Wagner Moura atua, traduz e produz em nova montagem de "Hamlet"
28/06/2008
Divulgação
Wagner Moura vive "Hamlet", de William
Shakespeare, em montagem que estréia no próximo dia 20
GUSTAVO MARTINS
Da Redação
Se existe algo do qual o ator Wagner Moura não pode ser acusado é de
não gostar de desafios: além de decidir interpretar o papel
principal de "Hamlet", um dos mais conhecidos e estudados do teatro,
ele assumiu a produção da montagem que estréia na próxima sexta (20)
no Teatro Faap, em São Paulo. Como se não bastasse, ele e os outros
nove atores da peça (que incluem dois colegas de "Tropa de Elite", o
"aspira" Caio Junqueira e Fabio Lago, o "Baiano") representarão uma
novíssima tradução do texto de William Shakespeare, feita pelo
próprio Moura com a ajuda da professora Barbara Harrington e revisão
final de Aderbal Freire-Filho, que dirige a montagem.
"Eu admiro muito os atores que conseguem gerir suas carreiras, até
hoje só tinha trabalhado para os outros", disse Moura durante
entrevista coletiva realizada na última terça (17). "Mas dessa vez
eu quis fazer isso não por capricho, mas por pura necessidade:
ninguém 'chama' você para representar Hamlet, então tive que fazê-lo
eu mesmo."
Nova tradução
"Hamlet" conta a famosa história do príncipe da Dinamarca que reluta
em vingar o assassinato do pai, orquestrado por seu tio Cláudio. Em
dúvida se deve acreditar no fantasma do rei, que lhe diz para matar
o tio, Hamlet decide comprovar a culpa de Cláudio montando uma peça
em que é encenado um assassinato semelhante - baseado na reação do
tio, ele decidirá se o mata ou não. Escrita na virada do século 16
para o 17, é a peça mais longa de William Shakespeare e contém a
clássica cena do questionamento de Hamlet sobre a mortalidade: "Ser
ou não ser, eis a questão".
Tanto Wagner Moura quanto Aderbal Freire-Filho concordaram que era
necessário "trazer o texto para mais perto do presente", ainda que
isso não significasse modificar o original. "A nossa versão é
fidelíssima, mas fidelíssima a Shakespeare, não às traduções para o
português do século 18, que tornaram as falas muito rebuscadas",
explica o diretor. "Nossa intenção não foi 'coloquializar' o texto,
a poesia está toda lá, mas é uma poesia da simplicidade, como no
original." Wagner Moura completa: "É um texto para ser falado, mais
do que lido; com Shakespeare também foi assim, ele escreveu primeiro
para o teatro, depois tornou-se um cânone literário".
Ser ou não ser acessível
Mais do que a nova tradução, a simplicidade e a
"capacidade de comunicar" são apontadas por Wagner Moura e Aderbal
Freire-Filho como os diferenciais que procuraram imprimir a este
"Hamlet". O cenário é enxuto, com pouquíssimos objetos de cena e
eventuais intervenções de vídeo, e em cada lado há uma coxia cênica, o
que mantém os atores no palco todo o tempo. Os figurinos, criados por
Marcelo Pies, misturam elementos de época com atualidade, colocando a
história em um lugar indefinido no tempo.
"Domingo passado nós fizemos uma primeira apresentação para estudantes
de teatro, para quebrar o gelo, e um garoto chegou pra mim e disse que
pela primeira vez tinha entendido o que era esse tal 'ser ou não ser'",
disse o diretor, rindo. "Respirei aliviado! Realmente nossa intenção é
que todas as falas sejam apresentadas naturalmente, não como uma aula de
literatura."
Um ano de Hamlet
O trabalho de Wagner Moura em
"Hamlet" começou em outubro de 2007, quando decidiu levantar recursos
para a peça ao lado do produtor Sérgio Martins. Aderbal Freire-Filho,
que havia dirigido "Dilúvio em Tempos de Seca" em 2004 (último trabalho
de Moura no teatro antes de "Hamlet"), interessou-se em dirigir a
empreitada, e o elenco foi escalado na base da confiança - parte dos
atores faz parte da mesma geração de teatro de Salvador na qual Wagner
Moura se formou, outros já trabalhavam com o diretor em projetos
anteriores.
Wagner
Moura (Hamlet) e Caio Junqueira (Horácio) em cena da
montagem
Em janeiro começaram os trabalhos de
tradução, e em fevereiro os primeiros ensaios no Galpão Solar, no Rio de
Janeiro. "O que não quer dizer que traduzimos tudo em um mês", explica o
diretor. "Na primeira leitura, demos uma tradução diferente para cada
ator, só fomos ter um ato pronto dali a quinze dias, e assim fomos."
Embora a temporada anunciada encerre em 28 de setembro, a previsão é que
a peça fique em cartaz no Teatro Faap, em São Paulo, até novembro de
2008. A escolha da cidade para a estréia, segundo Wagner Moura, foi pelo
fato que "em São Paulo, existe uma relação real com o público nesse tipo
de teatro, coisa que no Rio de Janeiro já não acontece tanto, você fica
restrito a um nicho". "Hamlet" deve ir para a capital fluminense em
2009, mas ainda não há data nem local acertados.
Todo o processo de criação da peça - que incluiu também o músico Rodrigo
Amarante, da banda Los Hermanos, responsável pela trilha sonora - foi
registrado por Sandra Delgado, mulher de Wagner Moura, e será
transformado em um documentário. "Além Hamlet", uma versão de 46 minutos
do material captado até agora, será exibida no dia 4 de julho no canal
por assinatura Multishow.
"Hamlet", de William Shakespeare Elenco: Wagner Moura, Tonico Pereira, Carla Ribas, Georgiana
Góes, Caio Junqueira, Cláudio Mendes, Fábio Lago, Felipe Koury, Gillray
Coutinho e Marcelo Flores Direção: Aderbal Freire-Filho Onde: Teatro Faap - r. Alagoas, 903, Higienópolis, São Paulo Quando: de 20 de junho a 28 de setembro, sextas e sábados às 20h
e domingos às 18h Quanto: R$ 80 Duração: 170 minutos (com intervalo)