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 Nossa Vida não Cabe num Opala é o vencedor do Cine PE

 

 

 

O Cine PE - Festival do Audiovisual divulgou, na noite deste domingo (04), os filmes premiados na edição 2008 do evento, em solenidade realizada no Teatro Guararapes, no Centro de Convenções de Pernambuco. O filme paulista Nossa vida não cabe num Opala, dirigido por Reinaldo Pinheiro, foi o grande vencedor, tendo conquistado cinco dos quatorze prêmios possíveis para os longa-metragens.
 
O filme levou as Calungas de melhor filme, roteiro, atriz (Maria Luiza Mendonça), trilha sonora e direção de arte. O documentário pernambucano Guia Prático, Histórico e Sentimental da Cidade do Recife, de Leo Falcão, foi premiado com o troféu Gilberto Freyre.
 
O curta-metragem pernambucano Ocidente levou a Calunga de melhor edição de som, concorrendo entre os curtas de 35mm. A Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe) foi premiada com o troféu da Associação Brasileira de Documentaristas.
 
A urna da Globo Nordeste, que durante todo o Cine PE registrou o voto dos espectadores sobre os filmes, computou o chamado Prêmio Especial do Júri. Os vencedores foram os filmes Bodas de Papel (entre os longa-metragens), Dresznica (curtas em 35mm) e o pernambucano Até onde a vista alcança (curtas digitais).
 
A Mostra Pernambuco, que se dedicou a divulgar a produção audiovisual do estado, também divulgou seus premiados. Amigos de risco, longa-metragem dirigido por Daniel Bandeira, conquistou o prêmio da Assembléia Legislativa de Pernambuco, no valor de R$ 10 mil. Entre os curtas, o primeiro lugar ficou dividido entre o documentário Miró: preto, pobre, poeta e periférico, de Wilson Freire, e a ficção O Triunfo, dirigida por Geórgia Alves.

(© PE 360 Graus)


Confira todos os vencedores do Cine PE

Premiações/Longas-Metragens:

Melhor Direção de Arte: Mônica Palazzo (Nossa Vida não Cabe num Opala/Ficção/SP)
Melhor Trilha Sonora: Maestro Amalfi e Mário Botolotto (Nossa Vida não Cabe num Opala/Ficção/SP)
Melhor Edição de Som: Fernando Hanna e Simone Alves (Bodas de Papel/Ficção/SP)
Melhor Montagem: Ligia Walper (Brizola Tempos de Luta/Doc./RS)
Melhor Ator Coadjuvante: Eduardo Moraes (Simples Mortais/Ficção/DF)
Melhor Atriz Coadjuvante: Cleide Yácones (Bodas de Papel/Ficção/SP)
Melhor Ator: Chico Santana (Simples Mortais/Ficção/DF)
Melhor Atriz: Maria Luiza Mendonça (Nossa Vida não Cabe num Opala/Ficção/SP)
Melhor Fotografia: Roberto Santos Filho (O Retorno/Doc/SP)
Melhor Roteiro: Di Moretti (Nossa Vida não Cabe num Opala/Ficção/SP)
Melhor Direção: Rodofo Nanni (O Retorno/Doc/SP)
Melhor Longa-Metragem: Nossa Vida não Cabe num Opala (Ficção/SP)
• Prêmio Especial do Júri Popular: Bodas de Papel-Ficção/SP. Direção: André Sturm
• Troféu Gilberto Freyre: Guia Prático, Histórico e Sentimental da Cidade do Recife-Doc/PE (Direção: Leo Falcão)

Premiações/Curtas-Metragens em 35mm:

Melhor Direção de Arte: Alonso Pafyeze (Os Filmes que não Fiz/MG/Ficção)
Melhor Trilha Sonora: Cláudio Augusto Ferreira (Dossiê Rê Bordosa/SP/Animação)
Melhor Edição de Som: Aurélio Dias e Leonardo Sette (Ocidente/PE/Doc)
Melhor Montagem: Caroline Leone (Saliva/SP/Ficção)
Melhor Ator: Jonathan Haagesen (Comprometendo a Atuação/MT/Ficção)
Melhor Atriz: Helena Albergaria (Um Ramo/SP/Ficção)
Melhor Fotografia: Lula Carvalho (Trópico das Cabras/SP/Ficção)
Melhor Roteiro: Leando Maciel e César Cabral (Dossiê Rê Bordosa/SP/Animação)
Melhor Direção: Esmir Filho (Saliva/SP/Ficção)
Melhor Filme: Os Filmes que não Fiz (MG/Ficção/Direção de Gilberto Scarpa)
• Prêmio Especial do Júri Oficial: Até o Sol Raiá/PE/Animação. Direção de Fernando Jorge e Leandro /Amorim
• Prêmio Especial do Júri Popular: Dresznica/RJ/Doc./Direção de Ana Azevedo

