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Gil faz carnaval com banda larga em Nova York

28/06/2008

 

 

Divulgação

Gilberto Gil em Nova Iorque
 

Espetáculo da turnê que promove seu novo CD no exterior põe o público para dançar em teatro da Times Square

Tonica Chagas

 
Começou pela infovia e terminou em forró a passagem por Nova York do novo show com que Gilberto Gil está fazendo turnê no exterior e que ele vai mostrar no Brasil a partir de agosto. Produzido para promover Banda Larga Cordel, primeiro disco autoral que ele lança depois de Quanta, de 1997, o show traz para o palco o Gil que defende a ''demografização'' digital com samba, reggae, rock, xote e baião.

Em março do ano passado, aproveitando suas férias de ministro da Cultura para divulgar o disco Gil Luminoso, ele havia passado pela cidade com um show intimista no Carnegie Hall, só na base do banquinho e violão. Desta vez, ele ocupou o Nokia Theater com os seis músicos da Broadband Band e um volume de som equivalente a carnaval baiano.

Para um público de mais de 2 mil pessoas - e quase o mesmo número de câmeras digitais e telefones celulares para registrar o espetáculo -, ele apresentou 5 das 16 músicas do novo disco. A aproximação da tecnologia de informação com a cultura tradicional brasileira, equação que marca Banda Larga Cordel, é coisa que Gil mistura há algum tempo. Já na abertura (anunciada pelo toque característico dos telefones Nokia, usado como sinal sonoro do teatro), ele mostrou com quantos gygabites se faz uma jangada em Pela Internet, seu samba de 1996. Para completar a introdução veio outro samba cibernético, o que deu nome ao novo disco. Banda Larga Cordel foi lançado digitalmente antes da versão em CD chegar ao mercado, na semana passada.

Dele Gil mostrou também sua interpretação de Formosa, de Vinícius de Moraes e Baden Powell, dançou com o engraçado Não Grude, Não e vociferou contra ''o bobs no cabelo da perua'' na marcação pesada de O Oco do Mundo. Como a maioria da platéia era formada por brasileiros - que reclamavam quando ele fazia comentários em inglês -, pediu ajuda dos conterrâneos para traduzir para o resto do público a sutileza na filosofia simples de Não Tenho Medo da Morte.

Misturando a língua pátria com a do Tio Sam, Gil deu um retrato cantado da ''big family'' do samba. Na controvérsia sobre onde nasceu o gênero musical brasileiro, puxou a origem para a Bahia, sua terra natal. ''A formação dos índios cariris em torno dos portugueses quando eles chegaram lá era uma roda de samba'', explicou. E a partir de Andar com Fé, a noite virou baile com samba de breque, xotes e baiões, de Chiclete com Banana a Mulher de Coronel. Ao ganhar de um fã um colar de contas azuis e brancas, as cores do Afoxé Filhos de Ghandi com o qual ele sai no carnaval baiano, Gil agradeceu em nagô e cantarolou um trecho da música do grupo.

Assim como tem na sua banda músicos que o acompanham há anos, ao lado de outros na mesma faixa etária de seus filhos (Arthur Maia no baixo, Alex Fonseca na bateria, Claudio Andrade nos teclados, Gustavo de Dalva na percussão, Sérgio Chiavazzolli e Bem Gil nas guitarras), com mais de quatro décadas de carreira, Gilberto Gil - que faz 66 anos exatamente hoje - chegou ao ponto de ter na platéia tanto casais cinqüentenários como os netos deles. Na parte final do show, o coro de grisalhos e adolescentes o acompanhou numa seleção de reggaes, a maioria do disco Kaya N''Gan Daya ao Vivo, de 2003, com que ele homenageou Bob Marley.

Palco e Extra 2 (O Rock do Segurança) fecharam as duas horas regulamentares do show, mas o bis esticou a festa por mais 22 minutos. Com Vamos Fugir, Esperando na Janela e Toda Menina Baiana, o teatro em plena Times Square lembrava a Praça Castro Alves, em Salvador. Como se estivesse atrás de um trio elétrico, o público foi com tudo no cordel da banda larga de Gil.

(© Estadão)


Gilberto Gil é 'banda de um homem só', diz 'NY Times'

RIO - Gilberto Gil é uma "banda de um homem só". Foi assim que o jornal americano "New York Times" definiu o músico e ministro da Cultura brasileiro, em uma matéria publicada nesta quinta-feira, que fala sobre o show que ele apresentou na noite da terça no Carnegie Hall, em Nova York.

O texto, intitulado "Sounds of Brazil and beyond, all in one man’s voice and guitar" (algo como "Sons do Brasil e além, tudo na voz e no violão de um homem"), explica que a apresentação fez parte da turnê do disco "Gil luminoso", lançado no Brasil em 1999, mas que só agora chegou aos Estados Unidos. "É um álbum adorável que se concentra em canções tranqüilas e filosóficas sobre o significado do tempo, da vida, da arte e da fé", escreve o jornalista Jon Pareles.

Pareles descreve Gil como um dos compositores que transformaram a música pop feita no Brasil durante o movimento Tropicália nos anos 60. O repórter ficou impressionado com a performance do músico, que se apresentou só com um violão: "Sozinho no palco (...), Gilberto Gil tinha uma banda fantasma em sua voz e em seus dedos. Ele cantou floreios de percussão, linhas de violoncelo, solos de saxofone e cantos de pássaros; os acordes que ele arrancou de seu violão se transformaram em harmonias, ondulações de som, a outra parte de um diálogo sem palavras, uma banda de rock ou uma bateria de escola de samba. De vez em quando, ele também assobia. (...) Sr. Gil não proclamou sua virtuosidade. Ela foi oferecida genialmente, como suas melodias e seus pensamentos nada didáticos sobte o amor e a mortalidade".

O lado político do cantor também foi lembrado na matéria: "Sr. Gil, que se tornou ministro da Cultura no Brasil em 2003, tem apoiado as artes locais desde as formas mais tradicionais ao hip-hop. Ele é sem dúvida o ministro mais talentoso musicalmente que se tem notícia".

No repertório, além de composições como "Tempo rei", “Máquina de ritmo”, “Expresso 2222” e “Metáfora”, Gil cantou músicas de amor, visões do Brasil e composições de Bob Marley, Blind Faith, Dorival Caymmi e do mexicano Agustín Lara, assim como “When I’m 64”, dos Beatles, que ele disse ter começado a apresentar nos shows depois de seu 64º aniversário, em junho passado.

(© O Globo)

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