atriz de vez? E teatro, você tem vontade de
fazer?
Denise Dummont - Estou tomada pelo meu filme como produtora e
roteirista, mas atuar sempre foi minha paixão e se um projeto
interessante aparecer, farei encantada seja cinema, televisão ou teatro,
que foi onde comecei e do qual sinto muita saudade.
- Como você sentiu a receptividade do projeto, diante da sua
família e da comunidade musical e artística brasileira em geral? A
expectativa para começar as filmagens é grande? Como estão as
negociações para os apoios culturais?
Denise Dummont - A receptividade não poderia ter sido melhor. Todos de
quem me aproximei foram da maior generosidade com seu tempo e talento.
Mal posso esperar para retomar as filmagens. No momento, aguardo
respostas de contatos feitos para patrocínios. Se der tudo certo, espero
estar filmando de novo em janeiro.
- Você conta que o estímulo de Ana Jobim foi fundamental para
encaminhar a produção do filme. O que mais te motivou a encarar estes
projetos, depois dessa troca de experiências com ela?
Denise Dummont - A necessidade real dessa história ser contada. Humberto
Teixeira foi da maior importância na nossa cultura e ninguém sabe quem
ele é. Isso precisa ser corrigido.
- Quais estão sendo as maiores dificuldades para produzir “O
homem que engarrafava nuvens”?
Denise Dummont - . A única dificuldade!
- Gostaria que você falasse da escolha da equipe técnica
principal do filme e de qual linguagem (narrador em off, doc-ficção, uso
de atores) você e o Lírio pretendem utilizar? A idéia é seguir o roteiro
de depoimentos e música do Buena Vista Social Club ou fazer uma coisa
mais sentimental, em torno da biografia do Humberto?
Denise Dummont - A nossa equipe é da maior qualidade. Realmente, eu não
poderia desejar mais nada. E todo mundo nordestino! Lírio, que além de
ser um príncipe pernambucano, é do maior talento e traz uma visão
moderna e uma relação com música que é fundamental para o projeto.
Waltinho Carvalho, além de ser um sonho de paraibano, é um dos melhores
diretores de fotografia do mundo. Minha co-produtora Ana Jobim,
decendente de cearense, aliás do povo da Padaria Espiritual. Enfim, não
foi de propósito, mas foi acontecendo assim e não podia ser melhor. Faz
o maior sentido. Estamos filmando em 16 milímetros. É meio uma colagem
porque existe também muito material de arquivo. Filmes, fotos, jornais,
etc. que serão misturados com depoimentos, entrevistas e shows. Não
vamos seguir o roteiro do Buena Vista Social Club, mas há uma
semelhança, na medida em que é um documentário e é também um musical,
mas gira em torno da história da vida de uma pessoa, Humberto Teixeira.
(©
Diário do Nordeste)
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