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Caetano: ''Obama é bacana, chique e bonitinho''

11/06/2008

 

 

Caetano Veloso
 

No Rio, em temporada do show Obra em Progresso, Caetano testa sons e canções inéditas para novo CD, fala da expectativa pelo espetáculo com Roberto Carlos, de Glauber, do Dia dos Namorados, da eleição americana...

Roberta Pennafort

 
Tem feito bem a Caetano Veloso a temporada de Obra em Progresso, que termina na semana que vem e está sendo usada como laboratório para seu próximo CD, a ser gravado em outubro. O palco do Vivo Rio vem lhe servindo de espaço de teste de novas sonoridades e para mostrar canções inéditas, além de - não poderia ser diferente - púlpito para comentários sobre assuntos da ordem do dia.

À espera do espetáculo que fará com Roberto Carlos, em homenagem a Tom Jobim, e da apresentação do para-sempre-ídolo João Gilberto, ambos marcados para agosto e programados por conta do cinqüentenário da bossa nova, o compositor recebeu o Estado na sexta-feira no escritório de sua produtora, no Rio, e discorreu sobre esses e outros temas.

Lembrou a relação com Tom Jobim, falou sobre Glauber Rocha e a convivência com os jovens músicos da banda Cê: ''Eu me sinto rejuvenescido.'' E também opinou sobre as eleições americanas e Obama.

Como têm sido os shows?

Melhor do que eu esperava. Não tinha idéia de qual poderia ser a resposta às novas músicas. Pensava que as pessoas não iriam identificar as novas canções como uma coisa marcante. Mas elas tiveram uma repercussão muito nítida.

Já sabe como esse trabalho vai refletir-se no próximo CD?

Tenho uma suposição. Toco Desde Que o Samba É samba desde o (show) Cê, já como embrião desse trabalho. Aqui, usei algumas estilizações de levadas de samba. Talvez isso predomine mesmo no disco.

Li que, hoje, suas músicas seduzem mais pela sonoridade do que pela melodia. Você concorda?

Eu não concordo. Mas fico feliz que se ressalte a sonoridade, porque tenho trabalhado com muito mais responsabilidade por isso. Isso vem do Moreno (seu filho), Pedro Sá (guitarrista da banda Cê), Kassin, Ricardo (Dias Gomes, baixista e tecladista), Marcelo (Callado, baterista) e Daniel Carvalho, que fazem o som comigo.

Vê nessa afirmação algum tipo de crítica ao que você faz atualmente?

Ao contrário. Há uns dez anos, tocando em Nova York, li um artigo de lá elogioso a mim, mas dizendo que havia algo de relativamente arcaizante. Porque, quando toda música popular moderna se baseava em ritmo e textura, num trabalho com timbres e sonoridades, e a idéia de construção harmônica e desenho melódico parecia coisa do passado, eu ainda trabalhava com construção harmônica e desenhos melódicos.

Na estréia você disse que o show teria um caráter jornalístico, por ser semanal, e, na quarta-feira, falou de Barack Obama. O que achou da vitória dele sobre Hillary Clinton nas prévias do Partido Democrata?

Eu gostei, porque (ele) é bacana, é uma figura chique. Acho ele bem bonitinho.

E a frase ''Prefiro preto a mulher'', que você disse no último show?

A frase é: ''Gosto muito mais de preto do que de mulher.'' Não sei se é uma frase passível de explicação, é muito absurda. Queria dizer que Barack Obama parece brasileiro - ele próprio sugeriu isso numa entrevista a um jornalista brasileiro, e é saudado como o primeiro presidente negro americano. O interessante é que no Brasil talvez não tenhamos tido um presidente branco.

Que significado tem para você a vitória de Barack Obama?

Simpatizava com ele. Mas nunca senti o que ele deseja e pode fazer como líder político da nação (ainda) mais poderosa do mundo. Mas mesmo McCain seria melhor do que Bush. Aquela frase é um pouco má e cínica. Por um lado, diz que há algo ridículo em você supor que está elegendo alguém porque é preto ou mulher. Há certa ironia violenta contra isso na minha frase. Por outro lado, essa ironia não deixa de reconhecer que são fatores importantes.

E a questão ''preto x mulher''?

O que digo ali é que gosto mais de preto do que de mulher, o que não quer dizer que não goste de mulher. O que está aparecendo é o tema. A causa do negro me interessa mais do que a da mulher. Evidentemente, (isso foi dito) com uma conotação maliciosa, que fica parecendo que gosto mais de homem preto do que de mulher. Não disse isso, mas sei que eu sou um pouco assim... (risos)

Mudando de assunto, ficou surpreso quando soube que Roberto Carlos fará o show em homenagem à bossa nova com você?

Ele cantando com Tom naquela gravação (''Lígia'', de Tom) é a coisa mais linda do mundo. Vai ser a jóia da coroa.

