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Memória em pedra e papel

11/03/2009

 

 

Obra de Gil Vicente, de 1978, da Oficina Guaianases de Gravuras
 

Publicações dos anos 20 e 30, obras do acervo da Guaianases e rótulos de várias épocas foram reunidos para exposição

Júlio Cavani // Diario
juliocavani.pe@diariosassociados.com.br

Antes de existirem computadores e tecnologias eletrônicas de impressão, a litografia era uma alternativa artesanal para a reprodução de textos e imagens.

Esta técnica marcou a visualidade pernambucana tanto no cotidiano quanto no meio artístico, como revela a exposição Pedra e papel, em cartaz na Torre Malakoff.

A mostra é dividida em três partes distintas, que têm em comum os processos de litogravura, feitos com prensas de pedra que imprimiam a tinta sobre o papel. Uma delas é dedicada a publicações da imprensa das décadas de 1920 e 30, conservadas no acervo da Fundação Joaquim Nabuco. Outra resgata obras de artistas plásticos que trabalharam, entre 1970 e 1990, nas prensas litográficas da Oficina Guaianases, cooperativa artística cujos equipamentos e gravuras encontram-se guardados na Universidade Federal de Pernambuco. Também da UFPE são os rótulos de produtos comerciais nordestinos produzidos entre 1950 e1980, que compõem o terceiro módulo.

Na seção da imprensa, estão reunidas capas e páginas de antigas revistas, como Pra você e A pilhéria. Nelas, é possível apreciar o trabalho de ilustradores como Manoel Bandeira e Lula Cardoso Ayres, além de recursos de diagramação e anúncios publicitários. Além do talento dos artistas e técnicos que trabalhavam na época, a coleção proporciona uma viagem no tempo ao revelar os costumes da sociedade recifense.
 

Fontes tipográficas e títulos ornamentados são obras de arte à parte entre os trabalhos de imprensa. Imagem: Reprodução

Uma estética Art Déco domina o espírito da época. As ilustrações retratam o modo como as mulheres modernas se vestiam e os anúncios relembram o glamour de ambientes como o Hotel Central, que até hoje funciona na Avenida Manoel Borba. As fontes tipográficas e os títulos ornamentados também são obras de arte à parte, em uma demonstração da elegância gráfica da imprensa pernambucana da primeira metade do século.

Na seção de rótulos, há antigas marcas de cachaça, conhaque, suco, vinagre e refrigerante, todas com uma beleza plástica e um cuidado artesanal que parece ter seperdido com a informatização do design. Tentação, Cintura Fina, Veraneio, Tatu, Mocó, Rainha Pernambucana, Voadora, Esportiva, Carimbó, Manda-Brasa, China e Sabiá estão entre as marcas cuja identidade visual se confunde com a cultura do Nordeste. Alguns produtos são difíceis de se achar hoje em dia, como o hidromel, os fermentados de jenipapo e os aperitivos de jurubeba.

Expressão autoral - As gravuras da Guaianases, a maioria em preto & branco, mostram como as mesmas técnicas usadas nos rótulos e na imprensa funcionavam como instrumento de experimentação e expressão autoral nas mãos de artistas plásticos. A exposição reúne trabalhos de nomes como Maurício Silva, Rinaldo, Isa Pontual, Petrônio Cunha, Marisa Lacerda, José Carlos Viana, Liliane Dardot, José Paulo e José de Moura.

Como a ênfase da exposição é o ofício da litografia (ou litogravura), são mostrados ainda os bastidores dos processos técnicos, com a presença de antigas prensas e matrizes. Os professores Sebastião Pedrosa e Silvio Barreto Campelo, ambos da UFPE, fizeram a seleção dos trabalhos mostrados na exposição, respectivamente da Guaianases e do material iconográfico comercial.
 

Gravuras da Guaianazes, produzidas entre 1970 e 1990, pertencem hoje ao acervo da UFPE. Intrigante, de Gil Vicente

A exposição é uma parceria entre o governo de Pernambuco (Torre Malakoff), a Prefeitura do Recife (gerências de design e artes visuais) e a Universidade Federal. De 30 de março a 3 de abril, o público pode aprender a usar os equipamentos de impressão em oficinas ministradas no local. Um catálogo com todas as imagens também será distribuído.

Serviço

Exposição Pedra e papel
Em cartaz até 7 de abril
Onde: Torre Malakoff (Praça do Arsenal, Recife Antigo)

(© Diário de Pernambuco)


SITE

Oficina Guaianases de Gravuras

 

Com relação a este tema, saiba mais (arquivo NordesteWeb)


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