Notícias
Naná e Yamandú fazem "maracatu dos Andes"

13/06/2008

 

 

Naná Vasconcelos
 

Percussionista pernambucano e violonista gaúcho unem estilos em show que vai virar CD

Aos 63 e 28 anos, respectivamente, músicos pretendem unir influências do Nordeste e do Sul em primeiro álbum em parceria

RAQUEL COZER
DA REPORTAGEM LOCAL

Um é gaúcho, de fala rápida, mas econômico nas palavras. O outro, recifense, nascido 3.636 km ao norte da Passo Fundo natal do primeiro, está mais para verborrágico, embora nem sempre diga muita coisa.

Criado entre milongas e tangos dos pampas, o primeiro nem era nascido quando o segundo, especializado no berimbau, já sabia percussão para tocar do erudito ao rock e realizar parcerias com nomes como Miles Davis e B.B. King.

A precocidade do jovem Yamandú Costa, que ainda adolescente chamava a atenção por seu desempenho ao violão de sete cordas, ajudou a unir as pontas dessas histórias.

Hoje, aos 28 anos e já considerado um dos maiores violonistas do país, ele encontra Naná Vasconcelos, 63 -eleito várias vezes o melhor percussionista do mundo pela prestigiada revista norte-americana "Down Beat"-, para a primeira de quatro apresentações em São Paulo, nas quais serão gravados um CD e um DVD.

"Yamandú não tem nem 30; eu tenho 63, embora veja 36 no espelho. Tocar com a nova geração rejuvenesce", festeja Naná. "Se posso tocar com gente mais experiente, aproveito. Já gravei com Paulo Moura, Dominguinhos. É uma sorte tocar com caras que já fizeram tanto na vida", retribui o parceiro.

"Mistério"

Não é a primeira vez que Naná e Yamandú sobem ao mesmo palco -o encontro inicial, em Rio das Ostras, há alguns anos, repetiu-se em Angra dos Reis, Búzios, São Paulo. "Mas, agora, com a responsabilidade de gravar, é diferente. É tudo mais cuidadoso", diz Naná.

O material de divulgação informa que os dois interpretarão músicas como "Brejeiro", de Ernesto Nazareth, e "Missionerita", presente em "Lida", mais recente CD de Yamandú.

Até segunda-feira, porém, os dois diziam não saber nada disso. O repertório seria um "mistério", inclusive para eles, que, de volta de turnês individuais pela Europa, reuniriam-se ontem para o primeiro ensaio. "Te juro que não sei", diz Naná, assegurando apenas que no repertório não haverá nada que eles já tenham gravado. "É possível que a gente faça uma versão do "Trenzinho Caipira", do Villa-Lobos. E, vá lá, algo de Radamés [Gnattali]", concede. "O mais legal é justamente não sabermos direito como vai ser", faz coro Yamandú, destacando o "encontro de extremos". "Pode ter, por exemplo, uma improvisação minha em cima da música dos Andes, com ele numa percussão de maracatu, e assim vamos amarrando."

Naná, que já tocou com o saxofonista argentino Gato Barbieri, diz ter "familiaridade com essa praia". "O vanerão gaúcho é igual ao forró, ao baião. Vai ter café nesse bule."
 

(© Folha de S. Paulo)


COM DOLORES, NANÁ FAZ TRILHA PARA MUSEU

Além do álbum em parceria com o violonista Yamandú Costa, que ainda não tem gravadora definida nem data de lançamento prevista, o percussionista Naná Vasconcelos está trabalhando no seu próximo disco, em que a água será um dos principais instrumentos.

"Será muito elaborado. Estou tocando na água e vou gravar, levar para o computador essas "células aquáticas", formando um som. Depois, vou compor por cima e fazer arranjos para orquestra", afirma o músico pernambucano.

O disco está sendo trabalhado nos poucos intervalos entre uma e outra turnê pela Europa. No Brasil, Naná encontrou tempo ainda para produzir, junto com o DJ Dolores, uma trilha permanente para o Museu do Homem do Nordeste, da Fundação Joaquim Nabuco, em Recife, com reinauguração prevista para julho.

"O museu terá essa música que não é necessariamente uma música. Às vezes, é só ambientação. A gente recriou o clima do navio negreiro ou do sertão, mas numa interpretação subjetiva da gente", explica Dolores.
 

(© Folha de S. Paulo)


Violão e percussão fazem o encontro dos extremos

Yamandu Costa e Naná Vasconcelos gravam CD de inéditas no Teatro Fecap

Francisco Quinteiro Pires

 
Para fazer as quatro apresentações, de hoje a domingo, no Teatro Fecap, o violonista Yamandu Costa e o percussionista Naná Vasconcelos invocam a sintonia - uma harmonia que eles dizem encontrar no diálogo instrumental improvisado. Os dois revelam o segredo dessa parceria (e de qualquer diálogo): a escuta atenta, e humilde, do que o outro tem a expressar, mesmo que os parceiros venham de ''escolas'' musicais diferentes, localizadas nos extremos do País: Yamandu é gaúcho, Naná é pernambucano.

''Os shows serão muito improvisados'', diz Yamandu. O violonista e o percussionista voltaram de apresentações na Europa na semana passada. Eles já tocaram juntos duas outras vezes, a primeira há 8 anos em Rio das Ostras (RJ). Sempre que se encontravam em viagens, embora não atuassem lado a lado, manifestavam vontade de realizar o projeto.

Para fazer os shows, Yamandu e Naná terão oportunidade de ensaiar somente na véspera da estréia. ''A gente aprendeu a se ouvir, o grande segredo é esse'', afirma Naná. O percussionista diz que por serem improvisadores, o que ''significa que as composições têm um começo, um meio e um fim'', não haverá problemas em gravar, sem ensaios, um CD de inéditas (ainda sem nome) nos quatro dias.

O repertório será uma incógnita até a véspera. O violonista e o percussionista prometeram um para o outro levar obras inéditas. Naná dá uma pista sobre a característica principal dos shows e, por tabela, do CD: o encontro de culturas de regiões extremas. ''Vamos celebrar as diferenças e também as similaridades das manifestações musicais vindas do Sul e do Nordeste'', conta Naná. A ênfase dos shows será na percussão. ''As interpretações vão se destacar por suas características rítmicas'', emenda Yamandu. À base do improviso, o ritmo dolente da milonga vai flertar com o andamento rápido do frevo. ''Tudo bem simples e relaxado'', afirma o percussionista.

Se Yamandu Costa diz que seu violão sete cordas estará a serviço do arsenal percussivo do parceiro, que deve sobressair, Naná afirma a simbiose instrumental: ''Percussão e violão são a coisa mais natural.''

Embora não prometam, eles estão cogitando apresentar obras de Villa-Lobos e Radamés Gnattali, pelos quais nutrem admiração. Ernesto Nazareth pode aparecer com Brejeiro, cuja interpretação solo por Yamandu é um exemplo da concepção dele a respeito do violão sete cordas. Ele é um instrumento ''orquestral'', que tem a intenção de ser inteligente e pede para ser bem explorado, e não só a partir das cordas. A exploração percussiva é um dos princípios das performances de Naná. O desafio da improvisação está lançado. E, como já se disse, os nós do improviso serão desatados com aquele segredo: a escuta atenta.

Serviço

Naná Vasconcelos e Yamandu Costa. Teatro Fecap (400 lug.). Avenida Liberdade, 532, tel. 3188-4149. 5.ª a sáb., 21 h; dom., 19 h. R$ 20

(© Estadão)

Com relação a este tema, saiba mais (arquivo NordesteWeb)


powered by FreeFind