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 O sexo do brasileiro por Gilberto Freyre

 

 

Gilberto Freyre
 

A primeira impressão é a que fica? Talvez esse clichê nos ajude a entender um pouco a visão que os estrangeiros fazem da América Latina. Os países de colonização espanhola encontraram um colonizador que se impressionava fácil com o exótico do lado de cá do oceano. Era a América como paraíso para uma Europa em crise, que sobrevivia em busca de possibilidades utópicas. Isso explica, por exemplo, o porquê da literatura latino-americana exportada ser aquela que lança mão de recursos de exotismo, do realismo maravilhoso. Já o português, bem menos impressionável, encontrou por aqui um Brasil que se “resumia a uma extensa faixa de terra, povoada de gente nua: homens, caçadores, pescadores guerreiros, mulheres ardentes, tez bronzeada, púbis à mostra”.

Diante desse tamanho horizonte de natureza aberta, o sexo foi a primeira chama a faiscar na relação entre os europeus que aqui chegavam e o nativo. É esse Brasil sexual que a antropóloga Fátima Quintas recupera em Sexo à moda patriarcal – O feminino e o masculino na obra de Gilberto Freyre, afinal, esse primeiro País erotizado, que se entregava fácil ao colonizador, ainda permanece vivo lá fora.

Quando Os Simpsons parodiaram o País num dos seus episódios, o sexo foi o principal alvo. O desenho frisava que até os programas infantis traziam um contexto sensual – numa clara referência à Xuxa. O trabalho de Gilberto Freyre foi de fundamental importância para a investigação do que gerou essa relação estreita em excesso entre índios, portugueses e africanos. “Não posso dizer com certeza que Gilberto Freyre foi o primeiro, mas ele foi um dos primeiros a pensar a importância dessa vida privada do brasileiro”, explicou Fátima, que autografa seu novo livro hoje, às 19h, na Livraria Cultura.

Mas por que Gilberto Freyre deu tanta importância para o sexo na sua obra? “Ele era um homem sensual que passava isso para o seu texto. Não podemos negar que ele algumas vezes exagerava. Várias passagens de Casa-Grande & Senzala e de Sobrados e mocambos são voltadas para a questão do sexo”, explica Fátima.

No seu ensaio, Fátima se debruça bastante no que gerou esse fascínio dos nativos pelos estrangeiros. “O fascínio pelo europeu foi imenso e justificado. Afinal, a mulher nativa tinha à sua frente o grande colonizador, aquele que lhe trazia os referenciais civilizatórios e, portanto, o prêmio de uma raça tida como superior. Nada mais razoável que o delírio pela perfeição. O português sintetizou a fantasia na mais palpitante expressão da fantasia – o sonho idealizado, inclusive o da falácia da ‘raça’ eleita. Uma fábula que se materializava diante dos olhos de um povo carente das tramas do progresso. Quem não se apegaria a miragens de hedonismo?”, questiona Fátima, pintando um cenário que não é muito diferente daquele que leva meninas a caírem na indústria do turismo sexual nos dias de hoje. É Gilberto mais atual do que nunca.

O ensaio da autora também procura entender a relação entre o cristianismo e toda essa sexualidade. “Em alguns casos, quando o religioso morava na casa-grande, ele tinha de ter uma escrava velha e feia, para evitar relações sexuais. Essa relação também passava pela nossa culinária, é o caso de doces como beijo-de-freira, que é o atual beijinho de festas infantis, ou barriga-de-freira”, ressalta Fátima, que planeja escrever ensaio sobre o estilo literário da obra de Gilberto Freyre. “Ele mostrou que a ciência também precisa ser sedutora”, destacou Fátima.(S.C.)

» Lançamento de Sexo à moda patriarcal – O feminino e o masculino na obra de Gilberto Freyre: Hoje, às 19h, na Livraria Cultura

(© JC Online)

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