Cantor e
compositor Lula Queiroga lança o novo disco Tem juízo mas não usa
José Teles
teles@jc.com.br
Quando Lula
Queiroga e sua trupe de barulhinhos bons começaram a arquitetar as
músicas de Tem juízo mas não usa, CD que lança hoje com um show no
Teatro da UFPE, às 21h, o filho Luca, o lourinho de olhos azuis de 2
anos que ilustra capa, ainda nem existia. Lula não tem pressa em lançar
discos. Tem juízo mas não usa fecha a trilogia iniciada há oito anos com
Aboiando a vaca mecânica. O segundo disco, Azul invisível vermelho cruel
veio em 2004. E agora, cinco anos depois, fecha-se o círculo.
“É uma
trilogia mais no estilo das músicas do que mesmo em temas”, diz o autor.
“Talvez o Aboiando seja o mais doidinho. O Azul invisível é mais urbano.
Este terceiro é uma terceira história, diferente, já tem outros tipos de
coloração. São completamente diferentes, mas são a mesma coisa. Sem
querer as pessoas vão se acostumando com o estilo, com as sonoridades.”
Inicialmente o título do novo CD seria Tudo enzima. A canção Tem juízo
mas não usa é ainda anterior ao projeto do disco. A música foi iniciada
há quatro anos, ainda sem este nome, na casa de Pedro Luís (do grupo A
Parede), na Lagoa, Zona Sul carioca. Perdeu-se, e foi achada uns dois
anos mais tarde. “Era uma frase das muitas que meu pai usava. O texto
surgiu inteiro quando achei a gravação. Tem a ver com ecologia, porque o
homem não é só irresponsável com a natureza. O homem é irresponsável por
natureza”, fala Lula Queiroga.
O pai de
Lula, foi compositor (gravado por Luiz Gonzaga e Marinês, entre outros)
e redator de textos de humor, Luís Queiroga escreveu praticamente todos
os textos do lendário cantor e comediante Coroné Ludugero. A mãe, Mêves
Gama, foi cantora da Rádio Jornal do Commercio e gravou vários discos
pela Rozenblit. Lula sofreu influência dos dois, tanto para a música,
quanto para o texto. Profissionalmente, o texto veio primeiro. Com 18
anos, Lula se tornou redator do programa de Chico Anysio, na TV Globo.
“Eu já escrevia com meu pai na Rádio Globo daqui. Quando ele morreu,
mandei uns textos para Chico, que gostou e me convidou para escrever
para ele. Mas continuei morando no Recife. Chico foi uma pessoa muito
legal. Me ajudou bastante por um tempo”, conta.
Música
ele diz que faz desde os 15 anos, mas a primeira que gravada foi o
caboclinho Essa alegria, por Elba Ramalho, em 1982. O disco de estréia,
Baque solto, dividido com Lenine, foi lançado no mesmo ano, não provocou
impacto por não ser nem MPB, nem rock, que começaria a dominar o mercado
a partir daquele ano. Lula Queiroga continuou compondo, participando de
discos de amigos, e suas composições ecoaram Brasil afora na voz de Elba
Ramalho e do amigo Lenine. “Nestes anos todos nunca tivemos uma rusga.
Discutimos algumas vezes, mas por divergências de opiniões sobre
determinada composição. Temos feito menos em parceria, mas, por exemplo,
no disco Acústico MTV dele há cinco músicas minhas”, diz.
Lula tem
a música como atividade que mais aprecia, porém, trabalha com tantas
linguagens quantas lhe é possível. “Comecei este disco há três anos.
Mas, nesse intervalo, fiz cinema, produzi o Agora curta, jingles, peças
publicitárias, discos, como Qual o assunto que mais lhe interessa? de
Elba Ramalho, indicado a um Grammy latino”, lembra.
Neste CD,
trabalha com a “máfia da Luni”. A começar pelo sobrinho Yuri Queiroga,
parceiro em quatro composições, guitarrista em quase todas elas, quase
tudo é parente: Lucky Luciano, Tostão Queiroga, Eduardo Braga, Erick
Hoover, Lucas dos Prazeres. É com este pessoal que ele vai para a
estrada com o show do disco.
“Terá
naturalmente músicas de todos os discos. Não dá para fazer uma turnê só
com músicas novas. O pessoal vai para o show a fim de ouvir músicas de
que ele gosta, Tiro certeiro, Dois olhos negros, Noite severina,
Telefonista. No show na UFPE também será assim. O incrível é que onde
quer que a gente faça shows, as pessoas cantam as músicas em coro”,
comenta Lula, exultado com a quantidade de acessos que as novas canções
têm tido no MySpace: “Foram 1.770 acessos no MySpace, e eles só computam
se a pessoa escutar a música inteira. O bom disso é que um pessoa vai
passando para outra e daí em diante.”
Com Tem
juízo mas não usa Lula Queiroga volta à estrada. “Vamos fazer logo de
cara dez capitais e cidades importantes do interior, como Santos,
Araraquara e Caxias do Sul. Este vai ser o ano em que vou poder entrar
mais nessa brincadeira. Penso que estes dois, três anos vão ser mais
voltado para a música, uma cobrança dos amigos daqui, do Rio, de Minas,
São Paulo”, conta Lula.
Ele
concorda que leva uma vantagem sobre outros artistas: não está preso a
deadlines de estúdio ou para finalizar o disco. O trabalho vai sendo
feito aos poucos, de acordo com a disponibilidade de tempo. “Tem vez em
que passamos 20 dias trabalhando numa música porque outra atividade
exige a presença da gente. Mas a música, a composição tenho como uma
coisa mais divina. Ando com um iPod sempre que pinta uma idéia enquanto
faço outra atividade gravo, anoto. Já outras ficam prontas em 15
minutos. A gente começa do nada. cantarola história, vai cantando, e
surge letra e melodia. Foi assim com duas faixas deste disco. Agora,
corra e Manga graviola e hortelã. Neste disco são bem claras as
influências de duas coisas: Novos Baianos e Mutantes. Tectopop, por
exemplo, foi feita pensando em Serginho Baptista, que iria tocar nela,
gravar na Luni, mas de última hora não pôde vir”, continua Lula
Queiroga.
Se o
guitarrista dos Mutantes não pôde, muita gente deu o ar de sua graça em
Tem juizo mas não usa: Geraldo Maia, Lenine, Toninho Ferragutti,
Lirinha, Silvério Pessoa, Jam da Silva, China, Alceu Valença, Chiquinho
(Mombojó), Spok, Jr. Tostói. “A Luni sempre foi aglutinadora de pessoas
desde que foi criada, há 13 anos. A Mombojó fez a demo do Homem-espuma
aqui, Zé Brown, Zé Neguinho do Coco, gravaram aqui. Até Bráulio Tavares
gravou, se bem que Bráulio é uma espécie de lenda urbana de estúdio. Há
anos que ele promete lançar o disco. Pior é que ele gravou muita coisa
agora”, diz Lula sem esquecer o técnico de som francês Dominique
Chaloub. “Muito importante a participação de Dominique, uma pessoa
companheira, que tem certas ousadias sonoras. Trouxe o equipamento dele,
caixas de 30 anos atrás. Tem umas coisas, umas sonoridades que só ele
consegue tirar destes equipamentos”, elogia.
Da mesma
forma como aglutina pessoas, um disco de Lula Queiroga aglutina sons, os
mais diversos. “São usados de acordo com a necessidade e aí a gente
começa a testar, e qualquer coisa. Tem momentos no disco que tiramos som
de tampa de chaleira, de calimba, berimboca, e até de um extintor de
incêndio”.