Dona Selma do Coco vibra com a comenda recebida do presidente
Lula e celebra seus 50 anos de carreira
José Teles
teles@jc.com.br
A
comendadora Dona Selma do Coco está lançando seu oitavo CD,
Bodas de ouro com coco, sem festa: “Foi um aperreio, porque o
disco demorou muito a sair. Se fosse o primeiro ainda ia. Por
isto não quero fazer nada com ele, só vender nos shows mesmo”,
diz ela. A produtora Lígia Verner atribui o atraso a problemas
técnicos com a remasterização. Dona
Selma comemora meio século de dedicação ao coco: “Vem da minha
avó, do meu pai, e da minha mãe. Eu ia com eles para os cocos, e
aquilo foi ficando comigo”, lembra Dona Selma, a comendadora da
cultura brasileira. A comenda ela recebeu juntamente com outros
artistas populares, em 8 de novembro passado, em Belo Horizonte
(MG), das mãos do presidente Lula, numa cerimônia que contou
também com o ministro da cultura, Gilberto Gil.
Aos 72 anos, Dona Selma só começou a sentir o gostinho da fama,
aos 60 anos, com o sucesso, no Carnaval de 1996, do coco A
rolinha, que deu um impulso à carreira, da ex-empregada
doméstica e tapioqueira, que, quando mais jovem, fazia coco com
as amigas uma vez por ano: “A gente se juntava e ia para os
cocos, sambava e tomava cachaça até o dia amanhecer” relembra
ela, que em uma das faixas, Minha história, volta ao passado, e
canta os tempos em que morava na Mustardinha: “Fiquei viúva há
uns cinqüenta anos, nunca mais casei, porque os homens que
prestam, a gente conta nos dedos”. Até o sucesso chegar, ela
sustentava a família com pensão deixada pelo marido. “Era muito
pouco, uma miséria, salário de pobre. Agora não. Agora eu vivo
só da música, porque as coisas mudaram muito. Antigamente não
tinha cultura, não davam valor”, comenta a coquista, que com o
disco Minha história, em 1998, ganhou um prêmio Sharp.
A
ex-moradora da Mustardinha, de repente, estava conhecendo países
com os quais nunca nem sonhara. Na Alemanha, gravou disco e
morou por dois meses. “Conheci muitos países. França, Suíça,
muitos lugares”. Porém o que ela mais gostou foi os EUA. “Tudo
lá é bom. É mais quente, as comidas são boas, parece cinema”,
elogia.
No CD, Dona Selma, comendadora da cultura popular, ela assina
quase todas as faixas sozinha, e até recria seu maior sucesso no
coco Vou pra Olinda + A rolinha. Presta uma homenagem aos seus
pares da cultura popular, em Mestre das cultura, no qual cita
Lia de Itamaracá, Mestre Salustiano e ela própria. São música
que simplesmente fluem, lhe vêm à cabeça. Nada de complicações
com a comendadora. Feito a faixa Dá-lhe Manoel: “Manoel é
qualquer Manoel, tem tantos por aí. Eu sou assim, sempre alegre,
sou popular mesmo”, diz, soltando a gargalhada que virou marca
registrada. Alegre, mesmo sentindo que o coco não está mais tão
prestigiado quanto há dez anos: “Voltou a ser quase a mesma
coisa. O pessoal de fora vem aqui e ganha o dinheiro todo,
enquanto para a gente só fica a micharia”, reclama Dona Selma.