Pan-Cinema Permanente, de
Carlos Nader, é o preferido entre os longas da 13ª edição do É Tudo Verdade
Luiz Carlos Merten
Como se pode retratar, esteticamente, a obra de um artista multimídia (e
inovador) como Waly Salomão? Certamente não por meio de um documentário
convencional. Por sua ousadia na investigação da vida e da obra do artista,
o júri nacional do 13º Festival Internacional de Documentários É Tudo
Verdade elegeu no sábado à noite, em cerimônia realizada no CineSesc, o
filme de Carlos Nader, Pan-Cinema Permanente, como o melhor da competição
nacional. Entre os jurados estavam o diretor Renato Barbieri e a montadora
Vânia Drebbs. Pan-Cinema ganhou, além do troféu, um cheque de R$ 100 mil da
CPFL Energia, uma das principais patrocinadoras (com a Petrobrás) do evento
criado há 12 anos pelo crítico Amir Labaki.
Ao subir ao palco para os agradecimentos, o diretor disse que teve tempo de
assistir a apenas um filme da competição brasileira e foi justamente Simonal
- Ninguém Sabe o Duro Que Dei, de Cláudio Manuel, Micael Langer e Calvito
Real. O trio ganhou uma menção honrosa por seu trabalho, mas Carlos Nader
reconheceu que é muito bom e poderia ter sido o vencedor. Outra menção foi
para O Aborto dos Outros, de Carla Gallo, que discute o polêmico tema
contido em seu título. O prêmio de melhor curta da competição nacional foi
para Remo Usai - Músico para o Cinema, de Bernardo Uzeda, que homenageia o
compositor de grandes filmes brasileiros nos anos 60. O júri também atribuiu
uma menção honrosa para Dossiê Rê Bordosa, de César Cabral, que mistura
documentário, ficção e animação para tentar descobrir por que o cartunista
Angeli matou sua mais famosa criação.
Amir Labaki apresentou os números deste ano e, sem entrar em maiores
detalhes, disse que a 13ª edição teve um crescimento médio de 21% em São
Paulo e no Rio. Mais 30% de cariocas assistiram ao É Tudo Verdade em 2008.
Em São Paulo, o aumento de público foi menor -10% .
O festival terminou ontem nas duas cidades, mas deve viajar agora por
Brasília, Bauru e..., no Rio Grande do Sul. O júri da competição
internacional, integrado pelo fotógrafo e diretor Walter Carvalho, premiou o
longa Cosmonauta Polyakov, da alemã Dana Ranga. Durante um ano e dois meses,
o russo Vallery Polyakov permaneceu no espaço, transformando-se no
cosmonauta que por mais tempo ficou fora da Terra.
O prêmio de curta da competição internacional foi para Apenas Um Odor, do
libanês Maher Abi Samra. Durante dez minutos e por meio de cinco planos, o
cineasta mostra como voluntários tentam resgatar as vítimas de mais um
bombardeio em Beirute. O título vem do fato de que a missão humanitária tem
o objetivo de impedir que, no limite, o cheiro dos mortos contamine os
vivos.
Nas duas competições, os júris deixaram clara sua dificuldade de escolher,
devido ao elevado número de curtas e longas documentários que participaram
do concurso. O 13º É Tudo Verdade mostrou que inovações de linguagem são
muito bem-vindas. Forma e fundo unidos fazem do evento uma janela aberta
para quem quiser entender mais (ou melhor) o mundo contemporâneo.
(©
Estadão)
Waldick
Soriano ganha tributo de Patrícia PillarAtriz
estréia na direção com filme sobre cantor que é símbolo da música brega
Atração do É Tudo Verdade, documentário mostra cenas de
shows; "Ele era um personagem da minha infância", afirma a diretora
MARCO AURÉLIO CANÔNICO
DA REPORTAGEM LOCAL
Ele não é cachorro, não -é um "poeta", como ele mesmo se define, apesar de
ter feito várias cachorradas (principalmente com as mulheres) e de ter
levado uma vida que muitos diriam "de cão".
O baiano Waldick Soriano, 74, um dos grandes ícones da
chamada música brega (ou romântica, como ele prefere), é o tema do
média-metragem que marca a estréia de Patrícia Pil- lar na direção, o
documentário "Waldick - Sempre no Meu Coração", exibido hoje no É Tudo
Verdade, em São Paulo.
"Ele era um personagem da minha infância, eu o ouvia no
rádio", diz Pillar, em entrevista à Folha, por telefone. "Lembrava
bem da figura dele no Chacrinha, aquele cara todo de preto, havia uma coisa
misteriosa, divertida, que me chamava a atenção quando criança."
O interesse da diretora pelo cantor voltou a florescer
quando, há três anos, ela ouviu por acaso, no rádio, "Tortura de Amor", um
dos maiores hits de Waldick, que chegou a ser censurado pela ditadura
militar.
"O Ciro [Gomes, deputado federal e seu marido] me disse
que era o Waldick cantando, pesquisei e vi que era composição dele. Isso me
chamou a atenção, não sabia que ele era compositor, resolvi comprar LPs
dele, e começou a tomar um espaço grande em mim, me comovia muito. É uma voz
rude, primitiva, mas ao mesmo tempo uma poesia simples."
Pillar passou a acompanhar o cantor esporadicamente, com
uma pequena equipe de filmagem, a partir de 2005, rodando com ele por shows
em cidades do interior cearense e registrando sua volta à terra natal
(Caetité, BA), além de uma passagem por São Paulo.
É dessas imagens de viagens e shows, além de entrevistas
com Waldick e pessoas próximas, que o filme é feito. Ele vem se somar ao
revisionismo da vida e obra do cantor que começou com o livro "Eu Não Sou
Cachorro, Não" (2002), de Paulo Cesar de Araújo.
"Não queria fuxicar a vida dele. O que aconteceu durante
nossos passeios eu juntei e mostrei. Acho que conta um pouco da história do
Waldick e de muitos brasileiros que saíram de suas cidades em busca de um
sonho", diz a diretora.
(©
Folha de S. Paulo) |