Comemorando os 30 anos da sua estréia, o espetáculo Trupizupe inicia
temporada no Teatro do Parque
Eugênia Bezerra
eugenia.bezerra@gmail.com
“Sai
daqui trupizupe, parece o raio da silibrina”. A frase, repleta de
expressões típicas do interior nordestino, foi uma das inspirações
do escritor Braulio Tavares para o espetáculo Trupizupe, o Raio da
Silibrina, na década de 70. Após trinta anos e prêmios pelo Brasil,
uma nova montagem da peça estréia no Teatro do Parque, com
direção de José Manoel, trilha sonora de Walmir Chagas e coreografia
de Sandra Rino.
Trupizupe foi encenada pela primeira vez em 1978, em Salvador. Sua
estréia no Recife foi em 1982, sob direção de Carlos Varella para a
TTTrês Produções. “Trupizupe é uma expressão do interior da Paraíba,
que as mães usavam para chamar os filhos que estavam agitados. E a
silibrina vem de um termo em inglês, que remete a um tipo de farol
de bicicletas”, explica o ator Carlos Lira, que interpreta o
protagonista e também participou da montagem da década de 80.
Além
dele, outros dois integrantes encenam a peça outra vez. Mário
Miranda atua como o Vice-rei, antes interpretado por José Manoel.
“Passar de ator para diretor foi divertido, mas complicado. Tive que
me distanciar de tudo o que havia sido feito na montagem anterior”,
afirma o diretor.
Mas o
núcleo central da história permanece. Trupizupe é um andarilho
esperto, que chega a um reino dominado pela corrupção e decide se
dar bem. “Não gosto muito do termo anti-herói. Ele dá golpes nos
outros, mas não em quem é mais pobre do que ele”, avalia o autor do
texto original.
Para
Carlos Lira, o que fez a peça cativar o público foi sua proximidade
com o brasileiro. “Trupizupe tem o senso de improviso do povo, de
tentar uma solução para tudo o que acontece. Ele também é muito
antropofágico, absorve diversas culturas sem perder as suas raízes”,
explica o ator, que também dirigiu uma versão resumida do espetáculo
com os alunos do curso de teatro da Rede Ferroviária Federal do
Nordeste.
O
oposto de Trupizupe é Pancrácio, um ladrão atrapalhado que ele
conhece na prisão, interpretado por Cleusson Vieira. “Me inspirei em
Ariano Suassuna, que gosta de trabalhar com essa dupla de palhaços,
um esperto e um besta”, explica o autor do texto.
Junto
com Ariano, o trabalho da dramaturga paraibana Lourdes Ramalho e a
literatura de cordel foram as principais fontes de inspiração. “Fiz
uma comédia regional, inspirada no cordel” resume Braulio, para logo
afirmar que a sua única preocupação com as montagens teatrais é o
sotaque dos atores. “Dou muita liberdade na criação, só peço para
não forçarem demais o jeito de falar.”
Apesar de tantas referências à cultura popular, a proposta da
montagem é de ser atemporal. “Tratamos de temas mundiais”, resume o
diretor da peça. Durante a encenação, o elenco rende homenagem a
diversos personagens históricos e intérpretes ligados ao humor.
“Liberei os atores para o improviso total, para que eles brincassem
e o público participasse disto também”.
Trupizupe teve cerca de 15 montagens em vários estados nordestinos e
em São Paulo. “Não esperava que a peça alcançasse esta repercussão.
Escrevi como um trabalho de conclusão de curso para Arly Arnaud.
Acho que isso aconteceu porque é uma peça divertida, com diálogos
engraçados”, teoriza o Braulio Tavares.