Premiações/Curtas-Metragens Digitais:

Melhor Montagem: Érico Rassi (Um pra Um/SP)
Melhor Roteiro: Everson Klein (Porcos não Olham para o Céu/RS)
Melhor Direção: Daniel Marvel (Porcos não Olham para o Céu/RS)
Melhor Filme: Amanda e Monick/PB (Direção de André da Costa Pinto)
• Prêmio Especial do Júri Oficial: O Guardador (PB)/Direção de Diego Benevides
• Prêmio Especial da Crítica: O Guardador (PB)/Direção de Diego Benevides
• Prêmio Especial do Júri Popular: Até Onde a Vista Alcança (PE)/Direção: Felipe Peres Calheiros
• Prêmio Aquisição Canal Brasil: O Guardador (PB)/Direção de Diego Benevides. R$ 10 mil.
• Prêmio Josué de Castro:
• Prêmio Associação Brasileira de Documentaristas (ABD)/Entidade: Troféu para Fundarpe
• Prêmio ABD- Melhor Curta Digital: Ismar/RJ/Direção de Gustavo Beck. Melhor Curta em 35mm: Dreznica/ RJ/Doc./Direção de Ana Azevedo

Premiação Mostra Pernambuco:

Longas-Metragens:
Melhor Filme: Amigos de Risco/PE/Ficção. Direção de Daniel Bandeira. Prêmio Assembléia de Pernambuco no valor de R$ 10 mil
Menções Honrosas do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria Cinematográfica do Estado de São Paulo (Sindicine) para longas:
Menção Honrosa pela Montagem: Gilson Martins/Que Baque é Esse?
Menção Honrosa pela Fotografia: Pedro Sotero/Amigos de Risco

Curtas-Metragens:
Melhores Filmes: Miró: preto, pobre, poeta e periférico (Direção de Wilson Freire)/Doc. Prêmio Assembléia de Pernambuco no valor de R$ 5 mil. O Triunfo (Direção de Geórgia Alves). Prêmio Assembléia de Pernambuco no valor de R$ 2 mil.
Menções Honrosas do Sindicine para curtas:
Menção Honrosa pelo Roteiro: Paulo Leonardo Fialho/As Scismas do Destino/Animação
Menção Honrosa pela Direção: Geórgia Alves/O Triunfo

(© Cine PE)


“Opala” eleva nível e encerra festival

Em uma edição cuja seleção não encontrou bons filmes, “Nossa Vida Não Cabe num Opala” elevou a qualidade do 12° Cine PE
 
Por Heitor Augusto

 

Antes mesmo de ser exibido, “Nossa Vida Não Cabe num Opala” carregava nas costas um peso acima do normal. Como a seleção deste ano do Cine PE trouxe filmes de dubitável qualidade técnica, o longa de estréia de Reinaldo Pinheiro criou expectativa no público e na crítica. E a resposta do público foi morna.

 

Exibido após o documentário “O Retorno”, de Rodolfo Nanni, “Opala”, como o filme tem sido chamado, é uma adaptação da peça “Nossa Vida Não Vale um Chevrolett”, que deu ao autor Mário Mortolotto o Prêmio Schell em 2000. O filme, cuja história tem algumas nuances em relação ao texto original, traz quatro irmãos da família Castilho que estão fadados a fracassar.

 

De forte caráter urbano e com personagens situados na classe média baixa de bairros típicos da zona norte paulistana, conta a história dos irmãos Monk (Leonardo Medeiros), Lupa (Milhem Cortaz), Magali (Maria Manuela) e Slide (Gabriel Pinheiro), com vocação para a marginalidade, representada no furto de opalas, principal fonte de renda da família. A história dos Castilhos desanda quando o pai (interpretado por Paulo César Peréio) morre.

 

Apesar de cada personagem ter tratamento de indivíduo (Monk e Slide formam as maiores oposições), a história privilegia o ciclo em que a família parece não conseguir escapar. Nesse sentido, traz inspirações da tragédia grega, pois não importa o que os personagens façam, estão fadados a fracassar. A personagem Magali é a síntese desse pensamento: dentre os irmãos, é a única que não é, e não tem vontade, de se tornar bandida. Pelo contrário, sonha em ser música clássica, mas ganha a vida como tecladista de churrascaria de quinta categoria. Sua resistência, porém, tem um limite, que o filme expõe.

 

“O corpo do filme não é o personagem, mas a família. Ninguém sai dela intacto”, sintetiza o roteirista Di Moretti, que venceu o prêmio da categoria no Cine Ceará por sua adaptação de “Nossa Vida Não Cabe num Opala”. O corpo dessa família, porém, não arrancou aplausos da platéia. Ao término do filme, apenas aplausos protocolares, muito diferente das exibições no Cine Ceará e na Virada Cultural, em São Paulo.

