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Morre em São Paulo Walter Santos, pioneiro da bossa nova

 

 

O músico baiano Walter Santos
 

Teve músicas gravadas por Alaíde Costa, Isaurinha Garcia, Hermeto Pascoal, Zimbo Trio, entre muitos outros

Jotabê Medeiros, de O Estado de S. Paulo

SÃO PAULO - Morreu na quinta-feira, 29, em São Paulo o músico baiano Walter Santos Souza, aos 77 anos, um dos nomes-chave da bossa nova. Tinha câncer e estava internado no hospital Albert Einstein. Pai da cantora Luciana Souza, ele criou e integrou o grupo Original Vocal, na década de 40, e também participou do histórico elepê Canção do Amor Demais, de Elizeth Cardoso, considerado o marco inicial da bossa nova, há 50 anos. Fundou a primeira gravadora de música instrumental da história da MPB, a Som da Gente. Recluso e avesso a entrevistas, foi o único músico da bossa nova que não atendeu ao jornalista Ruy Castro na época em que este pesquisava para seu livro Chega de Saudade.

Suas músicas foram gravadas por Alaíde Costa, Claudette Soares, Isaurinha Garcia, Walter Wanderley, Hermeto Pascoal, Zimbo Trio, Milton Banana, Dick Farney, Pery Ribeiro, Heraldo do Monte, Lafayette, Dom Salvador e Edison Machado, Brazilian Octopus, Agostinho dos Santos, Jane Duboc, Elis Regina e Jair Rodrigues, Marcia, Luiz Gonzaga, César Camargo Mariano, Marisa Gata Mansa, entre outros.

Segundo o Dicionário Cravo Albin da Música Brasileira, Santos iniciou a carreira nos anos 40, em Juazeiro, na Bahia. Em 1946, fundou, com João Gilberto e outros amigos, o conjunto vocal Enamorados do Ritmo, ainda em Juazeiro. Em 1957, mudou-se para o Rio de Janeiro, e viveu na mesma pensão que João Gilberto, Luís Carlos Paraná e o baterista Guarani. Deu aulas de violão, apresentou-se em casas noturnas e se destacou como violonista da bossa nova. Ali conheceu a poeta Tereza Souza, com quem se casou e que foi sua parceira em diversas canções.

Seu nome figura, ao lado dos de João Gilberto e Tom Jobim, do histórico disco Canção do Amor Demais, disco no qual Elizeth Cardoso registrou obras de Tom e Vinicius, e que apresentou pela primeira vez a distinta "batida de violão" de João Gilberto que caracterizaria a bossa nova.

Convidado por Luís Carlos Paraná para cantar em uma casa noturna de São Paulo, mudou-se para a cidade em 1959, atuando inicialmente ao lado de uma dupla paraguaia e de um guitarrista de flamenco espanhol. Em 1960, gravou um 78 rpm com sua canção Primavera e Ternurinha, ambas em parceria com sua mulher, Tereza Souza. Nesse mesmo ano, lançou mais um 78 rpm, contendo suas composições Barracão e É bom chorar por você, também parcerias com Tereza. Ainda em 1960, trabalhou em uma campanha para a Volkswagen, dando início a uma bem sucedida carreira na área publicitária. Trabalhou nos estúdios paulistas Pauta, Eldorado e Scatena, entre outros.

Lançou, em 1962, um compacto duplo intitulado Walter Santos, registrando Cadê o Amor e O Bolo. Ainda nesse ano, gravou o LP Bossa nova, pela Audio Fidelity. O disco, considerado uma preciosidade por colecionadores e amantes do gênero, viria a ser relançado por um selo espanhol e distribuído nos Estados Unidos, Japão e Europa.

Em 1964, gravou Caminhos, que continha as composições De onde Vem essa Tristeza, Manhã de ser Feliz, Um Canto de Esquecer, Só Tristeza, Leva, Rosa a Rosa, Pai do Pai do Pai, Menininha, Cogumelo, Primavera, É Bom Chorar por Você, Canção Para o Meu Verso, Iemenjá e Quem Entra no Balanço, todas com Tereza Souza, além de Quando Meu Bem Voltar (c/ Luiz Carlos Paraná).

Atuou na gravação de diversas coleções lançadas entre 1961 e 1968, como os registros de festivais de música da TV Record e de shows do Teatro Paramount comandados por Elis Regina e Jair Rodrigues, em São Paulo, e também do projeto O Fino da Bossa, também com Elis e Jair.

Ainda nos anos 1960, participou de shows históricos realizados no Teatro Paramount, de musicais de TV e de duas edições do Festival da Música Popular Brasileira (TV Record): em 1966, com sua canção Marcha de Todo Mundo (c/ Tereza Souza), interpretada pelo grupo vocal Os Cariocas; e em 1967, com sua canção O Combatente (c/ Tereza Souza), interpretada por Jair Rodrigues. Registrou sua parceria com Tereza Souza em discos lançados pelas gravadoras RCA, Áudio Fidelity e Fermata, ao lado de Walter Wanderley (teclados), Arrudinha (bateria) e Azeitona (contrabaixo).

Ao lado de Tereza Souza, criou, em 1974, o Nossoestúdio, onde vinha realizando seu trabalho como produtor de jingles. Também em sociedade com a esposa, fundou, em 1981, a gravadora Som da Gente, que tem em seu catálogo 50 LPs dedicados exclusivamente à música instrumental.

Suas obras mais emblemáticas são Amanhã (com Tereza Souza), que se tornou um clássico da bossa nova, com mais de 30 gravações no Brasil e no exterior, e Samba pro Pedrinho, que registrou a primeira atuação de Hermeto Pascoal como flautista.

(© Estadão)

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