Ficou
até chato. O 13º CineCeará, na última terça-feira, surpreendeu a todos. O filme
'Amarelo Manga' levou 10 prêmios de longa-metragem. Detalhe: só havia 10 prêmios em
jogo. Melhor filme, diretor, ator (Matheus Nachtergaele), atriz (Dira Paes), fotografia
(Walter Carvalho), roteiro, montagem, figurino, trilha sonora e direção de arte.
Para o diretor Cláudio Assis, foi uma doce
vingança. Os organizadores do Festival do Recife, ocorrido duas semanas antes, não
aceitaram seu filme na competição, por desavenças locais. "Quem sabe agora os
coronéis de Recife vão perceber o erro que fizeram", disse ele.
O curioso é que nunca um filme havia sido
premiado com 100% dos prêmios.
Houve certo mal estar e questionou-se a
representatividade, em termos de filmes, dos membros do júri. E entre os diretores, o
clima foi de decepção.
"Dá a impressão que os outros filmes
não existiram", afirma Eliane Caffé, diretora de 'Narradores de Javé'. Ela era uma
das favoritas, já que seu filme ganhou sete prêmios em Recife apenas duas semanas antes.
O diretor Alexandre Stockler, do polêmico
'Cama de Gato', acha que houve certo bairrismo. "É um momento em que se discute a
descentralização das verbas e o júri que é de fora do eixo Rio-SP pegou carona nessa
discussão", afirmou.
Entre os curtas-metragens, o melhor filme
foi o baiano 'Cega Seca', de Sofia Federico, e o melhor diretor foi José Roberto Torero,
com 'Morte'.
Festival está entre os três mais importantes do
País
O CineCeará já é considerado o
terceiro festival de cinema mais importante do Brasil, depois de Brasília e Gramado. O
grande assunto desta edição foi a polêmica entre cineastas e governo pela divisão da
verba das estatais. Não se falou em outra coisa, já que o assunto ocupou o noticiário
uma semana antes.
Questionou-se o fato de o Rio de Janeiro
receber em torno de 70% da verba destinada ao cinema, restando pouco para o Nordeste. Em
2002, a BR Distribuidora destinou R$ 56 milhões ao cinema brasileiro, enquanto Petrobrás
e Eletrobrás investiram R$ 44 e R$ 20 milhões. Reclamou-se ainda que o governo dá muita
atenção a nomes como Cacá Diegues e Luis Carlos Barreto, que nos últimos anos têm
levado grande parte das verbas de patrocínio estatal. MARCELO LYRA
(© Jornal da Tarde)