Olívia
Mindêlo
omindelo@gmail.com
Em cartão
postal ou museu, a obra de Paulo Bruscky já rodou o mundo. A relação do
artista pernambucano com o território internacional é tão intrínseca à
sua trajetória que soa lugar-comum falar a respeito de sua participação
numa mostra fora do País. Mesmo assim, o reconhecimento com passaporte
carimbado é algo bem recente na carreira de Bruscky, ainda marginalizado
na história da arte. E este é um ano bem sintomático nesse sentido. Além
de ter sido convidado para participar da Bienal do Mercosul, em Porto
Alegre, ele será o único brasileiro a ganhar uma sala especial na Bienal
de Havana, evento de peso no cenário latino-americano de artes visuais.
“É de
fato um movimento de consolidação da carreira de Paulo
internacionalmente”, reafirma Cristiana Tejo, curadora do projeto
expositivo da sala, cuja abertura está marcada para 28 de abril. Uma
galeria inserida numa biblioteca da cidade cubana foi o espaço oferecido
pelos organizadores da grande mostra para abrigar as obras do artista –
cerca de 150 ao todo. O espaço vem a calhar com a própria poética de
Bruscky, um obcecado por arquivar tudo que encontra pela frente.
Diferente
do que aconteceu em 2004, durante a Bienal de São Paulo, na qual ele
também teve uma sala especial, o ambiente vai ser composto por obras de
várias épocas, cujo diálogo se dá numa lógica de retrospectiva. Aliás,
menor somente que a realizada pelo MAC-USP, na capital paulista. “A
proposta é diferente da Bienal de São Paulo, porque lá foi só o meu
ateliê. Desnudaram o meu processo criativo. Em Cuba, só os trabalhos
serão mostrados”, compara o artista, que prefere não ligar muito para
essa história de reconhecimento nacional ou internacional.
Com
projeto cenográfico de Eduardo Souza, a exposição será montada no local
em formato de “u”, com uma vitrine na frente. Dois documentários sobre
vida e obra de Bruscky (da Globo News e TV Cultura), autorretratos,
postais de arte correio, trabalhos de poesia visual, intervenções
sonoras e filmes de artista estão entre os trabalhos a serem expostos na
sala especial. Alguns inéditos ainda estão sendo feitos em seu ateliê.
Além
dele, mais 11 nomes brasileiros vão participar da Bienal de Havana,
incluindo o pernambucano José Paulo. No entanto, só Bruscky tem espaço
exclusivo, ao lado de oito nomes de fora. O privilégio está garantindo
não só a sua ida, mas de toda a equipe de sua exposição para a ilha. Por
ser convidado de honra, os governos brasileiro e pernambucano toparam
arcar com um custo de R$ 240 mil, já que o País anfitrião só dá o espaço
e a viagem de volta das obras. O valor inclui, por exemplo, transporte
de todo o material da mostra, do martelo aos aparelhos eletrônicos,
difíceis de serem conseguidos em Cuba. Em contrapartida, o artista vai
realizar ação no 47º Salão de Artes Plásticas de Pernambuco, no segundo
semestre.
Esta não
é a primeira vez que Bruscky expõe na Bienal de Havana. Aliás, quando
participou, à distância, da primeira edição do evento, sua obra Teste
poético ficou embargada na saída da ilha durante três anos, porque o
Brasil não mantinha relações diplomáticas com Cuba. O tal álbum não vai
estar nessa mostra, porque, segundo ele, estava muito ligado ao contexto
brasileiro de ditadura. “Hoje não faz sentido expor”, diz. Mas a veia
política está presente até como uma preocupação curatorial. A censura
ficou bem longe desta vez. “Onde há censura eu não entro”, avisa o
artista.