Como você vê essa rediscussão da obra de Glauber Rocha, com o lançamento de cópia restaurada de O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro e da caixa de DVDs com este e outros filmes?

Quem não viu Glauber tem que ver. Ele deu uma grande guinada, era muito audacioso.

O que você achou da declaração de Marcelo Madureira - ''Glauber é uma merda''?

Foi simplório. Glauber criou um cinema brasileiro moderno, com uma cara-de-pau fantástica. A carga de beleza peculiar da personalidade de Glauber está em tudo que ele fez. Você vê Glauber em Scorsese, Coppola, Sergio Leone. Ele impressionou as pessoas mais essenciais do cinema moderno.

Quinta é Dia dos Namorados. Você vai passar a data sozinho?

Não sei... Da última vez que achei que fosse passar sozinho, eu passei. Não sou muito de datas, de dar presente. Não tenho namorada certa.

(© Estadão)


Conheça novíssimos baianos em show e CD de estréia

Lan Lan, Toni Costa e Emanuelle Araújo se reuniram como quem não queria nada e formaram a banda Moinho

Livia Deodato, de O Estado de S. Paulo

 
SÃO PAULO - Um belo dia, há cerca de três anos, Emanuelle Araújo, Lan Lan e Toni Costa se reuniram como quem não queria nada. Puxaram um samba da velha-guarda baiana aqui, outro da carioca ali, e notaram que desse trio poderia sair um caldo bem apimentado e com aquele punhado de catchup. A mistura deu tão certo que eles resolveram oficializar o encontro, chamando-o de Moinho, e produzir um álbum despretensioso, mas que já conquistou um público cativo - a faixa de abertura do CD de estréia, Esnoba, de Márcio Mello, não só é a música-tema do casal Rakelli (Ísis Valverde) e Robson (Marcelo Faria), na novela Beleza Pura, como foi a mais tocada nas rádios do Rio na semana passada. O DJ Theo Werneck também garante que por onde toca em São Paulo, o público clama pela canção cujo refrão diz assim: "Só porque tenho por ela um apreço imenso/ Ela me esnoba, me esnoba, me esnoba."

Pois bem, o Moinho vai fazer um único show de lançamento do álbum intitulado Hoje de Noite nesta terça-feira, 10, às 22 horas, no Tom Jazz. O título do CD vem do nome da canção presenteada ao grupo por Nando Reis. E ele não foi o único a abençoar esse encontro da vocalista, a percussionista e o guitarrista baianos, residentes no Rio. Ana Carolina compôs Doida de Varrer para o trio e Moraes Moreira sintetizou a fértil conexão Rio-Bahia em O Vento e o Moinho. "Ele conta um pouco da nossa história na letra de O Vento e o Moinho. Da relação da Lapa com a Pelourinho, do encontro de três amigos, de um conto de amor e amizade", resume a ex-vocalista da banda Eva, Emanuelle Araújo, que ainda divide o seu tempo com a novela A Favorita (ela faz o papel da prostituta Manu). 

A dona de uma bela e potente voz diz não ter uma canção preferida no álbum. Tem, isso sim, um carinho muito especial por Saudade da Bahia, de Dorival Caymmi, que o trio concordou em adicionar ao álbum por casar muito bem com a origem do Moinho. "Caymmi, sem dúvida, foi nossa grande inspiração. E Saudade da Bahia tem um significado muito especial para mim: quando eu tinha uns 6, 7 anos, comecei a cantar com o meu pai, músico amador, justamente essa canção. Gravá-la nesse álbum foi uma emoção muito grande", conta Emanuelle. A baiana radicada no Rio - sua "segunda casa" - desde 2005 não pode ter uma folguinha que corre para matar essa saudade da Bahia. "Banho de mar tem de ser lá, bem quentinho. Não agüento essa água gelada do Rio", brinca. 

Amigos do trio também marcaram presença em Hoje de Noite: Davi Moraes empunha sua guitarra no sambinha Carnaval, composição de San B, e a voz de Jussara Silveira colore ainda mais a última faixa, Xangô, de Toni Costa, Lan Lan e Mart’nália. Moraes Moreira e Nando Reis também oferecem sua graça em suas respectivas canções. O Moinho também incluiu no repertório Baleia da Sé, clássica canção de Riachão, um dos maiores nomes do samba baiano. 

Na capa do álbum aparece uma bela foto produzida por OEstudio, em que Emanuelle e Lan Lan amparam a moldura de um espelho que reflete a imagem de Toni Costa com um violão no colo. "Prestamos essa homenagem ao Toni na capa pelo fato de ele ser o ‘bofe’ da banda", brinca Emanuelle, para logo emendar: "Ele é o nosso maestro, a espinha dorsal das canções." Experimente entrar nesse Moinho.

a, o resultado talvez seja incoerente. Esse não é um campo que a gente possa pisar com tranqüilidade.

(© Estadão)

Com relação a este tema, saiba mais (arquivo NordesteWeb)


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