Abril pro Rock começa hoje, trazendo a lendária The New York Dolls.
Mudanças estratégicas marcam a edição 2008
Schneider Carpeggiani
carpeggiani@gmail.comO Abril Pro Rock encerra seu primeiro
dia com uma lição de sobrevivência: The New York Dolls, banda
precursora do punk e da idéia de que homens maquiados atraem mais
garotas. Os gringos lendários estão no meio de uma daquelas turnês
que nunca acabam. E com razão. Dê só uma olhada no site do grupo
(www.nydolls.org) para ver que todas as suas datas estão esgotadas.
O sucesso non-stop das bonecas nova-iorquinas está na gênese de toda
uma forma de se pensar a música que nos afeta até hoje.
O The New York Dolls surgiu num começo dos anos 70 que ainda
viviam a ressaca da década anterior, desconfiada dos excessos que
estavam por vir. Para lidar com o marasmo e o peso de um subúrbio
entediante, uma mistura de rock e blues (emulando o que The Stooges
havia feito alguns anos antes) e a clara noção de que a música só
não era mais suficiente. A década que começava exigia atitude &
saltos altos & maquiagem. Uma consciência da importância do
marketing que, nos anos seguintes, todo mundo copiou, de uma forma
ou de outra – e por todo mundo leia-se Ramones, Blondie, o punk
inglês, Marilyn Manson e Morrissey, fã confesso e um dos
incentivadores do retorno do grupo.
A história do The New York Dolls é marcada por sobrevivência e
coletâneas – afinal, eles têm mais álbuns de “best of” do que de
material inédito. São mais de 30 anos vividos em meio a excessos de
drogas e groupies, mortes de integrantes e o terrível perigo de se
tornar uma referência incapaz de viver fora de um passado glorioso.
Assim pouca gente notou o álbum de inéditas lançado há dois anos,
One day it will please us to remember even this. Um dia vai nos
alegrar lembrar até disso – título mais apropriado, impossível. O
disco era ruim, mas o público que lota os seus shows não quer estar
nos anos 00. Mas em 1973, 1974...
Não é só o The New York Dolls que procura sobreviver. O próprio
Abril Pro Rock em 2008 tenta resgatar o seu prestígio, que foi
esbofeteado por edições anteriores com pouco público e programação
previsível. “Sobrevivemos a uma brutal mudança no mercado da música
no mundo todo. Viabilizamos a vinda de bandas gringas, que de outra
forma não viriam ao Norte e Nordeste do Brasil. Fazer o que fizemos
nos últimos 15 anos aqui no Nordeste, é tirar leite de pedra”, diz
Paulo André, produtor do festival.
A primeira (e bem-vinda) mudança do Abril pro Rock foi de
endereço. Do Pavilhão do Centro de Convenções para o Chevrolet Hall.
Em seguida, o festival foi desmembrado. A tradicional noite metal (e
também a de maior público) foi movida para o domingo 27.
“Formamos um público na cidade, existe uma geração que conheceu a
música brasileira dos anos 90 e 00, através do Abril pro Rock. Nesta
edição, pela presença de nomes internacionais, temos gente vindo de
todo o Brasil pro Recife. Recebemos e-mails da Bahia, de São Paulo,
Belo Horizonte, do Ceará de pessoas que virão. Além disso, há
caravanas vindo de todo o Nordeste. No cenário atual, temos a
expectativa de ter 3 mil pessoas por dia, mas o dia 27 terá o dobro
disso, o que é uma grande vitória”, acredita o produtor.
Numa entrevista para o Caderno C, publicada em março, Paulo André
afirmou que a constante realização de eventos gratuitos na cidade
acabou prejudicando quem cobra ingresso. Em determinado momento da
matéria, o produtor afirmou que a cidade “se transformou na maior
casa de shows aberta ao público do Brasil”. Sobre essa questão, ele
voltou a comentar: “Os shows gratuitos nem aumentaram a venda de CDs
ou de músicas na internet, nem o público da cidade quando os
artistas fazem shows pagos. Bandas locais deixaram de fazer show de
lançamento de novos CDs no Recife, com medo de prejuízo ou de ter
pouco público. Parte delas passou a sobreviver de cachês de shows
abertos.”
Apesar desse cenário adverso, Paulo André ressaltou que nunca
pensou em mudar o conceito inicial do Abril Pro Rock, de divulgar
música alternativa. “Jamais mudamos nosso conceito de festival,
basta ver a programação ao longo dos 15 anos, em que 70% da
programação têm pouco potencial de público aqui na cidade. A
principal função dos festivais independentes é promover e dar
visibilidade a uma nova geração de bandas, artistas e acelerar o
processo de renovação da música pop brasileira”, completou o
produtor.
Confira a programação dos
três dias do festival:
» Sexta-feira (11)
Abertura dos portões: 20h
AMP (PE) - palco 3
Project 666 (PE) - palco 2
The Sinks (RN) - palco 3
Mukeka di Rato (ES) - palco 1
Zumbis do Espaço (SP) - palco 2
Bad Brains (EUA) - palco 1
Vamoz (PE) - palco 2
The New York Dolls (EUA) - palco 1
» Sábado (12)
Abertura dos portões: 17h
Madalena Moog (PB) - palco 3
Erro de Transmissão (PE) - palco 3
Sweet Fanny Adams (PE) - palco 2
Barbiekill (RN) - palco 3
CéU (SP) - palco 1
Violins (GO) - palco 2
Autoramas (RJ) - palco 1
Vitor Araújo (PE) - palco 2
Wander Wildner (RS) - palco 1
Rockassetes (SE) - palco 2
Jupiter Maçã (RS) - palco 1
Superguidis (RS) - palco 2
The Datsuns (Nova Zelândia) - palco 1
Pata de Elefante (RS) - palco 2
Lobão (RJ) - palco 1
» Domingo (27)
Abertura dos portões: 20h
Helloween (Alemanha) - palco 1
Gamma Ray (Alemanha) - palco 1
SERVIÇO:
Abril Pro Rock 2008
Dias 11, 12 e 27 de abril | Chevrolet Hall
Ingressos:
Dias 11 e 12
R$ 50 (inteira) e R$ 25 (meia). Ingresso social: R$ 30 + 1kg de alimento não
perecível
Camarote: R$ 800 (1º piso), R$ 600 (2º piso) e R$ 500 (3º piso)
Dia 27
R$ 80 (inteira) e R$ 40 (meia). Ingresso social: R$ 50 + 1kg de alimento não
perecível
Camarote: R$ 1.500 (1º piso), R$ 1.000 (2º piso) e R$ 800 (3º piso)
* As primeiras 2 mil pessoas que comprarem
ingressos para 2 ou 3 dias, juntos, ganham um CD promocional do Abril Pro
Rock.
* Censura: 14 anos. Menores de 18 anos devem estar acompanhados de parentes
de até 3º grau, maiores de idade.
(©
JC Online)