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Com ele, não tem fuleiragem

 

 

Foto: JC Online

Maciel Melo
 

O cantor e compositor Maciel Melo lança o DVD ao vivo Isso vale um abraço e mostra que não precisa do Sudeste para fazer sucesso

José Teles
teles@jc.com.br

Foram 25 anos, desde os chás de cadeira em ante-salas de órgãos públicos e privados para conseguir patrocínio para o primeiro disco até ser convidado pelo presidente Lula para cantar no Palácio do Planalto. Neste intervalo, Maciel Melo, de Iguaraci, no Sertão do Pajeú, tornou-se um dos mais festejados nomes da música nordestina, mais especificamente do forró. O registro deste período está no DVD Maciel Melo ao vivo – Isso vale um abraço (gravado no Teatro Guararapes), que acaba de chegar às lojas.

O lançamento oficial acontece na próxima semana (o local ainda não está definido). O que chama imediatamente atenção no DVD é a sua apresentação luxuosa, de bom-gosto. “A idéia de fazer assim, com duas capas, encarte com várias páginas, sem falsa modéstia, bem-feito, um trabalho caro, é para afastar esta idéia do forró como um produto que se faz de qualquer jeito. Aliás minha música é forró, porque sou sertanejo, é a minha formação, mas também é pop”, comenta o forrozeiro, que não é dos que se pautam pela ortodoxia do zabumba, sanfona e triângulo, instrumentação básica do que se convencionou chamar de pé-de-serra. “Acho que mais instrumentos só enriquece. Claro que não da forma como fazem as bandas de forró estilizado, aquela coisa repetitiva. Prestando atenção a pessoa vai notar que na minha música tem um pouco de jazz, de blues. Se tu quiser, por exemplo, tem uma introdução que mistura forró com jazz.”

Incensado nacionalmente pela sua recente visita ao Palácio do Planalto, com o governador Eduardo Campos para cantar no aniversário de casamento do presidente Lula, Maciel Melo diz que isto o tornou mais conhecido no Sudeste, mas por enquanto não tem muito interesse em fazer apresentações fora do Nordeste. “Não é que eu não goste de tocar no Rio ou São Paulo, que são duas grandes vitrines, mas eles pagam mal, por isto tem tanto trio de forró em São Paulo. Para mim só interessa fazer show nestas cidades se puder levar a banda comigo. Público sei que tenho, porque fiz um festival famoso, em Itaúnas, no Espírito Santo e fui o principal artista do evento”.

Isso vale um abraço é iniciado com o poema Aos críticos, do poeta pernambucano Rogaciano Leite, e segue com as principais composições de Maciel, mais alguns forrós de outros autores (como Petrúcio Amorim e Xico Bizerra), com participações especiais de Flávio José, Irah Caldeira, Marcone Melo (irmão de Maciel), Petrúcio Amorim, Silvério Pessoa e Xangai. Uma comemoração de 25 anos de carreira, “e de celebração ao forró”, comenta Maciel Melo, acrescentando que o gênero “vai muito bem, obrigado”, apesar da enxurrada de bandas de fuleiragem music que invadiu os arraiais juninos no Nordeste. “Mesmo com estas bandas, está havendo uma efervescência enorme no forró. No Recife, a gente tem pelo menos boas casas de forró, sempre lotadas. Acho que isto se deve a duas coisas: o povo está cansando desta música de má qualidade e o governo do Estado está contribuindo também para isto, na medida que só patrocina cidades que dão preferência ao pé-de-serra. Tanto é assim que este ano não deu para fazer show na Bahia, toda minha agenda está em Pernambuco”.

Porém Maciel Melo diz que, mesmo confiante na força do forró, sabe também que as bandas dispõem de um enorme poder de fogo: “Claro que as bandas não vão desaparecer assim de uma hora para outra. E mesmo que desapareçam sempre aparecerá música ruim. E tem muito forró ruim, porque o forró está na moda, então gente que nunca foi do ramo agora está cantando forró. Eu sei fazer frevo, até já fiz alguns, posso voltar a fazer, mas não é a minha praia”, critica. Maciel também freqüenta outra praia, além do forró, a cantoria, nos moldes de Elomar Figueira. Sua estréia em disco, foi com um LP de cantoria: “Estou fazendo o resgate deste álbum, que foi mal gravado na época. Está pronto, com músicas novas, e participações de Naná Vasconcelos, Silvério Pessoa, Geraldo Azevedo. É todo acústico, violões, violoncelo, violino. Espero lançar até o final do ano, vou inclusive oferecer a Biscoito Fino, acho que o disco está nos padrões desta gravadora”, diz o caboclo sonhador.

(© JC Online)


Forró para dançar no escurinho

Pela primeira vez em São Paulo, o grupo brasileiro Forró in the Dark, que faz sucesso em NY, vem mostrar novas músicas

Livia Deodato

David Byrne cantou uma versão em inglês de Asa Branca, de Luiz Gonzaga, no primeiro álbum do quarteto brasileiro radicado em Nova York. Bebel Gilberto emprestou sua voz à quase fadada à extinção Wandering Swallow, música que se tornou famosa na voz de Peggy Lee tirada do mercado na década de 50 por acusação de plágio de uns compositores americanos sobre Juazeiro, de Humberto Teixeira e Gonzaga. E as noites entre as ruas 4 e 5 de Alphabetic City, em Nova York, mais precisamente na casa Nublu, nunca mais foram as mesmas.

Mauro Refosco (zabumba e voz), Davi Vieira (percussão e voz), Guilherme Monteiro (guitarra e vocal) e Jorge Continentino (pífano, saxofone barítono e voz) são integrantes da banda Forró in the Dark, que difunde o ritmo nordestino com uma mistura eletrônica um tanto inovadora há cerca de seis anos na Big Apple - e lota a casa noturna onde se consagraram a cada show marcado. ''A gente não tem muita paciência para ensaiar. Então o Nublu acaba virando o nosso laboratório. É lá que experimentamos as músicas novas e checamos a animação'', conta o catarinense Mauro, que mora em Nova York desde 1992.

Pois é a primeira vez que a banda chega ao País para se apresentar em São Paulo, e vai contar com a participação de Itaiguara Brandão no baixo - nas últimas vezes em que estiveram no Brasil, só tocaram em Belo Horizonte e no Rio, por incompatibilidade de agenda (no ano passado, por exemplo, eles acompanharam Bebel Gilberto em sua turnê mundo afora). O Forró in the Dark vem mostrar as músicas que lá em cima todo mundo já sabe cantar, do álbum Bonfires of São João, além de outras cinco que o quarteto acaba de reunir no EP Dia de Roda já lançado na Europa, em formato vinil, assim como o músico do texto ao lado, Maurício Takara. ''Vinil é sempre atrativo, é um trabalho muito mais artístico. É como uma impressão em madeira ou xilogravura'', desfia elogios. ''Fora que a qualidade do som é muito superior quando se tem um bom turntable e ótimas caixas de som.''

Estão reunidas em Dia de Roda: Chororô, música de Mauro com letra de todos, Lost in the Ballroom, xote instrumental de Guilherme, Nonsense Call, outro xote, só que mais acelerado, de Davi, a música que dá nome ao EP, de Jorge, e Sebastião, diretamente da trilha de Deus e Diabo na Terra do Sol, música de Sérgio Ricardo com letra de Glauber Rocha. Pra todo mundo arrastar o pé, no escurinho ou não.

(© Estadão)

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