José Teles
teles@jc.com.br
A
produção de discos de forró este ano foi modesta. CD agora é para
divulgação e vender em shows. É o caso do promocional Forró a arte
do abraço, de Santanna o Cantador (ambos em capas-envelopes).
Santanna O Cantador insiste no básico, zabumba, sanfona, triângulo
(sanfonas pilotadas por Arlindo dos Oito Baixos, Beto Hortiz e
Cezinha). O CD quase inteiro é de xotes, a maioria de letras
românticas. Alguns com citações de poetas, como Maximiano Campos (o
próprio nome do CD é uma paráfrase a um verso de Vinicius de
Moraes).
Carismático, Santanna conquistou seu nicho no forró do Nordeste.
Florbela, um xote de Rangel Júnior, é o seu sucesso este ano, porém,
como em outros discos seus, o forte são regravações. Aqui estão O
xamego da Guiomar (Luiz Gonzaga/Miguel Lima), Estrela miúda (João do
Vale/Luiz Vieira) , Rasgando o fole (Assisão ), O verbo “se”
(Accioly Neto).
Alcymar Monteiro, autodenominado O Rei do Forró, em Como antigamente
vol. 1 pode ser o mais tradicional, como em Rio Parnaíba (em dueto
com João Cláudio Moreno, imitador de Luiz Gonzaga), ou com metais e
um suingue que se aproxima das bandas de fuleiragem music, no
pot-pourri com Foi bom enquanto durou e Fogo e água (Gilvan Neves).
Alcymar foi dos poucos a lembrar Rosil Cavalcanti, falecido há 40
anos, (nos créditos grafado como “Rocil”), de quem canta Sebastiana.
Um dos mais talentosos forrozeiros da novíssima geração, Cezinha
estréia com Convidando a transbordar, um dos melhores CDs desta
safra. De influências bem apreendidas de Dominguinhos e Sivuca,
Cezinha faz um forró sofisticado, com harmonias elaboradas e sem
perder a simplicidade. Ele também aprendeu que forró não é só xote.
Tampouco sanfona, zabumba e triângulo. Em E aí seu Domingos, um
chorinho, ele acrescenta guitarras e percorre outros caminhos
harmônicos. Um disco que transcende totalmente o período junino.
Forró
também diferente é o de Isaac Sete Cordas, no CD Bafunga, com
violão, trombone e rabeca (de Maciel Salu), sanfona em apenas uma
faixa. Pena que ele não tenha ficado apenas no instrumental. Bom
músico, Isaac não é tão bom como cantor.
Na
linha do forró com intenção rock é o que continua fazendo a Chá de
Zabumba, no CD Sem regra, que se abrigaria facilmente na prateleira
da MPB. Climério & cia até se questionam na faixa Isso não é forró.
A banda deve ser a única do gênero que envereda pela crítica social
(na panfletária Escuta Zé Ninguém). O disco conta com várias
participações especiais, Santanna, Spok, Junior Black, Azulão,
Camarão, Herbert Lucena. O grupo fez um disco sofisticado, mas não
pretensioso, é a linha evolutiva do forró em ação.
As
Karolinas com K abrigam em sua música as diversas nuances do forró,
baião, xote, arrasta-pé, xaxado. O septeto cercou-se de talentosos
músicos da cena forrozeira e armou um repertório com composições
próprias e de conhecidos provedores de forrós da atualidade (abrindo
espaço para Accioly Neto, com Tingolingo). Mais um ponto: o grupo
não fica só na choradeira romântica, incursiona também pelo lúdico.
Uma curiosidade: Briga no forró, de Walmir Silva, é praticamente
Briga de artista, de Joci Batista, readaptada para 2008. Enquanto a
primeira acontece na Sala de Reboco, a segunda se passa numa pensão:
“Briga igual àquela/ninguém nunca viu/é a briga dos artistas/na
pensão de Dona Biu”.
Falamansa essencial é uma coletânea. Tato, o cantor e compositor,
cria algumas melodias medianamente interessantes, mais para o reggae
do que para o xote. O que a banda faz hoje é tão forró, quanto o
Jota Quest é soul. Pior do que isso, é quando nordestinos entram na
onda do Falamansa, o que é mais ou menos o que Geraldinho Lins faz.
O novato Bernardo Luiz, na capa do CD Forró sanfonado, se diz
“afilhado de Geraldinho Lins” e fez um disco com 18 forrós, bem
intencionado, porém sem o menor jeito para a empreitada.
Patrícia Cruz tem discos melhores do que Forró bem caprichadinho. A
rigor, nem se pode tratá-lo como disco de carreira, pela foto da
capa, feita de qualquer jeito, e as semitonadas, próprias de
apresentações ao vivo. Para quem estava na Sala de Reboco pode ter
sido um bom show, em disco é sofrível.
Como
grande parte do pessoal de sua geração, Ed Carlos foi fortemente
influenciado por Alceu Valença, o único Alceu que deu certo. Ed
Carlos está na estrada há anos, mas nunca marcou a música
pernambucana com um repertório seu. Sua discografia é muito
irregular. Ed Carlos canta Gonzagão é um projeto muito óbvio para um
forrozeiro (aliás, ninguém suporta mais forró em que o sobrenome
Gonzaga vira verbo).
O
repertório do CD foi escolhido em votação pelos ouvintes de um
programa de Ednaldo Santos, na Radio Jornal. Escolhido entre 50
composições. Com um ou outro arroubo vocal, Ed Carlos acerta neste
disco, de produção espartana, que o faz soar como gravação antiga (a
sanfona de Cezinha soa bem encorpada, como se usava em outros
tempos). Arlindo dos Oito Baixos e Santanna são os convidados. Ed
Carlos está longe de recriar a música de Gonzagão, mas não
compromete a obra de Lua. João Paulo ao vivo trilha sonora do DVD
traz o irmão de Alcymar Monteiro na linha do forró vale-tudo. Tanto
ele pode ir do pé-de-serra mais “roots” como de versão de hit
gringo, como faz aqui com Hotel California, da Eagles. Um repertório
que pode funcionar no palco, em disco é meio embaralhado.
Dona
do palco principal dos dois maiores São Joões do mundo, a Saia
Rodada, superbanda da fuleiragem music, vem de DVD. O grupo até
surpreende, pelo repertório light. Quer dizer, light para outros
hits, como Striptease, no qual a cantora fica apenas de calcinha no
palco. Uma música que está mais para teses sociológicas do que para
crítica musical.