 

A maior identificação público-filme aconteceu nas cenas em que Lupa, interpretado por Milhem Cortaz, estava na tela. Seus diálogos eram os únicos bem-humorados em um filme marcado pela tragédia iminente. Milhem, aliás, tem se especializado por falas hilárias. Em “Tropa de Elite”, marcou com o policial corrupto Fábio, popularmente conhecido pelo apelido de “02”. Leonardo Medeiros também tem escolhido por papéis que carregam semelhança, como em “Não Por Acaso”, cujo personagem , deu a ele o prêmio de melhor ator no Cine PE do ano passado. O elenco ainda traz a experiência de Jonas Bloch e a garra tanto de Maria Manuela (“Corpo Delicado”) e Gabriel Pinheiro, com trajetória de teatro.

 

 

Toda a história de “Nossa Vida Não Cabe num Opala” é contada em um ritmo frenético, aceleradíssimo. A montagem de Willen Dias dá fluidez às primeiras cenas do filme, com seqüências de planos. Há um recurso “flash-forward” que antecipa momentos da trama indicando justamente o centro da trama: não há escapatória. A montagem recebe um combustível a mais dado pela trilha, banhada de rock’n’roll à moda de anos 80, liderada por Mário Bortolotto.

 

O filme, que encerrou a mostra competitiva de longas, cujos vencedores serão anunciados neste domingo, tem estréia prevista para junho e será distribuído pela Imovision.

 

“O Retorno” retoma sertão dos anos 60

 

Em 1958, o paulistano Rodolfo Nanni veio a Pernambuco para fazer “O Drama da Seca”, um documentário sobre a seca. Com a tese de que nada havia mudado, o cineasta voltou, quase 40 anos depois, à mesma região que filmara.

 

“O Retorno”, exibido ontem no Cine PE, privilegia, inicialmente, a terra, no sentido euclidiano da palavra. Cenas de igreja, casas deterioradas e chão rachado preenchem a câmera de Nanni. No decorrer do documentário, a história dos entrevistados ganha corpo e desbanca a atenção dada inicialmente a terra.

 

O eixo do filme é o principal ponto a se discutir, já que, na fotografia, há um primor de cores que se misturam com um excesso de luz natural à “Vidas Secas”, criando um efeito visual interessante. Nanni volta 40 anos depois e quer provar que o sertão não sofreu nenhuma alteração nesse período.

 

Obviamente a pobreza do passado ainda está no presente. Porém, essa mesma pobreza não é uma especificidade do sertão brasileiro, mas das periferias mundiais. Este é um dos malefícios da globalização. E, mesmo com avanços locais mínimos, algo mudou. Em 58, “O Drama da Seca” mostrava crianças descalças. Em 2008, “O Retorno” capta crianças e adultos na feira e em casa, todos calçados.

 

E, do ponto de vista cinematográfico, algo mudou. Se a representação do sertão não tivesse sofrido transformações, os filmes de Lírio Ferreira não existiriam. Especialmente “Árido Movie”, que traz justamente a dualidade da região: mito de Antônio Conselheiro misturado com o contato com a cidade e a água.

 

O filme também será distribuído pela Imovision e está tentando encontrar uma data de estréia. A previsão inicial é para agosto.

 

Curtas salvam a seleção

 

Se a mostra competitiva de longas-metragens passou ao largo dos filmes de alto nível, a de curtas cumpriu seu papel. Especialmente ontem, com a exibição de três produções em 35mm.

 

O ponto comum entre elas é a originalidade do argumento. “Café com Leite”, de Daniel Ribeiro, traz um casal homossexual que tem de lidar com a iminência da separação e a chegada de uma criança no meio da relação. “Dossiê Rê Bordosa” é um falso documentário em animação que supostamente investiga a morte de Rê Bordosa, personagem dos anos 80 do cartunista Angeli.  Já “Os Filmes Que Não Fiz”, de Guilerme Scarppa, lança luz, de maneira bem humorada, sobre projetos que o diretor não concretizou.

 

O nível da sessão de ontem dos curtas-metragens seguiu a tendência do restante das exibições do Cine PE: enquanto os longas derrapavam, os curtas brilhavam. Méritos para filmes exibidos ao longo do festival, entre eles “O Guardador”, do paraibano Diego Benevides; “Um Ramo”, de Marco Dutra e Juliana Rojas; “O Paradoxo da Espera do Ônibus”, de Christian Caselli; “Porcos Não Olham para o Céu”, de Daniel Marvel.

(© Revista de Cinema)

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