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 Cine Ceará chega à 18.ª edição com seleção ibero-americana

 

 

Divulgação

Cena de 'Nossa Vida Não Cabe Num Opala', de Reinaldo Pinheiro (Brasil)
 

Filmes do Brasil, Peru, Venezuela, Chile, Argentina, México e Espanha disputam troféus da mostra de Fortaleza

Luiz Zanin Oricchio, de O Estado S. Paulo

SÃO PAULO - Pelo terceiro ano em formato ibero-americano, o Cine Ceará, em sua 18.ª edição, começa nesta quinta-feira, 10, à noite com o símbolo perfeito dessa união transcontinental. Fernando Birri, argentino e patrono do festival, vem a Fortaleza para apresentar seu filme mais recente, Elegia Friulana, realizado na região italiana do Friuli, terra dos seus avós. Birri é criador da mitológica escola documental de Santa Fé e autor de uma das obras mais importantes do cinema latino-americano, o documentário Tiré-Die, que influenciou gerações de cineastas. Mora na Itália e comparece a Fortaleza para acompanhar a estréia do filme e também para lançar seu livro O Alquimista Democrático, que sai agora em tradução brasileira.

De europeu, na mostra, além de Elegia Friulana, só há um espanhol, Vete de Mi, que entra na competição em companhia de brasileiros, venezuelanos, chilenos, argentinos e mexicanos. São dez os participantes na seção principal, a de longas-metragens, e o Brasil traz o maior número de competidores, quatro, sendo dois de São Paulo (Nossa Vida não Cabe num Opala e Falsa Loura), um cearense (O Grão) e um carioca (Os Desafinados). Completam a mostra um longa do Peru (Tambogrande), um da Venezuela (Postales de Leningrado), um do Chile (Specials Circunstances), um argentino (Las Vidas Posibles) e um mexicano (Luz Silenciosa). 

Da outra mostra competitiva de Fortaleza - a de curtas-metragens - participam apenas brasileiros, com 18 filmes de vários Estados da Federação. Nesse segmento, como no de longas-metragens, o Cine Ceará optou pela convivência de suportes. Há desde a tradicional película em 35 milímetros até os formatos digital e Beta. Solução democrática e simpática aos realizadores, mas com a qual a qualidade visual e sonora às vezes sofre, embora não seja politicamente correto dizer isso. Contra a corrente, há festivais que ainda resistem à tecnologia digital. Brasília, por exemplo, só aceita competidores em película de 35 milímetros. Essa convivência, seus prós e contras, é um vasto tema para discussões acaloradas entre realizadores e diretores de festival, uma espécie de Fla-Flu do meio cinematográfico. Podemos deixá-lo aos diretamente interessados. 

Como acontece com outros festivais importante, também o Cine Ceará promove uma série de eventos paralelos que acompanham sua atividade principal, as mostras competitivas. Neste ano, em Fortaleza, teremos dois seminários durante o evento. O primeiro Nordeste, Cangaço e Cinema, tem como tema central Cangaço - a Parte Mal-Dita, sob a coordenação do professor e filósofo Daniel Lins. Compõe-se de 14 conferências, que esmiúçam desde a representação do cangaço no cinema até o delicado relacionamento político entre Padre Cícero e Lampião. Cabe lembrar que existe uma vasta filmografia brasileira tendo por tema o cangaço, "gênero" que foi apelidado pelo crítico Salvyano Cavalcanti de Paiva de "nordestern" - o western nordestino. 

O segundo seminário a ser acompanhado em Fortaleza discute tema polêmico atual - a TV pública. Para debatê-lo, estarão na cidade Orlando Senna (cineasta e diretor-geral da TV Brasil) e Leopoldo Nunes (diretor de conteúdo da TV Brasil), além de Paulo Rufino, presidente do Congresso Brasileiro de Cinema. 

Além dessas atividades, o Cine Ceará homenageia algumas personalidades. As principais delas, pela importância para o mundo do cinema, são os atores José Dumont e Jorge Perugorría. Dumont é um dos atores brasileiros mais completos. Quem não se lembra dele em Gaijin, Lúcio Flávio e, mais recentemente, em Narradores de Javé? Já Perugorría é o ator cubano com maior trânsito internacional. Ficou famoso mundo afora depois de fazer o homossexual de Morango e Chocolate. No Brasil, filmou Navalha na Carne com Neville d’Almeida. 

O festival se encerra dia 17 com um verdadeiro doce-de-coco para o cinéfilo - a exibição da cópia restaurada de O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro, um dos filmes de Glauber Rocha mais conhecidos no exterior e que valeu ao cineasta o prêmio de melhor direção em Cannes em 1969.  

