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 Calixto desvenda o oito baixos

 

 

Gilberto Freyre
 

Luizinho Calixto escreveu o primeiro manual de oito baixos do País e fará oficina gratuita sobre o instrumento, amanhã, na Casa do Carnaval

José Teles
teles@jc.com.br

A família paraibana Calixto é uma dinastia dos oito baixos iniciada por seu Dideus, que começa a tocar com Jackson do Pandeiro nos anos 40 em Campina Grande. Seus quatro filhos seguiram o mesmo caminho e são referência no instrumento, sobretudo o mais velho, Zé Calixto, considerado por muitos o maior tocador de oito baixo vivo.

Os outros irmãos também são mestres num pé-de-bode: Bastinho, João e Luizinho Calixto, este último o caçula, preocupado com o futuro de sua arte. Luizinho Calixto acaba de escrever o primeiro manual de oito baixos do País, O fole de oito baixos revisitado, e, pela primeira vez, fará uma oficina sobre o instrumento. Esta pioneira oficina de oito baixos acontece, de amanhã a sexta, na Casa do Carnaval, no Pátio de São Pedro: “Meu objetivo é atrair atenção para o oito baixos. Vou contar um pouco da história, falar sobre os diversos tipos de afinação, abrir o instrumento, para que as pessoas vejam como ele funciona por dentro, para que entendam a dificuldade que é tocar um oito baixos”, explica Luizinho Calixto, em entrevista por telefone, de Fortaleza, onde mora.

Luizinho é músico desde os nove anos de idade: “Eu tocava apenas em casa, que meus pais eram muito severos com as crianças. Quem me levou para o rádio pela primeira vez foi Rosil Cavalcanti (um pernambucano de Macaparana, autor de vários clássicos do forró, entre os quais Sebastiana e Tropeiros da Borborema, falecido em 1968), que era amigo do meu pai. Ele me viu tocar e achou que eu era bom, foi assim que comecei”, conta o sanfoneiro, que aos 18 anos recebeu permissão para ir para o Rio de Janeiro, onde os irmãos já eram nomes afamados: “Bastinho era produtor da Tapecar e, em 1975, gravei o meu primeiro disco. Até aqui tenho 12 álbuns e acabo de gravar mais dois”, conta Luiz Calixto.

Ele ainda alcançou o forró em sua época de fausto. Tocou com Luiz Gonzaga, Sivuca e Jackson do Pandeiro, que considera seu principal mestre: “Com ele aprendi muita coisa, principalmente a rítmica, tanto na forma de cantar quanto na de tocar. Com Jackson aprendi percussão, hoje posso me orgulhar de ser um bom pandeirista”, diz Luizinho Calixto.

Embora tenha escrito o manual e se proponha a dar oficinas sobre o instrumento, ele não esconde seu ceticismo quanto à continuidade da profissão: “O oito baixos está entrando numa fase perigosa. Daqui a 30 anos será difícil encontrar um bom tocador de oito baixos vivo, porque é um instrumento muito difícil. Hoje em dia mesmo, você pega, vamos dizer, mil tocadores, e só quatro ou cinco conseguem fazer acordes no instrumento, que tem uma afinação totalmente diferente no Nordeste. Uma vez eu toquei com Gaúcho da Fronteira (famoso tocador de gaita ponto, como se chama o oito baixos no Rio Grande do Sul). Ele pegou meu oito baixos e não conseguiu tocar nada nele, e achou que ninguém conseguiria. Ficou espantado quando comecei a tocar com este tipo de afinação”.

Outro problema que ele enfrenta é mais imediato. A disputa de espaço no arraiais juninos com as bandas do chamado forró estilizado: “É preciso ter muito jogo de cintura. Eu ainda consigo alguma coisa porque faço um trabalho diferente. A maioria dos tocadores de oito baixos apenas toca. Eu toco e canto, mas as bandas estão prejudicando muito o forró. Pela forma apelativa de suas músicas, as mulheres seminuas, que sempre atrai muita gente. Pior do que isso é que os empresários são muito fortes financeiramente e dominam a mídia. Aquilo ficou conhecido como forró porque eles botam um zabumba, uma sanfona, mas o que fazem é como se fosse uma lambada”.

Outra lição que Luizinho que passará na oficina é a de que os horizontes do oito baixos são mais extensos do que as limitações do instrumento fazem imaginar: “Os sanfoneiros tocam para dançar, eu passei a tocar também para a platéia ouvir. Em lugar de tocar apenas forró, xote, baião, choro, até frevo, aprendi outros gêneros, como bossa nova, tango, valsa, samba, fado. Sugeri até a Zé Calixto, que é a maior referência do Brasil em oito baixos, para que também seguisse este caminho. Hoje ele já toca outras coisas além do forró”.

» O fole de oito baixos revisitado, oficina ministrada pelo músico Luizinho Calixto, de hoje a sexta-feira, na Casa do Carnaval, no Pátio de São Pedro. A oficina é gratuita, com turmas limitadas a dez pessoas. Outras informações: 3232-2835

(© JC Online)


Sanfoneiro

Aline Oliveira, Fortaleza, CE

Junho é o mês mais animado do Nordeste.Toda cidade, grande ou pequena, tem arraial com fogueira, guloseimas e muito arrasta-pé.  

É nessa época, que o sanfoneiro se transforma no profissional mais disputado da região.

É tanta festa que em um mês os mestres da sanfona conseguem faturar o salário de um ano inteiro.

Luizinho Calixto é sanfoneiro há 29 anos. Aprendeu com o pai. Hoje, conhece bem os mistérios dos oito baixos. “Cada botãozinho, nós chamamos de botão, você abre e ele emite um tom, você fecha o mesmo é outro tom e o seguinte também é a mesma coisa. Então a dificuldade de se tocar nesse tipo de afinação é muito grande, só quem toca é o nordestino."

O segredo para manter o ritmo? “Tem que ser com café da manhã bem recheado, bem forte. São comidas para levantar mesmo o astral do sanfoneiro, tem que ser uma comida assim, se não for comida assim, passa o resto do dia e continua cansado.”

Na família, às vezes, surge uma pitadinha de ciúme. “Ele está deitado, aí daqui a pouco ele levanta, eu penso que ele vai voltar, aí eu já escuto é o barulho da sanfona, eu digo: pronto, já está com ela, não tem jeito”, disse a esposa, Lenice Souza Calixto.

De casa direto para o palco. Como o sanfoneiro geralmente toca acompanhado, ele precisa chegar com pelo menos uma hora de antecedência para fazer um ensaiozinho com os outros músicos. Depois, é só respirar fundo para enfrentar pelo menos três apresentações na mesma noite.

Como ela é a vedete das festas de São João, precisa estar no ponto. Assim garante trabalho para o afinador de instrumento. A oficina do seu Irineu Araújo é uma espécie de pronto socorro da sanfona. “Eu sei quando está desafinado porque são várias "vozes" que tocam juntas, então uma não combina com a outra, aí o som fica desagradável.”

No mês de junho são tantos instrumentos pra consertar, que seu Irineu passa até 14 horas por dia na oficina. Se depender da animação de quem brinca, trabalho não vai faltar.

(© Jornal Hoje, 2005)

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