Foto: Divulgação
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Dirigida por Marcelo Flecha, a Cia. A Máscara retrata
de forma seca a dor sertaneja na peça Deus Danado, de João Denys
Beth Néspoli
''Uma estética sem temperos ou preparos excessivos
que cozinhem o ator deixando-o pronto para a degustação. Encenação
indigerível, não degustável para aqueles que perderam o contato com
o inigualável sabor do cru. Arte vendida em lata tem data de
validade. Vence. Apodrece. A encenação pronta para o consumo
padece.'' Esse é um trecho do ''manifesto danado'' lançado pelo
diretor Marcelo Flecha em Mossoró (RN) na estréia de Deus Danado,
que inicia temporada amanhã no Sesc da Avenida Paulista.
Argentino radicado na cidade de São Luís, no Maranhão, Flecha é
diretor especialmente convidado pelos quatro atores da Cia. Máscara
de Teatro com o objetivo de aprimorar o trabalho do grupo fundado em
1999, em Mossoró. Com eles, encenou Medéia, Um Fragmento e, no fim
do ano passado, Deus Danado, peça de João Denys - professor da
Universidade Federal de Pernambuco. No palco, os atores se revezam
atuando em dias alternados para retratar a existência de dois homens
- interpretados por Tony Silva e Damásio Costa ou por Luciana Duarte
e Jeyzon Leonardo - que passam seus dias cavando a terra, no árido
sertão nordestino, em busca de uma mítica botija que lhes trará
riqueza.
''Com esse trabalho damos continuidade à pesquisa que o grupo
desenvolve com Flecha, centrada na busca da palavra bem dita e de um
trabalho físico que expresse o máximo com o mínimo'', diz Tony
Silva. ''A grande questão do texto é como lidar com a falta, a
ausência, a carestia no sertão nordestino'', afirma Flecha. O
diretor enfatiza que a montagem se realiza na chave ''existencial''
e busca fugir da visão estereotipada da tragédia nordestina tratada
muitas vezes de forma glamourosa ou cômica. ''É profundamente
doloroso não ter água ou comida e essa vivência tentamos tratar na
sua essência, sem efeitos, sem enfeites para tornar degustável para
o público. Meu trabalho com os atores é eliminar muletas para buscar
a expressão visceral, porém seca, crua.''
Com 250 mil habitantes, situada a 277 km de Natal, Mossoró tem
movimento teatral singular. A cidade realiza três grandes
espetáculos anuais ao ar livre, entre eles o Auto da Liberdade -
narrativa de feitos locais como a abolição dos escravos antes da Lei
Áurea - já dirigido por Amir Haddad, Gabriel Villela, Fernando
Bicudo, Marcelino Freire e Marcelo Flecha. Daí o convite para
dirigir a Cia. Máscara, o que só foi possível graças ao apoio do
Prêmio Fomento, da prefeitura, que se assemelha ao Programa
Municipal de Fomento ao Teatro de São Paulo. ''Por que a iniciativa
privada apoiaria um trabalho que leva tempo para fazer e poucos
vêem? Mais fácil investir num show de forró feito em três dias que
chama atenção da imprensa. Pensar a longo prazo tem de ser papel do
poder público.''
(©
Estadão)
Festival de Teatro
traz Deus danado ao Recife
A
realidade do homem nordestino que convive com a seca, a fome e o descaso
público será encenada no espetáculo Deus danado, nesta quinta e
sexta-feira (12 e 13), às 20h, no Teatro do Armazém 14. A peça, que
integra o Festival de Teatro Brasileiro (FTB) – Cena Baiana, etapa
Pernambuco, tem texto do professor do Departamento de Teoria da Arte e
Expressão Artística da UFPE, João Denys, e direção da arte-educadora
baiana, Alda Valéria.
Deus danado dá destaque ao
homem sertanejo que migra para a cidade grande em busca de
sobrevivência, sonhando com um dia voltar e sobreviver de forma digna na
terra natal. Vencedor de 13 prêmios em diversas categorias de festivais
nacionais, o espetáculo é bastante influenciado pelo gesto (corpo-voz),
imagem e sensações, sendo rico de simbolismo e metáforas. A peça faz
parte da tetralogia do Seridó, que inclui A Pedra do Navio, Flores
D'américa e Os Pés Feridos D'américa.
SERVIÇO:
Deus danado
Quinta e sexta-feira (12 e 13), às 20h, no Teatro Armazém
Ingressos: R$ 5 (meia) e R$ 10
(inteira)
Censura: maiores de 12 anos
Tempo de duração – 70 minutos
Telefone: (81) 3082.4871
(©
JC Online)
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