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Os irmãos Calixto
lançam novos CDs
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Os irmãos Zé e Luizinho Calixto mostram virtuosismo num
instrumento difícil de ser executado
José Teles
teles@jc.com.br
A
homenagem a Dominguinhos, no Prêmio TIM de Música, no Theatro
Municipal, no Rio, terminou com uma celebração à sanfona. Em
torno de Dominguinhos reuniram-se alguns dos melhores
instrumentistas do País. Quem entende e gosta de sanfoneiros
sentiu falta de um paraibano, de Campina Grande, Zé Calixto, 74
de idade, e 62 anos de oito baixos: “Eu estava a cem metros do
Municipal, tocando no Teatro Rival, mas não fui convidado”, diz
o tranqüilo sanfoneiro. Ele e o irmão Luizinho Calixto tocam no
bar Arriégua, numa festa intitulada Os dezesseis baixos dos
Calixtos. Ambos lançam seus CDs novos: Poeta da sanfona, de Zé
Calixto, e A discoteca do Calixto, de Luizinho Calixto.
Tanto um quanto o outro são lendas do oito baixos, um dos mais
complexos instrumentos do gênero: “Ela abre num tom e fecha em
outro, se o tocador não pegar o macete se enrola todo. Tem muito
tocador de fole que começa a beber e acaba se complicando. O
pior é que não há manual ensinando. Para mim é um instrumento em
extinção, porque pouca gente está aprendendo o oito baixos. Eu
estou velho para ensinar. Luizinho é que está com idéia de criar
uma escola de oito baixos”, diz Zé Calixto, cuja primeira
influência foi o pai dele, Seu Dideu: “Ele no início tocava
triângulo, mas no convívio com outros sanfoneiros foi aprendendo
e acabou vivendo só de música. Aos oito anos eu já tocava, aos
12 passei a tocar profissionalmente”, conta Zé Calixto. O palco
disponível era a feira de Campina Grande, os arrasta-pés de
subúrbios e os cabarés: “Toquei muito em cabaré, valsa, choro,
bolero, que naquele tempo não existia ainda o forró. É uma
grande escola porque ali você tem que tocar qualquer tipo de
música. Claro que aconteciam umas briguinhas. Mas fole meu nunca
ninguém furou. Nem meu nem do meu pai, que era um homem assim
baixinho mas muito brabo”.
Luizinho Calixto, também considerado uma dos maiores tocadores
de fole do País, entrou na profissão ainda menino, pelas mãos do
lendário Rosil Cavalcanti, que mantinha, na Rádio Borborema o
programa de maior audiência de Campina Grande, O forró do Zé
Lagoa: “Quando ele me viu disse logo que eu tocava muito e
comecei a me apresentar no programa dele”. isto aconteceu há 40
anos, quando Zé Calixto já era estrela de primeira grandeza na
constelação do forró. Ele foi levado para o Rio no final dos
anos 50 pelo compositor João Silva: “Fui na Phillips, toquei
umas coisinhas para um diretor de lá e ele quis logo que eu
assinasse contrato. Gravei de cara quatro 78rpm”. A primeira
gravação de Zé Calixto foi Forró de Seu Dideu, uma composição do
pai dele. O próximo CD que Luizinho produzirá será intitulado Em
nome do pai, e terá ele, Zé Calixto, Bastinho Calixto e João
Calixto interpretando composições do patriarca, seu Dideu.
(©
JC Online, 09.06.2008)
Discoteca, poesia e um só sobrenome
Pelo título,
Discoteca do Calixto passa a impressão de que Luizinho Calixto está se
bandeando para o lado da música fácil e comercial. Ledo engano. Mesmo
morando atualmente em Fortaleza, terra onde nasceu a fuleiragem music, e
é infestada por ela, faz um disco que não poderia ser mais, com perdão
do termo em inglês, “roots”. “No Rio mora um tocador de oito baixos,
nascido no Rio Grande do Norte, Manoel Elias. Ele tem 95 anos, deve ser
o mais velho músico deste instrumento. Manoel gravou dois discos, um
chamado A gafieira de Manoel Elias e o outro Discoteca de Manoel Elias.
Eu peguei músicas destes dois discos para montar o repertório do meu”,
explica Luizinho Calixto.
Discoteca do
Calixto tem 20 faixas, uma verdadeira lição do forró instrumental.
Começa matador, com Recordando 32, choro de Manoel Elias, um clássico.
Segue por Xaxadinho das Alagoas, de Severino Januário, o melhor
sanfoneiro da família Gonzaga. Este arrasta-pé foi tão tocado no
Nordeste, que existia até uma letra pornográfica, colocada por garotos,
na melodia. Pense-se em clássicos do fole e eles estão aqui, tocados com
uma perícia que impressiona. São composições como a obrigatória
Escadaria, de Pedro Raimundo, Rato molhado, de Pedro Sertanejo, No
cantinho da parede, de Bastinho Calixto, Forró na floresta, de Geraldo
Correia. E no acompanhamento nada do fundamentalismo instrumental de
zabumba e triângulo apenas. Luizinho gravou com Marcio Ramalho, no
violão de 7, Melk, contrabaixo, O próprio Luizinho toca cavaco e
percussão e Urôa, bateria (tem ainda numa faixa o cavaco de Francisco
Carlos). Um disco irretocável.
A
discografia de Zé Calixto monta em sete CDs, e 26 LPs (os vinis ele acha
que dificilmente serão relançados). Sempre do mais puro forró. Em Poeta
da sanfona ele se aproxima um pouco da MPB. O disco começa com Forró do
mengo (Dominguinhos/Anastácia), com um belo duelo de pé-de-bode e o
violino de Nicolas Krassik. Dominguinhos canta num pot-pourri de
arrasta-pés, do qual faz parte a clássica Sai do sereno. Não poderia
faltar um chorinho num disco de oito-baixos, e Zé Calixto toca Eu quero
é sossego, de K-ximbinho. O que ele não toca desta vez é frevo: “Em
quase todo disco eu botava frevo. Mas é muito difícil tocar frevo em
oito-baixos, e na minha idade, fica mais difícil ainda”, explica Zé
Calixto.
Assim
como Luizinho, ele faz um disco que chega a ser didático, revisitando
alguns dos maiores nomes do forró: Luiz Gonzaga (Pé de serra), Sivuca
(Homenagem à velha guarda), Truvinca (Forró em Camaratuba). A homenagem
aos 50 anos da bossa nova está em Bossa nova nos oito baixos, lançada
por Zé Calixto há 47 anos, quando a BN estava no auge. Os dois irmãos
ratificam que o forró é muito mais do que os xotes românticos que
viraram praga nos últimos anos no Nordeste. “Eu acho que mais
instrumentos só enriquecem, eu não dispenso um violão de 7 cordas e um
cavaquinho. Antigamente se usava até banjo no forró”, diz Zé Calixto,
que ratifica o que afirma, com uma interpretação de Rosa, que
Pixinguinha aprovaria, com o auxílio luxuoso do violão de Valter 7
Cordas.
(©
JC Online) |