O
contrabaixista e produtor cultural morreu em casa, aos 64 anos,
enquanto ouvia rádio. Enterro será hoje no Parque das Flores
Marcos Toledo mtoledo@jc.com.br
Em
uma semana na qual Pernambuco ficou sem a verve do ator Rubem
Rocha Filho, a cultura do Estado fica ainda muito mais pobre com
a perda do contrababaixista e cantor Toinho Alves, integrante do
Quinteto Violado que morreu na noite de quarta-feira para ontem
enquanto descansava na rede, ouvindo rádio, em seu apartamento
em Piedade, Jaboatão dos Guararapes. O músico, de 64 anos, deixa
um filho, o pianista Dudu Alves, também integrante do Quinteto,
e dois netos.
O
velório foi marcado para a Prefeitura de Olinda, onde o músico
exerceu a função de secretário de Cultura de 2003 a 2004. O
enterro ocorre hoje, às 11h, no cemitério Parque das Flores, no
Curado.
Natural de Garanhuns (Agreste), Toinho era membro de família de
músicos e aprendeu a arte antes mesmo de ser alfabetizado.
Naquele município, participou da Banda Municipal e adquiriu o
gosto pelo canto com os monges beneditinos, para os quais
terminou por gravar um CD.
No Recife, nos anos 60, formou-se em engenharia química. Nessa
época, conheceu o músico Marcelo Melo, com quem fundou Os Bossa
Norte ao lado de Naná Vasconcelos e Luiz Mário.
Toinho tocava na noite e integrou orquestras como as dos
maestros Nelson Ferreira e Guedes Peixoto. Na TV Universitária,
integrou o TVU-3 com Luciano Pimentel (bateria) e Sérgio
Kyrillos (piano). Após uma apresentação com os convidados
Fernando Filizola e Marcelo Melo, Toinho percebeu que o grupo
poderia ir além. Desde então, o Quinteto Violado deixou sua
marca na história da música brasileira. Neste período, Toinho
assumiu uma função de band-leader, ficando responsável pela
coordenação musical dos arranjos e por repertório, produção
artística dos discos e direção musical dos espetáculos.
“Ele era muito criativo, sempre com muito planos e idéias. De
repente, assim... Deixa uma lacuna muito grande”, disse
emocionado o amigo Marcelo Melo, que conviveu com Toinho por
mais de quarenta anos. “A gente tem uma relação de irmão”,
enfatizou.
Membro
do Quinteto Violado procurava se cuidar e controlava o
diabetes. Ele tinha na agenda shows no São João de Caruaru e
na Europa
Marcos Toledo mtoledo@jc.com.br
O músico Toinho Alves, que
faleceu na noite de quarta-feira para ontem, em sua
residência, no bairro de Piedade (Jaboatão do Guararapes)
tinha histórico de diabetes, mas, de acordo com o amigo e
companheiro do Quinteto Violado, o violonista Marcelo Melo,
ele mantinha a saúde sobre controle. Desde que soube ser
portador da síndrome, emagreceu e mudou os hábitos
alimentares, além de fazer tratamentos com florais e
acupuntura. “Ele se cuidava muito”, afirmou Marcelo.
Na noite de anteontem, de
acordo com Marcelo, Toinho conversou com algumas pessoas por
telefone e aparentou estar bem. Ontem pela manhã, amigos e
contatos profissionais tentaram falar com o contrabaixista,
mas não conseguiram.
Acionado, o porteiro
comunicou que o músico não havia saído para caminhar e que
seu carro estava na garagem, porém, ninguém atendia no
apartamento. Contatado, o filho Dudu Alves, que possui uma
cópia da chave, foi até a residência onde já encontrou o pai
sem vida. “Tudo indica que foi uma parada cardíaca”, disse
Marcelo. “Ele estava com o rosto sereno, deitado na rede e
com o rádio ligado.”
Apesar de ser torcedor do
Sport Club do Recife e de provavelmente estar acompanhando o
último jogo do time pelo rádio – uma partida marcada por
muita emoção –, o amigo descarta que Toinho possa haver
passado mal em função disso. “Ele já foi muito mais
torcedor, de ir a campo, mas não ia ter nenhum descompasso
emocional por causa de um jogo”, acredita Marcelo.
TRISTEZA
Amigos receberam com
consternação a notícia do falecimento de Toinho Alves.
Natural da mesma cidade do baixista, o compositor
Dominguinhos, grande homenageado na cerimônia do Prêmio TIM,
anteontem, lamentou a morte do amigo com quem viajou pelo
Brasil inteiro. Logo que deixou de tocar com Luiz Gonzaga e
Gal Costa, Dominguinhos caiu na estrada com o Quinteto
Violado. “Conheci o Quinteto Violado no começo da carreira”,
lembrou o sanfoneiro. “Fizemos muitas excursões de ônibus,
circuito universitário, com Gonzaga e Gonzaguinha. Tivemos
um convívio muito grande. É uma perda lamentável. A gente
não deve ficar triste, Deus sabe o que faz. Mas perdi
recentemente uma filha com 49 anos. A gente não se
acostuma”, confessou.
Zé da Flauta, que integrou
o Quinteto de 1976 a 1980, editava em seu estúdio o tema da
Missa do Vaqueiro deste ano quando soube da notícia. “Estou
aqui ouvindo Toinho tocando e cantando”, falou o músico. “A
gente teve uma convivência supersadia durante os quatro anos
em que participei do Quinteto Violado. Ele sempre foi uma
pessoa muito aberta a sugestões, ouvia todo mundo. Era muito
consciente do papel dele. Recebi com muita tristeza a morte
de Toinho, que era meu amigo”.
Mesmo abalado pela morte do
amigo, o violonista Marcelo Melo externou seu sentimento
sobre o possível destino do Quinteto Violado após a morte do
coordenador musical Toinho Alves: “Tenho que conversar com
os meninos (os demais integrantes, Dudu Alves, filho, e
Ciano Alves e Roberto Medeiros, sobrinhos de Toinho). Mas
ele (o baixista) gostaria que não parasse, não”.
Assim como Toinho, Marcelo
também dirige a Fundação Quinteto Violado, responsável por
vários projetos na área musical – um deles revelou Zabé da
Loca – e de responsabilidade social. Um dos trabalhos, a
Oficina de Palco, foi responsável pela capacitação de
adolescentes carentes em procedimentos de montagem de palco
e operação de som e de iluminação, em 2004.
O Quinteto também acaba de
aprontar um CD só com frevos cujo repertório foi escolhido
pelos internautas por meio do JC OnLine. A agenda previa uma
viagem para a Europa, no próximo dia 8, e para Cabo Verde,
em agosto. Também estava nos planos a participação do grupo
no São João de Caruaru, além do lançamento de um álbum
autoral em conjunto com artistas como Guinga, Toninho Horta
e Luiz Melodia.
Para o jornalista Gilvandro
Filho, autor da biografia do Quinteto, Bodas de frevo (Cepe,
1997), Toinho e o Quinteto foram responsáveis por levar à
classe média a música regional. “Coube ao Quinteto urbanizar
essa música, de Luiz Gonzaga, maracatu, caboclinho”,
afirmou. “Toinho era um visionário. Ele que criou esses
arranjos, o baixo fazendo as vezes do zabumba. Sem contar
que era uma pessoa fantástica, um cara bom, até onde esta
expressão pode definir alguém”. (M.T.)