Filmes em competição:  

Nossa Vida Não Cabe Num Opala, de Reinaldo Pinheiro (Brasil) 

Specials Circunstances, de Mariane Teleki e Hector Salgado (Chile/EUA) 

Vete de Mi, de Victor García Leon (Espanha) 

Postales de Leningrado, de Marian Rondon (Venezuela) 

Falsa Loura, de Carlos Reichenbach (Brasil) 

O Grão, de Petrus Cariry (Brasil) 

Tambogrande, de Ernesto Cabellos (Peru) 

Luz Silenciosa, de Carlos Reygadas (México/França/Holanda) 

Os Desafinados, de Walter Lima Jr. (Brasil) 

Las Vidas Possibles, de Sandra Gugliotta (Argentina)

(© Estadão)


Cine Ceará chega à sua 18ª edição com atrações ibero-americanas. Estréia de 'Os desafinados', e retrospectiva de clássicos do 'nordestern'

RIO - Além de pôr em competição dez longas-metragens ibero-americanos novos em folha, incluindo o aguardado "Os desafinados", de Walter Lima Jr., o 18º Cine Ceará começa esta quinta-feira e segue até o dia 17 com a missão de resgatar a tradição brasileira de filmes de cangaço. Uma das principais vitrines para a aproximação da produção nacional com cinematografias hermanas, o festival inaugura este ano uma retrospectiva do chamado nordestern. O termo designa o faroeste social brasileiro, no qual xerifes com o estilo John Wayne dão lugar a cangaceiros impregnados de tons políticos. Filme-ícone do tema, "O dragão da maldade contra o santo guerreiro" (1969), de Glauber Rocha, será o longa de encerramento.

A seleção de nordesterns do Cine Ceará começa dia 15, com a comédia "As cangaceiras eróticas" (1974), de Roberto Mauro, e com a versão que Aníbal Massaini Neto dirigiu, em 1997, do clássico "O cangaceiro", de Lima Barreto. A partir de maio, os filmes do festival serão importados pelas unidades do Centro Cultural Banco do Brasil de Rio, São Paulo e Brasília.

Esse resgate da memória cinéfila já virou uma marca do evento que, nos últimos anos, transformou-se em um espaço de troca para veteranos e novatos da América Latina.

- Temos hoje mais de 170 festivais no país. Todos os dias surge uma mostra nova. O Cine Ceará encontrou nesse arranjo internacional um diferencial - diz Wolney Oliveira, diretor-geral da mostra.

Em seu esforço para a integração de gerações e culturas, o Cine Ceará incluiu em sua cerimônia de abertura, esta quinta-feira, uma homenagem a dois consagrados atores: o paraibano José Dumont e o cubano Jorge Perugorría. Em seguida, haverá um tributo ao cineasta argentino Fernando Birri, de 83 anos, com a exibição seu mais novo projeto: o curta "Elegia Friulana".

Dez longas-metragens disputam o troféu Mucuripe e um prêmio de US$ 10 mil. Confira os destaques na competição cearense.

QUINTA-FEIRA: Às 20h, exibição hors-concours do curta-metragem "Elegia Friulana", de Fernando Birri. Às 21h, a sessão de "Nossa vida não cabe num Opala" (SP), de Reinaldo Pinheiro (ficção), inicia a competição de longas-metragens ibero-americanos.

SEXTA-FEIRA: "Special circumstances" (Chile/ EUA), de Mariane Teleki e Hector Salgado (documentário), e "Vete de mi" (Espanha), de Víctor García Léon (ficção).

12/04: "Postales de Leningrado" (Venezuela), de Mariana Rondon (ficção), e exibição especial >ita<hors-concours de "Waldick, sempre no meu coração", de Patrícia Pillar (documentário).

13/04: "Falsa loura"(SP), de Carlos Reichenbach (ficção).

14/04: "O grão" (CE), de Petrus Cariry (ficção), e "Tambogrande: Mangos, muerte, minería" (Peru), de Ernesto Cabellos e Stephanie Boyd (documentário).

15/04: "Luz silenciosa" (México/ França/ Holanda), de Carlos Reygadas (ficção).

16/04: "Os desafinados" (RJ), de Walter Lima Jr. (ficção), e "Las vidas posibles" (Argentina), de Sandra Gugliotta (ficção).

17/04: Premiação e sessão fora de concurso de "O dragão da maldade contra o santo guerreiro" (1969), de Glauber Rocha.

(© O Globo)

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