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Caetano Veloso
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No Rio, em temporada do show Obra em
Progresso, Caetano testa sons e canções inéditas para novo
CD, fala da expectativa pelo espetáculo com Roberto Carlos,
de Glauber, do Dia dos Namorados, da eleição americana...
Tem feito bem a Caetano Veloso a temporada de
Obra em Progresso, que termina na semana que vem e está
sendo usada como laboratório para seu próximo CD, a ser
gravado em outubro. O palco do Vivo Rio vem lhe servindo de
espaço de teste de novas sonoridades e para mostrar canções
inéditas, além de - não poderia ser diferente - púlpito para
comentários sobre assuntos da ordem do dia.
À espera do espetáculo que fará com Roberto Carlos, em
homenagem a Tom Jobim, e da apresentação do
para-sempre-ídolo João Gilberto, ambos marcados para agosto
e programados por conta do cinqüentenário da bossa nova, o
compositor recebeu o Estado na sexta-feira no escritório de
sua produtora, no Rio, e discorreu sobre esses e outros
temas.
Lembrou a relação com Tom Jobim, falou sobre Glauber Rocha e
a convivência com os jovens músicos da banda Cê: ''Eu me
sinto rejuvenescido.'' E também opinou sobre as eleições
americanas e Obama.
Como têm sido os shows?
Melhor do que eu esperava. Não tinha idéia de qual poderia
ser a resposta às novas músicas. Pensava que as pessoas não
iriam identificar as novas canções como uma coisa marcante.
Mas elas tiveram uma repercussão muito nítida.
Já sabe como esse trabalho vai refletir-se no próximo CD?
Tenho uma suposição. Toco Desde Que o Samba É samba desde o
(show) Cê, já como embrião desse trabalho. Aqui, usei
algumas estilizações de levadas de samba. Talvez isso
predomine mesmo no disco.
Li que, hoje, suas músicas seduzem mais pela sonoridade
do que pela melodia. Você concorda?
Eu não concordo. Mas fico feliz que se ressalte a
sonoridade, porque tenho trabalhado com muito mais
responsabilidade por isso. Isso vem do Moreno (seu filho),
Pedro Sá (guitarrista da banda Cê), Kassin, Ricardo (Dias
Gomes, baixista e tecladista), Marcelo (Callado, baterista)
e Daniel Carvalho, que fazem o som comigo.
Vê nessa afirmação algum tipo de crítica ao que você faz
atualmente?
Ao contrário. Há uns dez anos, tocando em Nova York, li um
artigo de lá elogioso a mim, mas dizendo que havia algo de
relativamente arcaizante. Porque, quando toda música popular
moderna se baseava em ritmo e textura, num trabalho com
timbres e sonoridades, e a idéia de construção harmônica e
desenho melódico parecia coisa do passado, eu ainda
trabalhava com construção harmônica e desenhos melódicos.
Na estréia você disse que o show teria um caráter
jornalístico, por ser semanal, e, na quarta-feira, falou de
Barack Obama. O que achou da vitória dele sobre Hillary
Clinton nas prévias do Partido Democrata?
Eu gostei, porque (ele) é bacana, é uma figura chique. Acho
ele bem bonitinho.
E a frase ''Prefiro preto a mulher'', que você disse no
último show?
A frase é: ''Gosto muito mais de preto do que de mulher.''
Não sei se é uma frase passível de explicação, é muito
absurda. Queria dizer que Barack Obama parece brasileiro -
ele próprio sugeriu isso numa entrevista a um jornalista
brasileiro, e é saudado como o primeiro presidente negro
americano. O interessante é que no Brasil talvez não
tenhamos tido um presidente branco.
Que significado tem para você a vitória de Barack Obama?
Simpatizava com ele. Mas nunca senti o que ele deseja e pode
fazer como líder político da nação (ainda) mais poderosa do
mundo. Mas mesmo McCain seria melhor do que Bush. Aquela
frase é um pouco má e cínica. Por um lado, diz que há algo
ridículo em você supor que está elegendo alguém porque é
preto ou mulher. Há certa ironia violenta contra isso na
minha frase. Por outro lado, essa ironia não deixa de
reconhecer que são fatores importantes.
E a questão ''preto x mulher''?
O que digo ali é que gosto mais de preto do que de mulher, o
que não quer dizer que não goste de mulher. O que está
aparecendo é o tema. A causa do negro me interessa mais do
que a da mulher. Evidentemente, (isso foi dito) com uma
conotação maliciosa, que fica parecendo que gosto mais de
homem preto do que de mulher. Não disse isso, mas sei que eu
sou um pouco assim... (risos)
Mudando de assunto, ficou surpreso quando soube que
Roberto Carlos fará o show em homenagem à bossa nova com
você?
Ele cantando com Tom naquela gravação (''Lígia'', de Tom) é
a coisa mais linda do mundo. Vai ser a jóia da coroa.
