Notícias
 Josué de Castro: campanha quer preservar memória

 

 

Josué de Castro, Paris, 1968
 

No ano do centenário de nascimento do médico que inovou ao tratar a fome como problema político, centro que leva seu nome arrecada dinheiro para abrigar suas obras

Ciara Carvalho
Do Jornal do Commercio

Um material valioso sobre a vida e o pensamento de um dos intelectuais mais importantes do País aguarda um lugar adequado para ser devidamente descoberto. São 40 mil documentos que traçam a trajetória do médico Josué de Castro, pernambucano que inovou na forma e no conteúdo ao tratar a fome como um problema social, econômico e político. No centenário de nascimento do pesquisador, o Centro Josué de Castro coloca na rua uma campanha para arrecadar recursos e concluir um projeto acalentado há muito tempo: a construção de uma biblioteca que possa abrigar toda a obra do médico e torná-la acessível e fonte de novas pesquisas para qualquer visitante. Seria uma homenagem ao brasileiro de maior projeção mundial no século 20 e um presente para a cidade, tão carente de espaços de estudo e leitura.

A construção do prédio, um anexo ao lado do centro, localizado no bairro da Boa Vista, foi iniciada em 2006. Mas as obras estão paradas à espera de novos recursos. A idéia é oferecer um prédio com três pavimentos, um auditório com capacidade para 110 lugares e uma área para exposição permanente e itinerante. O custo do projeto é de R$ 700 mil. Os coordenadores do centro pretendem conseguir o dinheiro por meio de uma campanha junto à iniciativa privada e à sociedade civil. O livro de doações já foi aberto pelos empresários Sydia Maranhão e José Antônio Lavareda. Cada um doou R$ 10 mil. A partir do próximo mês, começam as visitas a outros empresários e profissionais liberais. O plano é conversar com cerca de 100 pessoas.

O sociólogo José Arlindo Soares, sócio do centro e um dos articuladores da campanha, explica que há uma vasta produção intelectual e política de Josué de Castro que hoje é subutilizada por não haver um espaço físico adequado nem equipe suficiente para catalogar todo o material. Só do acervo pessoal do médico, doado pela família, são mais de seis mil livros, além de documentos, cartas e recortes de jornais. Pelas limitações no manuseio da documentação, a consulta está restrita, basicamente, a pesquisadores universitários ou alunos de colégios, sempre em grupos de, no máximo, 10 pessoas.

Existem verdadeiras preciosidades no acervo. Edições históricas em diversas línguas do principal livro de Josué de Castro, Geografia da Fome, lançado em 1946 e que abalou a forma como o Brasil tratava o tema. Foi com essa publicação que o nome de Josué foi projetado mundialmente e o livro terminou sendo traduzido em 25 idiomas. Outro destaque do acervo são as correspondências trocadas com intelectuais, políticos e autoridades do mundo inteiro. Entre eles, o ex-presidente do Brasil Juscelino Kubitschek e o diretor de cinema italiano Roberto Rossellini.

“O mais importante é que dessas cartas e correspondências podem surgir novas leituras sobre a obra de Josué. Existem também anotações pessoais que nunca foram exploradas. É um material muito rico ao qual poucos têm acesso hoje”, explica José Arlindo.

Há também uma vasta documentação reunindo artigos e pesquisas científicas sobre a fome no período de 1946 a 1964. Boa parte desse material, no entanto, está guardada em caixas ou ainda espera ser catalogada. “Numa cidade com tão poucas bibliotecas seria uma grande aquisição. O centro se dispõe, inclusive, a fazer uma co-gestão com a prefeitura para o funcionamento do novo espaço”, informa o sociólogo.

O arquivo iconográfico reúne mapas e fotos do pesquisador no Brasil e durante o período em que viveu no exílio. Josué foi cassado com o golpe militar de 1964 e impedido de voltar ao País, tendo a obra banida das livrarias e universidades. Ele morreu aos 65 anos, em 24 de setembro de 1973, em Paris. O centenário de nascimento do médico será comemorado no dia 5 de setembro deste ano.

SERVIÇO:
Quem quiser contribuir para a campanha que arrecadará fundos para construção da biblioteca pode ligar para o Centro Josué de Castro no telefone 3423-2800.

(© JC Online)


Doador ganha selo de responsabilidade

ACERVO - Pelo menos 40 mil documentos relatando a trajetória do pesquisador precisam de espaço adequado
 
As empresas que contribuírem com a campanha que arrecada fundos para construção da biblioteca do Centro Josué de Castro ganharão um selo de responsabilidade social, que foi criado pela Agência de Publicidade Ampla. Elas terão direito de usar a doação em sua propaganda institucional, durante o período de um ano. A idéia da campanha é estimular o conceito de responsabilidade social, mostrando que ajudar a preservar e divulgar um patrimônio intelectual como o pensamento de Josué de Castro deve ser uma preocupação da sociedade civil organizada.

Parlamentares pernambucanos no Congresso Nacional também estão atentos à necessidade de organizar esse acervo. No ano passado, a elaboração de várias emendas garantiu cerca de R$ 600 mil. As emendas foram aprovadas no orçamento e aguardam liberação. “Nós temos até o fim do ano para liberar esses projetos. A expectativa é que, pelo menos, 50% do que foi orçado seja liberado”, afirma o sociólogo José Arlindo Soares.

A biblioteca terá uma área total de quase 800 metros quadrados, distribuídos em térreo e dois pavimentos, além do mezanino. Na entrada, ficará exposto permanentemente o escritório de Josué de Castro, composto por seu birô, cadeiras e objetos pessoais, alguns dos quais serão exibidos sob a proteção de uma vitrine.

A sala de leitura ficará no primeiro pavimento, como também a parte da biblioteca que receberá alguns livros do acervo pessoal de Josué de Castro e da ex-deputada Cristina Tavares, que tinha uma grande admiração pelo trabalho do pesquisador. Ficarão nesse ambiente ainda a produção intelectual do centro. O espaço poderá ser usado para reuniões e palestras.

Na área do mezanino, funcionará o núcleo de tratamento e recuperação de obra dos vários acervos, além de todo o trabalho de catalogação. O projeto prevê um pátio interno que servirá como espaço de socialização, com direito à cafeteria e mesas com sombreiros. (CC)

(© JC Online)

Saiba+ sobre Josué de Castro

Com relação a este tema, saiba mais (arquivo NordesteWeb)


powered by FreeFind