Publicações dos anos 20 e 30, obras do acervo da Guaianases e rótulos de
várias épocas foram reunidos para exposiçãoJúlio Cavani // Diario
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Antes de existirem computadores e tecnologias eletrônicas de impressão, a
litografia era uma alternativa artesanal para a reprodução de textos e
imagens.
Esta técnica marcou a visualidade pernambucana tanto no cotidiano quanto no
meio artístico, como revela a exposição Pedra e papel, em cartaz na Torre Malakoff.A mostra é dividida em três partes distintas, que têm em comum os processos
de litogravura, feitos com prensas de pedra que imprimiam a tinta sobre o
papel. Uma delas é dedicada a publicações da imprensa das décadas de 1920 e
30, conservadas no acervo da Fundação Joaquim Nabuco. Outra resgata obras de
artistas plásticos que trabalharam, entre 1970 e 1990, nas prensas
litográficas da Oficina Guaianases, cooperativa artística cujos equipamentos
e gravuras encontram-se guardados na Universidade Federal de Pernambuco.
Também da UFPE são os rótulos de produtos comerciais nordestinos produzidos
entre 1950 e1980, que compõem o terceiro módulo.
Na seção da imprensa, estão reunidas capas e páginas de antigas revistas,
como Pra você e A pilhéria. Nelas, é possível apreciar o trabalho de
ilustradores como Manoel Bandeira e Lula Cardoso Ayres, além de recursos de
diagramação e anúncios publicitários. Além do talento dos artistas e
técnicos que trabalhavam na época, a coleção proporciona uma viagem no tempo
ao revelar os costumes da sociedade recifense.
Fontes tipográficas e títulos ornamentados são
obras de arte à parte entre os trabalhos de imprensa. Imagem:
Reprodução |
Uma estética Art Déco domina o espírito da época. As ilustrações retratam o
modo como as mulheres modernas se vestiam e os anúncios relembram o glamour
de ambientes como o Hotel Central, que até hoje funciona na Avenida Manoel
Borba. As fontes tipográficas e os títulos ornamentados também são obras de
arte à parte, em uma demonstração da elegância gráfica da imprensa
pernambucana da primeira metade do século.
Na seção de rótulos, há antigas marcas de cachaça, conhaque, suco, vinagre e
refrigerante, todas com uma beleza plástica e um cuidado artesanal que
parece ter seperdido com a informatização do design. Tentação, Cintura Fina,
Veraneio, Tatu, Mocó, Rainha Pernambucana, Voadora, Esportiva, Carimbó,
Manda-Brasa, China e Sabiá estão entre as marcas cuja identidade visual se
confunde com a cultura do Nordeste. Alguns produtos são difíceis de se achar
hoje em dia, como o hidromel, os fermentados de jenipapo e os aperitivos de
jurubeba.
Expressão autoral - As gravuras da Guaianases, a maioria em preto & branco,
mostram como as mesmas técnicas usadas nos rótulos e na imprensa funcionavam
como instrumento de experimentação e expressão autoral nas mãos de artistas
plásticos. A exposição reúne trabalhos de nomes como Maurício Silva,
Rinaldo, Isa Pontual, Petrônio Cunha, Marisa Lacerda, José Carlos Viana,
Liliane Dardot, José Paulo e José de Moura.
Como a ênfase da exposição é o ofício da litografia (ou litogravura), são
mostrados ainda os bastidores dos processos técnicos, com a presença de
antigas prensas e matrizes. Os professores Sebastião Pedrosa e Silvio
Barreto Campelo, ambos da UFPE, fizeram a seleção dos trabalhos mostrados na
exposição, respectivamente da Guaianases e do material iconográfico
comercial.
Gravuras da Guaianazes, produzidas entre 1970
e 1990, pertencem hoje ao acervo da UFPE. Intrigante, de Gil Vicente |
A exposição é uma parceria entre o governo de Pernambuco (Torre Malakoff), a
Prefeitura do Recife (gerências de design e artes visuais) e a Universidade
Federal. De 30 de março a 3 de abril, o público pode aprender a usar os
equipamentos de impressão em oficinas ministradas no local. Um catálogo com
todas as imagens também será distribuído.
Serviço
Exposição Pedra e papel
Em cartaz até 7 de abril
Onde: Torre Malakoff (Praça do Arsenal, Recife Antigo)