Como você vê essa rediscussão da obra de Glauber Rocha,
com o lançamento de cópia restaurada de O Dragão da Maldade
Contra o Santo Guerreiro e da caixa de DVDs com este e
outros filmes?
Quem não viu Glauber tem que ver. Ele deu uma grande
guinada, era muito audacioso.
O que você achou da declaração de Marcelo Madureira -
''Glauber é uma merda''?
Foi simplório. Glauber criou um cinema brasileiro moderno,
com uma cara-de-pau fantástica. A carga de beleza peculiar
da personalidade de Glauber está em tudo que ele fez. Você
vê Glauber em Scorsese, Coppola, Sergio Leone. Ele
impressionou as pessoas mais essenciais do cinema moderno.
Quinta é Dia dos Namorados. Você vai passar a data
sozinho?
Não sei... Da última vez que achei que fosse passar sozinho,
eu passei. Não sou muito de datas, de dar presente. Não
tenho namorada certa.
(©
Estadão)
Lan Lan, Toni Costa e Emanuelle Araújo
se reuniram como quem não queria nada e formaram a banda Moinho
Livia Deodato, de O
Estado de S. Paulo
SÃO
PAULO - Um belo dia, há cerca de três anos, Emanuelle Araújo, Lan Lan e
Toni Costa se reuniram como quem não queria nada. Puxaram um samba da
velha-guarda baiana aqui, outro da carioca ali, e notaram que desse trio
poderia sair um caldo bem apimentado e com aquele punhado de catchup. A
mistura deu tão certo que eles resolveram oficializar o encontro,
chamando-o de Moinho, e produzir um álbum despretensioso, mas que já
conquistou um público cativo - a faixa de abertura do CD de estréia,
Esnoba, de Márcio Mello, não só é a música-tema do casal Rakelli
(Ísis Valverde) e Robson (Marcelo Faria), na novela Beleza Pura,
como foi a mais tocada nas rádios do Rio na semana passada. O DJ Theo
Werneck também garante que por onde toca em São Paulo, o público clama
pela canção cujo refrão diz assim: "Só porque tenho por ela um apreço
imenso/ Ela me esnoba, me esnoba, me esnoba."
Pois bem, o Moinho vai fazer um único
show de lançamento do álbum intitulado Hoje de Noite nesta
terça-feira, 10, às 22 horas, no Tom Jazz. O título do CD vem do nome da
canção presenteada ao grupo por Nando Reis. E ele não foi o único a
abençoar esse encontro da vocalista, a percussionista e o guitarrista
baianos, residentes no Rio. Ana Carolina compôs Doida de Varrer
para o trio e Moraes Moreira sintetizou a fértil conexão Rio-Bahia em
O Vento e o Moinho. "Ele conta um pouco da nossa história na
letra de O Vento e o Moinho. Da relação da Lapa com a
Pelourinho, do encontro de três amigos, de um conto de amor e amizade",
resume a ex-vocalista da banda Eva, Emanuelle Araújo, que ainda divide o
seu tempo com a novela A Favorita (ela faz o papel da
prostituta Manu).
A dona de uma bela e potente voz diz
não ter uma canção preferida no álbum. Tem, isso sim, um carinho muito
especial por Saudade da Bahia, de Dorival Caymmi, que o trio
concordou em adicionar ao álbum por casar muito bem com a origem do
Moinho. "Caymmi, sem dúvida, foi nossa grande inspiração. E Saudade
da Bahia tem um significado muito especial para mim: quando eu
tinha uns 6, 7 anos, comecei a cantar com o meu pai, músico amador,
justamente essa canção. Gravá-la nesse álbum foi uma emoção muito
grande", conta Emanuelle. A baiana radicada no Rio - sua "segunda casa"
- desde 2005 não pode ter uma folguinha que corre para matar essa
saudade da Bahia. "Banho de mar tem de ser lá, bem quentinho. Não
agüento essa água gelada do Rio", brinca.
Amigos do trio também marcaram presença
em Hoje de Noite: Davi Moraes empunha sua guitarra no sambinha
Carnaval, composição de San B, e a voz de Jussara Silveira
colore ainda mais a última faixa, Xangô, de Toni Costa, Lan Lan
e Mart’nália. Moraes Moreira e Nando Reis também oferecem sua graça em
suas respectivas canções. O Moinho também incluiu no repertório
Baleia da Sé, clássica canção de Riachão, um dos maiores nomes do
samba baiano.
Na capa do álbum aparece uma bela foto
produzida por OEstudio, em que Emanuelle e Lan Lan amparam a moldura de
um espelho que reflete a imagem de Toni Costa com um violão no colo.
"Prestamos essa homenagem ao Toni na capa pelo fato de ele ser o ‘bofe’
da banda", brinca Emanuelle, para logo emendar: "Ele é o nosso maestro,
a espinha dorsal das canções." Experimente entrar nesse Moinho.
a, o resultado talvez seja incoerente.
Esse não é um campo que a gente possa pisar com tranqüilidade.
(©
Estadão) |